Etienne Jacintho

Sei que é muito chato e, principalmente, fácil, comparar obras assinadas por um mesmo nome. É fato, porém, que a segunda temporada de Narcos, que estreou no começo do mês na Netflix, tem seus momentos de Tropa de Elite. Verdade seja dita que as semelhanças, no entanto, não revelam falta de originalidade dos diretores e, principalmente do produtor da obra, o brasileiro José Padilha. As cenas de perseguição policial ao chefão do tráfico Pablo Escobar tentam reproduzir, de forma realista, o que foi a caçada nos becos dos morros de Medelín. Força abusiva policial, matança à luz do dia e violência que não poupa nem mesmo crianças. Nada muito diferente do cenário nos morros cariocas retratado em Tropa de Elite.
A primeira temporada de Narcos mostrou a ascensão de Pablo Escobar, papel de Wagner Moura, a chefão do tráfico na Colômbia, e seu domínio até mesmo nos Estados Unidos, em Miami. O público percebeu como Escobar construiu sua imagem, sendo adorado pelo povo de Medelín. Até mesmo carreira política o traficante conseguiu alavancar, mas teve suas pretensões inibidas, obviamente, pela polícia e por seus inimigos. A temporada de estreia terminou com a fuga incrível de Escobar de uma prisão onde era, praticamente, um rei.
Para a segunda temporada, Narcos coloca foco na derrocada de Escobar com muitas cenas de ação. Os primeiros episódios mostram como o traficante usou sua esperteza para enganar a polícia e se camuflar em Medelín. Esconderijos, planos de circulação pelas ruas da cidade, reuniões em locais seguros. Mesmo sendo o fugitivo mais procurado da Colômbia, o traficante circulava por Medelín sem muitas restrições, mas com um forte esquema de segurança pessoal, com fiéis funcionários. Não há como não “torcer” pelo anti-heroi, mesmo sabendo qual será seu fim. Ainda mais com Wagner Moura no papel principal, que retorna ainda mais convincente na pele do “patrón”, com seu andar peculiar, ombros caídos e barrigão saliente.
Do outro lado, Narcos continua mostrando a mudança no comportamento do policial americano Steve Murphy (Boyd Holbrock), que tem seus ideais destruídos ao encarar a realidade nas ruas de Medelín. Ele endureceu. Compactuou com métodos nada humanos de interrogatórios e com ações policiais sangrentas. Murphy perde até mesmo sua família, pois ninguém fica imune aos efeitos da violência. Parece, no entanto, que os roteiristas perceberam que, em questão de carisma, o protagonista da história, do lado da lei, teria de ser Javier Peña. E o ator Pedro Pascal teve seu papel ampliado.
Nesta temporada, o cerco a Pablo Escobar se intensifica e todos estão atrás do chefão, desde a polícia até os outros narcotraficantes, que buscam em um grupo paramilitar de extrema direita os aliados perfeitos. O presidente colombiano César Gaviria (Raúl Méndez) é o mais interessado em acabar com o império de Escobar, uma vez que a mídia tem zombado da ineficiência do exército e da polícia daquele país. O problema é que a burocracia cria uma morosidade na aplicação da lei e dificulta o trabalho da polícia colombiana e, principalmente doa agentes americanos, na perseguição ao traficante. Javi Peña não se conforma com essa ineficiência policial. Movido por um forte sentimento de vingança, ele decide burlar o esquema para encontrar Escobar e se torna informante.
Assim, homens da lei e foras-da-lei se unem em torno de um objetivo comum: destruir Pablo Escobar. E será praticamente impossível para o traficante vencer essa aliança, já que seus inimigos começam a torturar, matar ou cooptar seus comparsas e sicários. O grupo paramilitar, liderados pelos irmãos Pepe passam a criar terror e a chamar muita atenção pela violência na perseguição a Escobar. O presidente Gaviria finge que não vê os assassinatos cometidos pelos Pepes, com o aval da embaixada americana. Todos querem a cabeça de Pablo, não importa a que custo. Acuado, Pablo percebe que pode ser vencido, mas ele não se entregará sem antes lutar e deixar um rastro de terror.
Assim como na primeira temporada, a série volta a mostrar cenas reais dos fatos que marcaram a trajetória de Pablo Escobar, como os atentados atribuídos a ele e os assassinatos cometidos por seus inimigos que, com muita violência, dizimaram os aliados do “patrón”. A segunda temporada traz ótimas atuações e cenas boas de perseguições e o grau certo de suspense. Mesmo sabendo que o desfecho não será favorável a Pablo Escobar, o espectador cria uma expectativa até o fim. A Netflix já anuncia a terceira temporada de Narcos para 2017.

narcosdinheiro

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JOTA

Segunda temporada de ‘Narcos’ mostra a aliança que se armou na Colômbia – com polícia, exército, embaixada americana, traficantes e até grupo paramilitar – para derrubar Escobar.

Todos contra Pablo

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