

Na queda de braço principalmente com o Supremo Tribunal Federal (STF), o governo Bolsonaro e seus apoiadores têm apostado todas as fichas nas manifestações do dia 7 de Setembro. Jair Bolsonaro já disse que deve comparecer pessoalmente e discursar no ato de Brasília.
As manifestações servirão como um termômetro dos desdobramentos da crise institucional. O time de analistas do JOTA preparou uma lista sobre o que os tomadores de decisão devem prestar atenção para entender o que vem pela frente depois de mais esse movimento turbinado pelo presidente.
1) As investigações não param: As articulações para tornar o 7 de setembro um movimento em favor de Bolsonaro – na sua disputa contra as instituições – podem nutrir de novos elementos e personagens os inquéritos abertos no Supremo e sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. Hoje, qualquer grande articulação contra o STF ou o Congresso, como ocorreu no caso dos caminhoneiros, estará potencialmente sob a mira da Corte, da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal.
2) Campanha antecipada em foco: O Tribunal Superior Eleitoral julgou, na semana passada, um caso que indica uma mudança na jurisprudência do TSE sobre punição a campanhas antecipadas. Se antes exigia-se um pedido expresso por voto, o tribunal passou a ser mais rígido nos casos em que um pré-candidato usa expressões mais vagas, mas que sugeririam pedido de voto. Bolsonaro já enfrenta processo no TSE por ter, em evento oficial, segurado uma faixa com a expressão “Bolsonaro 2022”. E eventual manifestação no dia 7 de setembro poderá ser usada por adversários para mais uma acusação na Justiça Eleitoral, aumentando as rusgas entre poderes.
3) As redes sociais e o 7 de Setembro: Levantamento feito por Daniel Marcelino, do JOTA Labs, mostra que, até o último fim de semana, as hashtags #STFRompeuADemocracia e #AceitaPacheco eram bastante utilizadas em tuítes de ataque ao STF. Porém, desde a segunda-feira, o que mais apareceu nas redes foi a hashtag #Dia07VaiSerGIGANTE de convocação para as manifestações. As redes sociais e o whatsapp estão sendo usados para tentar atrair gente para o evento.
4) O próximo pedido: Com o arquivamento do pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, tenta tirar o assunto da pauta das manifestações de 7 de setembro. Mas o STF e o TSE não deixarão de ser alvo preferencial de Bolsonaro – até as eleições de 2022. Diante disso e da necessidade de manter sua militância ativa, Bolsonaro desistirá, de fato, de pedir o impeachment do ministro Luís Roberto Barroso? Ou qual será a nova estratégia para fustigar o STF?
5) A aprovação de Bolsonaro vai cair mais? De acordo com o modelo proprietário do JOTA para agregar pesquisas, a avaliação negativa de Bolsonaro (ruim e péssimo) tem subido e hoje está na casa dos 53%. Mas a avaliação positiva tem se mantido mais estável, hoje na casa dos 26%. Para os próximos 15 dias, a previsão do modelo é de que a avaliação positiva fique entre 22% e 28%, não caindo para baixo dos 20%. Bolsonaro radicaliza o discurso na tentativa de manter uma base mais fiel. Com números de aprovação estagnados nesse patamar, ele deve continuar a postura de confronto para tentar manter esse apoio, mesmo que a avaliação negativa suba. Se quiser saber mais dessas predições, assista ao novo Risco Calculado.
6) O fator Lula: Outro modelo de agregação de intenções de votos (ainda em fase de preparação pela equipe do JOTA) indica que Bolsonaro tem 28% de intenção de votos, com intervalo de credibilidade entre 26,5% e 30%. Já Lula acumula 40% das intenções de voto, com o intervalo, Lula tem entre 38% e 43%. O JOTA confia nos modelos para prever de forma mais precisa a situação eleitoral. Ou seja, a distância entre Lula e Bolsonaro está entre 16,5 pontos e 8 pontos.
7) Chances de prisão? Como mostrou Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA, em sua análise diária para clientes JOTA PRO, Bolsonaro disse aos filhos que se a manifestação de 7 de setembro não for grande, um deles poderá ser preso. Segundo aliados, esse é o discurso que tem sido feito entre os apoiadores do presidente.
8) Rebelião das polícias estaduais: Nos últimos dias, assistimos a uma série de manifestações de oficiais de alta patente de diferentes polícias estaduais. Há aqueles que defendem abertamente a presença de policiais nos atos, enquanto outros dizem que as PMs não podem ser contaminadas por atos políticos. Basta lembrar que muitos dos presos na invasão do Capitólio, nos EUA, eram de forças de seguranças estaduais. Estudos mostram que policiais são comumente usados como milícias em ataques a instituições democráticas. O 7 de Setembro servirá como uma demonstração se essa ameaça é real.
9) As Forças Armadas vão embarcar? Embora o presidente e seu ministro da Defesa insistam na pregação política às tropas, solenidades recentes das Forças Armadas (como as alusivas ao Dia do Soldado) mostraram que há uma distância entre o desejo do Planalto e a conduta dos comandos, que falam em “estabilidade” e “pacificação”. Oficiais da ativa e da reserva alertam Bolsonaro sobre a divisão nas bases quanto à adesão a eventual “ruptura institucional”. Resta saber se o presidente vai assumir o risco ou ficará no campo retórico até a eleição.
10) Follow the money: Decisão do TSE determinou às plataformas de redes sociais que desmonetizem perfis que espalham notícias falsas sobre a legitimidade do processo eleitoral e ataquem a regularidade das urnas eletrônicas. Como estas serão bandeiras da manifestação, será possível ver a decisão da Justiça Eleitoral atingindo outras páginas e perfis na internet e entender se o sufocamento financeiro surtirá efeito mais imediato.
11) O fator Aras: O procurador-geral da República, Augusto Aras, disse nesta semana ao Senado que o deputado Daniel Silveira e o cantor Sérgio Reis fizeram ameaças ao STF. Não estavam, na visão deles, resguardados pela proteção constitucional à liberdade de expressão. Aras pode atuar, como atuou nesses dois casos, a partir dos acontecimentos de 7 de setembro, o que tiraria de Bolsonaro o discurso de perseguido por Alexandre de Moraes. Com sua recondução assegurada no Senado, o PGR dependerá menos de Bolsonaro e pode pensar em seu nome mais do que na necessidade de recondução.
12) O timing do centrão: Hoje instalado no coração do poder, o bloco que dá sustentação ao governo no Legislativo, começa a precificar o cenário nebuloso da economia para o ano eleitoral. Cobiçando mais cargos em eventual nova reforma ministerial, os líderes do grupo entendem que o mês de junho é o “limite” para a decisão sobre embarque na aliança de reeleição. Importante lembrar que nos últimos 30 dias o índice de apoio da Câmara ao governo, medido pelo JOTA, está em 67,5%, o mais baixo já registrado desde 2019, mas PL, Republicanos e PP mantém alto apoio. Ou seja, a centrão-dependência está maior. A depender do que ocorrer no 7 de Setembro esse índice poderá subir ou descer.