Luiz Orlando Carneiro

Nas eleições dos melhores jazzmen do ano promovidas pelas revistas especializadas, é de praxe a categoria “miscellaneous instrument”, dedicada a praticantes de instrumentos incomuns nos conjuntos e orquestras de um modo de expressão musical no qual as maiores estrelas são saxofonistas, trompetistas, pianistas e bateristas.
Nessa categoria especial são incluídos, por exemplo, o acordeão, a tuba, a harpa, a gaita (harmônica) e o banjo. E vale registrar que especialistas nestes instrumentos dedicaram-se ao jazz com bastante sucesso, dentre os quais os seguintes: os acordeonistas Art Van Damme (1920-2010) e Richard Galliano; Howard Johnson (tuba); Toots Thielemans (harmônica); Béla Fleck (banjo); as harpistas Dorothy Ashby (1030-1986) e Alice Coltrane (1937-2007). No último referendo dos leitores da Downbeat (edição deste mês), os dois mais votados em “miscellaneous instrument” foram, pela ordem, Béla Fleck e o macróbio Toots Thielemans.
Mas pouca gente sabe que há virtuoses de instrumentos anda mais inusitados, limitados às suas regiões de origem ou que ocupam lugar discreto no meio de uma orquestra sinfônica, que também escolhem o jazz – o “som da surpresa” - para fazer música. Como, por exemplo, o fagotista Daniel Smith e a espanhola Cristina Pato, que se dedica à gaita de fole da Galícia, bem semelhante àquela bagpipe escocesa.
Recentemente, Smith e Pato lançaram, em selos jazzísticos de renome, CDs que vêm merecendo calorosa acolhida por parte da crítica especializada: Jazz Suite for bassoon (Summit) e Latina (Sunnyside), respectivamente.
De formação erudita, o veterano Daniel Smith, 76 anos, exibe na sua discografia todos os concertos escritos por Vivaldi para o instrumento de sopro de palheta dupla e tubo longo, de timbre e caráter peculiares, que fica na seção de madeiras das orquestras ao lado do oboé e do corne inglês. E gravou alguns discos de jazz bem cativantes e swinging, como Bebop bassoon (ZahZah, 2006), à frente de um quarteto com o pianista Martin Bejerano.
O último álbum do fagotista é dividido em três partes: Baroque adaptations for bassoon and jazz trio, em cinco faixas curtas baseadas em Vivaldi (duas), Henry Purcell, William Byrd e J.S. Bach (Badinerie); três interpretações de rags de Scott Joplin, em conjunto com um quarteto de cordas; a Jazz Suite for bassoon, em três movimentos (pouco mais de 20 minutos), composição do pianista Steve Gray, interpretada por Daniel Smith na companhia do autor, de Mitch Danton (guitarra), Jim Lawless (vibrafone), baixo e bateria.
Já no CD Latina, Cristina Pato, na gaita de fole galega (eventualmente ao piano, e usando a voz), dá um show de técnica e criatividade numa sessão caliente e hipnótica, à frente do seu quarteto (Victor Prieto, acordeão; Edward Perez, baixo; Eric Doob, bateria).
Ela assim explica a concepção da suíte e de seus complementos reunidos nas nove faixas do álbum:
“Latina é um meio de abraçar a minha herança através da música, explorando as conexões do país de origem dessa palavra, a Itália, e os países que são hoje considerados latinos. Usando a metáfora de um dos ritmos essenciais da música tradicional, o 6/8, Latina é uma jornada musical que começa com a tarantela italiana e viaja pela Espanha e pela América Latina, com base nos ritmos em 6/8 como o joropo venezuelano, o landó peruano, a muiñeira da Galícia e outros ritmos como o tanguillo e o fandango”.
<a href="http://www.summitrecords.com/release/jazz-suite-for-bassoon-daniel-smith">Samples do CD de Daniel Smith aqui.</a>
<a href="http://sunnysidezone.com/album/latina">Três faixas do CD Latina podem ser ouvidas aqui.</a> 
Publicada originalmente no <a href="http://www.jb.com.br/jazz/noticias/2015/12/19/jazz-tambem-se-toca-no-fagote-e-na-gaita-de-fole/">JB Online.</a>

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JOTA

CDs de Daniel Smith e Cristina Pato são bem recebidos pela crítica

Jazz também se toca no fagote e na gaita de fole

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