Luiz Orlando Carneiro

O pianista Paul Bley morreu em casa, aos 83 anos, no último domingo (3/1). No obituário publicado pelo jornalOttawa Citizen, a sua filha Vanessa assim resumiu a importância, no panorama do jazz, do eminente músico nascido no Canadá, radicado nos Estados Unidos e cidadão do mundo: “Sua carreira internacional abarcou sete décadas. Ele tocou e gravou com Lester Young, Ben Webster, Sonny Rollins, Charles Mingus, Chet Baker, Jimmy Giuffre, Charlie Haden, Paul Motian, Lee Konitz, Pat Metheny e muitos outros. Considerado um mestre do trio, seus álbuns de piano solo mostram, no entanto, que ele foi, acima de tudo, um pianista para pianistas”.
O saxofonista canadense Glenn Hall escreveu que Bley morreu enquanto ouvia o álbum Memoirs (Soul Note, 1990), que ele gravou com os também notáveis Charlie Haden (baixo) e Paul Motian (bateria). Haden faleceu em julho do ano passado, aos 76 anos; Motian em novembro de 2011, aos 80 anos.
Os dois últimos CDs constantes da discografia do pianista são registros solitários de 2008. O primeiro é About time(Justin Time), dividido em apenas duas longas improvisações: a faixa-título (33m30) e Pent up house (10m25), tema de Sonny Rollins. O segundo – só lançado no ano passado – é Play blue: Oslo Concert (ECM), apresentação no Festival de Jazz de Oslo (Noruega), a partir de cinco temas (inclusive Pent up house).
O autor das notas de About time, assinalou, com propriedade, que a música inventada ou reinventada por Paul Bley não deve ser descrita, apenas, em termos de composições, estilos, motivos ou estruturas rítmicas, já que “contém todos esses elementos numa estrutura constantemente envolvente, na qual cada ideia gera cinco novas ideias”. Uma abertura harmonicamente bluesy, por exemplo, pode ter um desenvolvimento politonal ou um tratamento totalmente free. E vice-versa.
Não se pode esquecer que Bley era o pianista e o líder do quinteto gravado ao vivo, na sua etiqueta IAI, em outubro de 1958, no Hillcrest Club de Los Angeles, com Ornette Coleman, Don Cherry, Charlie Haden e Billy Higgins. Ou seja, ele foi o responsável por uma prévia dos três LPs do quarteto de Ornette Coleman gravados no ano seguinte, e que detonaram para valer a onda vanguardista da década de 1960: Tomorrow is the question, The shape of jazz to come e Change of the century.
Vale também lembrar que o requintado pianista – que lançou como compositora a sua primeira mulher, Karen Borg, depois consagrada como Carla Bley – integrou, com Steve Swallow (baixo), o trio do clarinetista-saxofonista Jimmy Giuffre (1921-2008). Este combo registro, no período 1961-62, três álbuns antológicos de jazz camerístico: Fusion eThesis, para a Verve, e Free fall, para a Columbia.
A obra de Paul Bley a partir da década de 1970 ficou bem documentada em 11 discos do catálogo da ECM Records, dentre os quais destaco: In the evenings out there (1991), quarteto com John Surman (sax barítono e clarone), Gary Peacock (baixo) e Tony Oxley (bateria); Not two, not one (1998), trio com Peacock e Paul Motian (bateria); In Mondsee (2001), solo. Além, é claro, do já citado Oslo Concert.
O selo dinamarquês SteepleChase, por sua vez, editou mais de uma dezena de sessões de Bley, como líder ou co-líder, inclusive o precioso CD Diane, um duo com Chet Baker gravado em Copenhague, em 1985, três anos antes da morte do trompetista.
(Pent up house, do CD Play blue pode ser ouvida <a href="http://www.jazzmusicarchives.com/mp3/paul-bley/4529)">aqui</a>)
O texto foi originalmente publicado no <a href="http://www.jb.com.br/jazz/noticias/2016/01/09/paul-bley-1932-2016/">JB Online</a>

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Bley morreu enquanto ouvia o álbum Memoirs (Soul Note, 1990), que ele gravou com Charlie Haden (baixo) e Paul Motian (bateria)

Paul Bley (1932-2016)

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O pianista morreu enquanto ouvia o álbum Memoirs (Soul Note, 1990), que ele gravou com Charlie Haden (baixo) e Paul Motian (bateria)