Fabio Graner
Analista-chefe e de economia do JOTA. Foi repórter e colunista de economia no Valor Econômico e também atuou no Estadão, DCI e Gazeta Mercantil, com mais de 20 anos de experiência, incluindo setor público. E-mail: fabio.graner@jota.info

Depois das críticas do ministro Fernando Haddad à decisão e ao comunicado da semana passada, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central faz um afago ao ministério da Fazenda. Mas, sem dar qualquer sinal de que os juros podem cair proximamente, o gesto tem poucas chances de mudar o mau humor do governo de forma geral – ainda que possa agradar Haddad e sua busca constante por parecer amigável ao mercado.
“O Comitê avalia que o compromisso com a execução do pacote fiscal demonstrado pelo Ministério da Fazenda, e já identificado nas estatísticas fiscais e na reoneração dos combustíveis, atenua os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação no curto prazo”, diz o documento divulgado na manhã de hoje.
O texto também destaca que a autoridade monetária está de olho no arcabouço fiscal. “O Comitê destaca que a materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia e o prêmio de risco associado aos ativos domésticos”, afirma o texto.
O BC demonstra preocupação com a retomada do papel dos bancos públicos e o possível uso de subsídios ao crédito. Embora a proposta do BNDES para mudar a TLP, apresentada ao ministério da Fazenda, contemple que ela continuará sensível às taxas de mercado, o Copom aponta sua inquietação, ao mencionar políticas “parafiscais expansionistas”.
“Ao avaliar os fatores que poderiam levar à materialização de cenário alternativo caracterizado por uma taxa de juros neutra mais elevada, enfatizou-se a possível adoção de políticas parafiscais expansionistas, que têm o potencial de elevar a taxa neutra e diminuir a potência da política monetária, como já observado em comunicações anteriores do Comitê”, diz o texto.
Roberto Campos Neto e seu time também chamam atenção para o problema da piora das expectativas de inflação e destacam que a discussão sobre mexer nas metas, o que vem ocorrendo desde janeiro, tem afetado esse canal, piorando o cenário inflacionário. Nesse sentido, eles cobram decisões que produzam “reancoragem de expectativas”, embora, em seu habitual tom hermético de oráculo, não expliquem o que exatamente faria isso acontecer.
“As expectativas de inflação seguiram um processo de desancoragem, em parte relacionado ao questionamento sobre uma possível alteração das metas de inflação futuras. O Comitê avalia que a credibilidade das metas perseguidas é um ingrediente fundamental do regime de metas de inflação e contribui para o bom funcionamento do canal de expectativas, tornando a desinflação mais veloz e menos custosa. Nesse sentido, decisões que induzam uma reancoragem das expectativas reduziriam o custo desinflacionário e as incertezas associados a esse processo”, diz o colegiado do BC.
A ata não deixa de abordar a forte deterioração do cenário econômico internacional e os problemas no mercado de crédito brasileiro, mas adota tom de tranquilidade sobre a situação e seus impactos no Brasil.
Com a inflação e as expectativas ainda bastante elevadas, o BC deixou para o último parágrafo a mensagem de que mantém o dedo no gatilho para, se considerar que é o caso, subir os juros. E essa a mensagem que mais incomoda o governo e que, a rigor, faz pouco sentido dado o nível de juros reais no país. A queda de braço vai continuar.