Risco Político

Em busca de protagonismo, Pacheco abraça cruzada do governo contra os juros altos

Na cadeira que efetivamente pode provocar constrangimentos ao BC, o presidente do Senado reforça a agenda de Lula e Haddad

Rodrigo Pacheco
Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco | Crédito: Pedro Gontijo/Senado Federal

Sem protagonismo em um momento de pautas com pouca relevância no Senado e de relação ruim com o presidente da Câmara, Arthur Lira, Rodrigo Pacheco decidiu apostar na cruzada do governo pela queda dos juros na tentativa de alavancar sua posição no xadrez político.

No fim da semana passada, em evento no exterior, o presidente do Senado investiu em uma fala dura, apontando até riscos para a autonomia do Banco Central, aprovada em sua gestão. Nesta semana, fez o chefe da autoridade monetária ir duas vezes à Câmara Alta para falar sobre juros.

Depois de ter comparecido à audiência pública rotineira da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) na terça-feira (25/4), Campos Neto teve que, apenas dois dias depois, voltar a explicar as decisões sobre os juros para todo o Senado, em uma audiência no Plenário da Casa, na qual ouviu novas críticas ao nível da Selic por parte dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), além das cobranças do próprio Pacheco, que articulou um evento que ocorre com rara frequência no salão azul do Parlamento.

Objetivamente, o seminário pouco ou nada muda a situação atual em torno dos juros. E Campos Neto seguiu com um discurso que claramente não é o que espera o governo, sem sinalizações de queda no curtíssimo prazo e enfatizando questões como a queda da inflação em ritmo mais lento do que o BC gostaria de ver, ainda que haja elogios ao empenho fiscal demonstrado por Haddad e companhia.

A entrada de Pacheco no tema, contudo, tem várias implicações. Uma delas, como o próprio presidente Lula já lembrou este ano, é o fato de que é do Senado a prerrogativa de tomar providências contra Campos Neto. Pacheco, nesse caso, é o dono da pauta. Significa que algo será feito? Não necessariamente e parece pouco provável, mas a pressão política do chefe dos senadores é mais relevante do que a de qualquer outro parlamentar.

A fala de Pacheco na semana passada, aliás, foi particularmente forte: “Há um sentimento geral hoje, que obviamente depende de uma base empírica, técnica, mas também de uma sensibilidade política, de que nós precisamos encontrar os caminhos para uma redução imediata da taxa de juros no Brasil, sob pena de sacrificarmos todo esse trabalho que temos feito ao longo do tempo no Brasil, todos esses marcos legislativos, esse ambiente de busca de segurança para investimentos no Brasil”, disse. Falar de “sacrificar” o trabalho legislativo, do qual a autonomia é uma das mais importantes medidas, não é pouca coisa.

Além disso, o movimento de Pacheco faz um gesto ao Planalto, em um momento particularmente tumultuado no Congresso. Indica que de um lado ele se alinha à agenda econômica de Lula, mas se distancia da agenda política, no que tange a temas como a CPI do 8 de janeiro, criada por uma das recorrentes trapalhadas da articulação política.

Ao apertar o cerco contra Campos Neto, o presidente do Senado também marca uma nova distância com Arthur Lira, que costuma ouvir com atenção os conselhos de Campos Neto no desfecho de discussões econômicas.

Se o Congresso nada pretende fazer a respeito da autonomia da autoridade monetária, é o Senado quem aponta na direção política que abastece a narrativa do governo interessada em terceirizar no patamar de juros a responsabilidade por resultado econômicos tímidos.