

A economia será o fator definidor do primeiro turno da eleição presidencial. É o diagnóstico convergente entre as campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL), que tendem a levar para o centro do ringue eleitoral assuntos como emprego, renda e custo de vida.
Baseados nas mais recentes pesquisas qualitativas e quantitativas produzidas internamente, petistas e bolsonaristas preveem que o embate ideológico ficará para uma eventual segunda fase do pleito, para a qual se desenha uma renhida competição de rejeições.
A partir de tal constatação, começam a ganhar forma os projetos de cada postulante para persuadir corações e mentes dos brasileiros até outubro, tendo como foco o combate à inflação.
Lula, no conforto da liderança da corrida sucessória, vai apostar no 0 a 0. Se tudo ficar como está, o ex-presidente tem grandes chances de chegar a 2 de outubro como favorito.
Por isso, seu esboço de plano de governo, vazado nesta segunda-feira (6/6), é um compêndio de ideias que ele vem ventilando a conta-gotas nos discursos que faz desde que foi reabilitado pelo TSE a concorrer ao Planalto, em abril de 2021.
Na seara econômica, trata-se de uma reedição da cartilha da esquerda. Revogação do teto de gastos, fim das privatizações, taxação de fortunas e revisão de reformas. Mais investimento público e menos austeridade fiscal.
Trata-se de uma peça de campanha cujo mantra é “colocar o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda”.
O documento, que ainda é embrionário, não dialoga com a expectativa de “moderação” na candidatura lulista, o que explica os motivos pelos quais economistas menos heterodoxos, como Pérsio Arida, vêm mantendo as conversas discretas com a campanha do PT e evitam assumir compromissos com a formulação macroeconômica lulista.
Agora vai?
No QG de Bolsonaro, após semanas de alta tensão e muita pressão sobre Paulo Guedes, há um clima de alívio com a sinalização de que uma saída para a crise dos combustíveis sairá do papel nos próximos dias. O bilionário “puxadinho” em gestação no governo, com anuência do Legislativo, é visto como um divisor de águas na campanha eleitoral.
Aliados do centrão que lideram a articulação bolsonarista entendem que, se for bem-sucedido na empreitada para conter a escalada dos preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, o presidente volta a ter condições de competir contra Lula. De quebra, o arranjo para reduzir os valores cobrados nas bombas recolocaria Guedes no páreo para seguir à frente da pasta em um eventual segundo mandato.
Embora estejam em permanente estado de guerra, o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o ministro da Economia têm interesses em comum e provavelmente deixarão de lado as diferenças para viabilizar o pacote eleitoral pró-Bolsonaro. O mesmo se aplica ao chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, que divide com Guedes as chaves do orçamento.
A ofensiva populista do Executivo busca ainda reduzir a vantagem do rival na região Nordeste com a massificação das mudanças nos programas sociais, em especial a repaginação do Auxílio Brasil como substituto turbinado do Bolsa Família. A nova aposta de Bolsonaro é a troca da identidade visual dos cartões do programa, que leva R$ 400 a quase 20 milhões de famílias carentes.
“Teto de votos”
Enquanto Lula e Bolsonaro trabalham nos protocolos do pragmatismo político e do populismo, caberá à chamada “terceira via” a defesa ostensiva do receituário liberal para a economia, com uma agenda sedutora para o empresariado e o sistema financeiro e de baixíssima aderência popular.
É nesse universo paralelo que atuam estrategistas de Simone Tebet, nome do MDB para a disputa.
Apostando nas alianças institucionais que Tebet precisa fechar para se instalar no xadrez eleitoral até julho, esses conselheiros querem transformá-la na opção centrista com plataforma mais simpática aos formadores de opinião do PIB brasileiro.
É esperado que essa pauta encante parcela dos eleitores que hesitam em abraçar a polarização de imediato, mas improvável que conquiste os votos necessários para guindar uma candidatura com tal figurino ao segundo turno.