Com a perspectiva de um segundo turno mais apertado que as previsões iniciais das duas campanhas, a economia tende a assumir papel central na agenda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) no percurso de ambos para a obtenção da maioria dos votos válidos dia 30.
Líder no primeiro turno, o petista será pressionado a antecipar com mais detalhes seu programa econômico e até a anunciar alguns dos integrantes de sua futura equipe, caso eleito para o terceiro mandato.
O ex-presidente vinha se mostrando refratário a falar das diretrizes de seu governo na área econômica antes do resultado final da eleição e procurou, na semana derradeira da primeira fase, dobrar a aposta nas dúvidas. Em jantar com empresários, Lula evitou se comprometer com medidas e nomes e deixou frustrada a plateia formada por segmento substantivo do PIB nacional.
Embora os principais dirigentes do PT venham refutando a hipótese de uma “guinada” mais acentuada de Lula ao centro político, acatando demandas do mercado e do sistema financeiro por mais responsabilidade fiscal, a tendência observada no núcleo eleitoral lulista é a de que “os fatos vão se impor”.
Aliados do ex-presidente admitem que, a depender das primeiras pesquisas e das dificuldades para fechamento de acordos com partidos para expandir a base de apoio, Lula deverá sinalizar algumas concessões, sobretudo na seara fiscal.
As resistências, contudo, são significativas entre setores mais heterodoxos da QG petista. Há preocupação com a perda de apoio na base social da esquerda, em especial no eleitorado de menor renda, caso seja anunciado algum plano de ajuste e controle de gastos antes do desfecho das urnas.
A primeira mesa em que Lula apareceu para falar da estratégia do segundo turno chamou a atenção pela presença de Dilma Rousseff, o que gerou incômodo na ala mais “moderada” da aliança.
“Menos Dilma e mais Alckmin. É isso que vai nos ajudar. Não ajuda a exposição da ex-presidente, que estava discreta até agora”, afirma uma fonte petista ao JOTA.
Como componente extra, as tratativas em torno do apoio de Ciro Gomes podem custar a Lula a promessa de incorporar algumas pautas do pedetista, como a proposta de zerar as dívidas do SPC.
Quem dá mais
Na campanha de Bolsonaro, a prioridade na agenda econômica foi ditada pelo presidente, ao reconhecer que precisa se comunicar com uma parcela importante do eleitorado mais carente, que demanda “mudanças”. A ideia dos bolsonaristas é levar os indicadores de emprego, renda e preços para potencializar a percepção de melhora nas condições de vida da população nos últimos meses. E, diante das comparações com o PT, explorar o risco de piora no quadro econômico caso Lula volte ao poder.
“O que precisamos é mostrar para o conjunto do eleitorado que o Brasil não pode virar uma Argentina, uma Venezuela. A esquerda tem levado nossos vizinhos ao colapso. É esse o diálogo que temos que fazer”, afirma um integrante do QG bolsonarista ao JOTA.
Em outra frente, a intenção do governo é usar todas as ferramentas disponíveis para reduzir a margem de Lula sobre Bolsonaro nas camadas mais pobres do eleitorado. Estão programados pagamentos antecipados do Auxílio Brasil e do vale-gás para antes do dia 30. Também se discute no Planalto a ideia de incluir no programa de governo um aditivo prevendo a concessão de um décimo terceiro salário para mulheres que recebem o auxílio, hoje na casa dos R$ 600, mas cuja extensão no próximo mandato depende de disponibilidade de recursos orçamentários.
Quem tende a recuperar protagonismo na construção da narrativa econômica do segundo turno é a dupla formada por Paulo Guedes, ministro da Economia, e Adolfo Sachsida, titular das Minas e Energia. Bolsonaro ouviu os dois no final de semana, sob recomendação do filho Flávio, e encomendou um “empacotamento” de dados recentes da chamada “agenda positiva” a fim de apresentar ao núcleo político, chefiado pelo centrão.