
A despeito da briga para tentar antecipar a queda da taxa de juros pelo Banco Central, o governo já vê no horizonte essa janela se abrindo. A justificativa está ancorada em cenários internos projetados pela área econômica que indicam uma sequência de dados favoráveis dos índices de preços. O resultado se aplicaria tanto no IPCA de abril como nos próximos.
A convicção é tão grande que acabou sendo explicitada pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, em um ‘ato falho’ durante uma audiência pública no Congresso. Ela deu a entender que tinha os dados do IPCA de abril, que só serão divulgados na próxima sexta-feira. Ao ser alertada, teve de explicar que estava falando de cenários, do mercado e do governo.
Segundo o JOTA apurou, a ministra se referia a um cenário em que o IPCA deve atingir a mínima em 12 meses em breve. Embora o BC olhe sempre para frente, a queda da inflação corrente favorece um cenário de flexibilização monetária em um futuro mais próximo, já que as projeções têm grande impacto dos dados atuais.
Na ata divulgada nessa terça-feira (9/5), o próprio Copom antecipou que o cenário inflacionário deve ser bastante positivo no segundo trimestre, acelerando na metade final do ano, mas sem mudar a trajetória de desinflação lenta vista pela autoridade monetária. O BC também chama a atenção para a queda da inflação no atacado, uma espécie de antecedente para os preços ao consumidor.
Explicitamente, porém, a autoridade monetária não deu nenhum sinal de quando pretende retomar os cortes na taxa Selic. Ainda assim, no Ministério da Fazenda, esse cenário melhor da inflação corrente, no varejo e no atacado, também é visto como algo que deve empurrar o BC para fazer o que Lula tanto sonha. Nesse sentido, fontes do governo apostam que o BC não terá como escapar da medida no segundo semestre, em agosto ou setembro, independentemente da escolha de Gabriel Galípolo para a diretoria de política monetária.
Na visão do Executivo, o nome do atual secretário-executivo do ministério da Fazenda evidentemente ajudará a refrescar as discussões e a desfazer o monolítico pensamento do atual BC, que hoje raramente tem dissensos, mas a trajetória dos juros deve ser de queda ao longo da segunda metade do ano, mesmo que ele não estivesse por lá.
A questão que fica é como o governo vai reagir, caso, mesmo com surpresas positivas e com as novidades na diretoria colegiada, o BC não entregar corte de juros. Até lá, há terreno a ser construído na via política.
Isso porque a chegada de Galípolo ao BC vai reforçar uma nova rota na interlocução da autoridade monetária com lideranças partidárias. Esse caminho vem rendendo ao atual presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, o poder de influenciar o desenho final de importantes discussões econômicas debatidas no Congresso.
Isso significa que, no curto prazo, os dois podem seguir trabalhando para que deputados e senadores ofereçam ao BC argumentos que ajudem na narrativa de corte de juros. Um exemplo é o marco fiscal, com ‘enforcements’ que devem ser introduzidos no parecer do deputado Claudio Cajado (PP-BA), previsto para ser apresentado amanhã. Ao declarar que a principal ‘reforma’ do Congresso é brigar para não retroceder no que já foi aprovado na agenda liberal, Arthur Lira demonstra que está disposto a colaborar.