Concluída a maratona de posses, o Planalto pretende usar a primeira reunião ministerial, convocada para sexta-feira (6/1), para dar mais unidade à estratégia de comunicação dos titulares das 37 pastas, criando uma dinâmica transversal para divulgação das principais mensagens do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Episódios em que houve divergências públicas entre ministros para anúncios de medidas e definição das prioridades do Executivo para a nova gestão incomodaram o núcleo-duro lulista, que identificou a necessidade de agir com urgência para conter crises que seriam “desnecessárias” e, em sua maioria, fruto da configuração heterogênea da Esplanada.
A coordenação das ações estratégicas ficará a cargo da Casa Civil, que montou um time híbrido, com técnicos e políticos para articulação e monitoramento de programas interdisciplinares.
O titular da pasta, Rui Costa (PT), ex-governador da Bahia, recebeu a incumbência de resolver arestas e passar os recados públicos que representam o pensamento predominante no Planalto.
Costa foi obrigado a entrar em ação como bombeiro duas vezes num intervalo de dois dias. Primeiro, determinou a revogação de uma MP que criava dúvidas sobre as responsabilidades de fiscalização do marco do saneamento. Ela vinha sendo defendida pela equipe do Meio Ambiente e das Cidades e causou apreensão no setor privado.
Em seguida, procurou a imprensa para desmentir o colega Carlos Lupi (PDT), ministro da Previdência, que usou sua posse para defender a revisão da reforma previdenciária — tema que, segundo o chefe da Casa Civil, não está no horizonte de Lula.
A avaliação interna no governo é a de que os novos ministros, muitos deles representantes de segmentos ideológicos considerados importantes para o PT na campanha eleitoral, estão vocalizando suas próprias agendas, sem que essa pauta tenha sido totalmente avalizada pela Presidência da República.
Além dos dois casos em que a Casa Civil interveio, chamou a atenção dos interlocutores de Lula o desgaste causado com o anúncio do ministro Luiz Marinho (Trabalho) de que haverá a suspensão do pagamento do saque-aniversário do FGTS, que vinha beneficiando cerca de 30 milhões de pessoas.
O desconforto ocorre porque o núcleo político de Lula considerou acertada a decisão de estender os subsídios aos combustíveis, evitando uma súbita elevação no preço da gasolina e do diesel, exatamente para poupar o presidente de uma possível perda de popularidade no início do novo mandato.
“O norte das ações do governo não é a política, mas o interesse da população. Toda medida que cause prejuízo ao trabalhador será examinada e avaliada. Não se trata de buscar popularidade, mas de colocar o governo a serviço de quem realmente precisa”, afirma ao JOTA uma fonte que participa das discussões.
Muito barulho por nada
O governo enxerga como “naturais” os ruídos de comunicação da primeira semana útil de trabalhos, pois coloca na conta dos discursos exaltados de transmissão de cargo, com caráter festivo, algumas das declarações e decisões que geram controvérsia.
Como Lula demorou para assumir seu gabinete no Planalto e só começou a dar expediente no palácio efetivamente nesta quarta-feira, a reunião de sexta tem o caráter simbólico de demarcar o início formal das atividades nas pastas e na cozinha da Presidência.
Esses operadores políticos acreditam que o evento servirá para dar mais harmonia às falas e melhor compreensão em todos ministérios e órgãos com status de primeiro escalão sobre as direções que Lula deseja imprimir para marcar o início da sua terceira gestão.
A expectativa é a de que a Secretaria de Comunicação da Presidência, dirigida pelo petista Paulo Pimenta, passe a atuar em temas sensíveis e produza materiais que subsidiem os ministérios sobre as mensagens-chave de cada pasta. “É preciso respeitar as diferenças entre os ministros, que são naturais. Mas não é saudável que se faça voo solo. É um trabalho coletivo e que exige coesão na disseminação da informação”, sintetiza um ministro ao JOTA.