Luiz Orlando Carneiro

“Com as mortes de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Carmen McRae e Betty Carter, a ex-mulher do trompetista Cecil Bridgewater, Dee Dee, tornou-se a mais estimulante das vocalistas basicamente jazzísticas. Sua formação se deu no seio da respeitada orquestra de Thad Jones-Mel Lewis, no início dos anos 70. (…) Dee Dee faz, às vezes, concessões para um público maior. Mas nos seus discos, em clubes e festivais puramente jazzísticos, mostra que não tem rivais, com a sua voz flexível de contralto improvisando 'instrumentalmente' com seus músicos, seja sobre as letras das canções, seja em scat”.
Este trecho é do verbete que sobre ela escrevi no Guia de jazz em CD (Jorge Zahar Editor, 2ª edição, 2000). O álbum indicado então como o mais representativo de sua arte era Love and peace: A tribute to Horace Silver (Verve, 1994), que contou com a participação do próprio pianista-compositor e do também lendário organista Jimmy Smith.
Quinze anos depois não mudei de opinião. Aos 65 anos, Dee Dee Bridgewater continua a ser a “prima dona” do jazz, contando no seu currículo oito álbuns indicados para o Grammy (entre 1989 e 2010), dos quais dois vencedores: Dear Ella(Verve, 1998) e Eleanora Fagan (1915-1959): To Billie with love from Dee Dee (EmMarcy, 2010).
A fascinante vocalista está de volta com o CD Dee Dee's feathers (Okeh), um registro muito especial de 12 faixas, em parceria com a New Orleans Jazz Orchestra (NOJO), fundada e liderada pelo trompetista-compositor Irvin Mayfield, ainda jovem (37 anos) para o prestígio que tem na cidade onde o jazz nasceu. O disco foi gravado num estúdio adaptado numa pequena e velha igreja de Tremé – bairro de Nova Orleans, o antigo Back of Town – como uma homenagem ao povo e à cultura da cidade. E também à ressurreição da Crescent City, 10 anos depois de arrasada pelo furacão Katrina.
O espírito e a cadência da second line das brass bands da velha NOLA são “modernizados” pelos arranjos e pela orquestra de Mayfield, e destilados na arte vocal inebriante de Dee Dee, para quem a sessão é, acima de tudo, “uma celebração da vida”.
Já o excelente trompetista e líder da NOJO assim se expressa: “Este álbum atesta a permanente relevância de Nova Orleans não apenas como uma cidade florescente mas também como uma fonte de comunicação de verdade, amor e beleza. Dee Dee Bridgewater nos conduz por um novo momento artístico, ao mesmo tempo em que atende a um mandato criado há um século por gênios do jazz como Buddy Bolden, Jelly Roll Morton, Sidney Bechet e Louis Armstrong. Ela prova, com sua arte, que Nova Orleans não é só uma cidade mas – o que é mais importante – uma ideia que pode fazer o nosso coração e a nossa alma se sentirem melhores”.
No cardápio de Dee Dee's feathers, destacam-se temas tradicionais como Big chief (6m15), com a participação do lendário pianista-guitarrista Dr. John (Rebennack); Saint James Infirmary (5m15), um dos mais pungentes blues de todos os tempos;New Orleans (6m35), que Hoagy Carmichael – autor também de Stardust – escreveu em 1932. Há ainda interpretações respeitosas, com arranjos bem comportados, de Come Sunday (4m45), de Duke Ellington, e de What a wonderful world(7m20), a canção imortalizada por Louis Armstrong.
As composições de Dee Bridgewater – a faixa-título do CD (2m45) e Congo Square (4m30) – são de alta voltagem percussiva. C'est ici que je t'aime (6m30) é uma balada do pistonista Mayfield, que enriquece a faixa com um tocante solo.
A NOJO é uma big band de 17 integrantes na qual se destacam, além do líder, Michael Watson (trombone), Jason W. Marshall Sr (sax barítono), Victor Atkins (piano), Don Vappie (guitarra) e Adonis Rose (bateria).
Faixas de Dee Dee's feathers <a href="http://www.kboing.com.br/dee-dee-bridgewater/1-7938788/">podem ser ouvidas aqui</a>.
<a href="http://www.jb.com.br/jazz/noticias/2015/09/12/dee-dee-bridgewater-celebra-nova-orleans/">Publicada originalmente no JB Online</a>.

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JOTA

Vocalista lança novo CD com big band de Irvin Mayfield

Dee Dee Bridgewater celebra Nova Orleans

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