Antes lidos — sob o ponto de vista político — como uma oportunidade para Lula alargar os índices de popularidade em meio à polarização, os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro se tornaram agora um problema para o governo no horizonte da relação com o Congresso.
A percepção majoritária entre lideranças partidárias é a de que o governo perdeu o controle da narrativa em relação aos ataques, situação que se agravou depois da divulgação das imagens que levaram à demissão do então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias.
Enquanto o Planalto debatia a crise que culminou na primeira troca ministerial, todas as comissões na Câmara foram obstruídas por falta de quórum, uma estratégia de pressão pela instalação de uma CPMI sobre o tema. O mesmo cenário se repetiu na sessão do Senado, puxado por siglas do centrão.
Lula ouviu o prognóstico de lideranças do governo de que era preciso mudar a estratégia sobre a abertura de investigação pretendida pela oposição, considerada por essas fontes como algo irreversível. Depois de debater o assunto no gabinete presidencial, o deputado José Guimarães, líder do governo na Câmara, anunciou que a bancada do PT pretende adotar uma postura proativa nos desdobramentos de uma eventual CPI.
Em paralelo ao movimento, é esperada nas próximas horas a adesão de nomes de partidos como MDB, PSD e Republicanos ao requerimento com o pedido de instalação. A leitura feita no bastidor é de que o cenário adverso ao governo pode oferecer uma nova oportunidade de reorganização da errática articulação política conduzida pelo Planalto até aqui. Isso porque parte da dificuldade na reversão de assinaturas é atribuída à lentidão do governo nas negociações com parlamentares, tanto em cargos como em volume de recursos via emendas.
Se não conseguir frear a instalação, a estratégia traçada pelos partidos é assumir o controle de um eventual colegiado, de forma a devolver ao governo o domínio da narrativa sobre os atos golpistas.
De certo, vem se consolidando a percepção de que o governo desperdiçou o primeiro semestre, enfrentando dificuldades não só para frear a CPMI, como também para obter consenso mínimo para a aprovação de medidas provisórias que começam a caducar em junho. A exceção ao pessimismo do mundo político em Brasília é apenas o marco fiscal, com um cenário de aprovação previsto para o mês que vem.
O prognóstico de letargia legislativa foi admitido pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, em evento na Casa JOTA.
“É nosso dever como governo focar no principal, não sobrecarregar muito a agenda de controvérsias porque já temos uma tendência muito forte a paralisação do processo deliberativo. Frente ampla não é uma frase só para ganhar a eleição. É uma receita de sobrevivência em conjunturas de extremismo”, disse.