Etienne Jacintho

Quando Jane Campion escala Holly Hunter é certo que vem coisa boa por aí. Depois de a atriz trabalhar com a roteirista e diretora neozelandesa no premiado longa O Piano (1993), a dupla volta na série policial Top of the Lake, com a ex-Mad Men Elisabeth Moss no papel principal. A série, cuja temporada de estreia data de 2013 e a segunda está prevista para 2017, é ambientada em uma cidadezinha da Nova Zelândia cercada de mistérios e esquisitices – lembra um pouco a Twin Peaks de David Lynch. No centro de tudo está um terreno chamado de Paradise, onde um grupo de mulheres se reúne para enxergar sentido em suas vidas, lideradas por uma visionária interpretada por Holly Hunter. Top of the Lake foi adicionada recentemente na Netflix.
A ação começa quando Tui, uma menina de 12 anos tenta se matar nas águas geladas do lago da cidade. Resgatada por sua professora, a garota vai parar na delegacia, pois está grávida de 4 ou 5 meses. Começa, então, uma investigação para descobrir quem a estuprou, já que Tui não diz quem é o pai do bebê.  Para assumir o caso, a polícia conta com uma ex-moradora da cidade que, hoje, é investigadora em Sidney, na Austrália. Ela é especialista nesse tipo de crime. Robin (Elisabeth Moss) está na cidade para visitar a mãe, que tem câncer. O problema é que a investigação acaba fazendo com que a detetive resgate lembranças nada felizes de sua adolescência. Quando tinha 15 anos, Robin foi vítima de um estupro. Seu algoz está solto na cidade e ela vai ter de manter o controle.
Aos poucos, Robin descobre e revela os pequenos segredos guardados na cidadezinha. Há pedófilo condenado circulando por lá, pai abusador, produtores de drogas sintéticas, gente que pensa estar acima da lei. Nesse ambiente, Robin é a intrusa. Matt (Peter Mullan), o pai de Tui, é um dos mais incomodados com a presença da detetive. Suspeito de ser o pai do bebê, ele domina os habitantes da cidade e é o proprietário de quase todas as casas de lá, compradas com dinheiro de ações ilícitas.
Mais do que uma série investigativa, Top of the Lake é uma atração sobre pessoas que estão em cacos, que precisam recompor-se, buscar uma direção, encontrar respostas. O grupo de mulheres que GJ (Holly Hunter) comanda em Paradise simboliza a fragilidade humana. E até o cidadão aparentemente mais forte tem a alma em pedaços. Robin, no meio disso tudo, é nocauteada pelo passado e tem seu presente profundamente sacudido. Provavelmente, seu futuro não será nada daquilo que ela planejara nos últimos anos. E assim é a vida. Não adianta lamentar, baixar a guarda, desistir. É preciso encarar, mas sem heroísmos. Somos todos humanos.
Top of the Lake é, sim, uma série policial. No entanto, não é uma atração para quem espera ação, perseguições, explosões e perícias em cenas de crime. Aliás, a solução para os crimes na cidade é até bem fácil de deduzir. Não traz surpresas para aqueles que são fãs de um mistério. Mas nada disso importa, pois a série de Jane Campion vai realmente além disso: a fotografia é incrivelmente bela, com paisagens de tirar o fôlego, e as atuações são impecáveis. É sempre interessante conhecer atrações feitas em outras partes do mundo e sair daquele formatão americano de séries policiais.

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JOTA

Série neozelandesa da diretora Jane Campion tem Elisabeth Moss, ex-Mad Men, e paisagens deslumbrantes


Top of the Lake: o Paraíso não é ali

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