Luiz Orlando Carneiro

No filme O Terminal (2004), de Steven Spielberg, Tom Hanks fez o papel de Viktor Navorski, cidadão da fictícia Krakozhia, que ficou confinado, durante meses, a um terminal do Aeroporto John Kennedy, em Nova York, já que o seu visto de entrada deixara de valer, em face de uma revolução ocorrida no seu país durante a viagem para os Estados Unidos.
O leitmotiv da história é a dificuldade de intercomunicação e de solidariedade num mundo cada vez mais globalizado e internetizado, com o contraponto da possibilidade de que a ajuda ao próximo acabe por surgir de onde e quando menos se espera.
Nem todos, contudo, devem se lembrar de que Viktor Navorski/Tom Hanks fizera a longa viagem a Nova York com o objetivo de cumprir missão deixada pelo seu falecido pai, fanático por jazz, que conseguira colher, numa cópia da célebre fotografia A great day in Harlem(publicada pela revista Esquire, em 1958), os autógrafos de 56 dos 57 músicos de jazz famosos reunidos na escadaria de um prédio típico daquele bairro novaiorquino. Com exceção de um – o do saxofonista Benny Golson.
No happy end  do filme, Navorski-Hanks tem a chance de ouvir o músico, ao vivo, num hotel, obter o seu autógrafo, pegar um táxi de volta ao aeroporto, e retornar à sua Krakozhia.
Pois bem. Dos 57 grandes jazzmen que posaram para aquela histórica foto, só dois ainda estão vivos: Sonny Rollins (86 anos em setembro próximo) e Benny Golson (que completou 87 anos em janeiro).
Rollins – que tem problemas respiratórios - está afastado dos palcos e dos estúdios já há algum tempo. Mas Golson continua a soprar o seu saxofone tenor. E parece disposto a seguir em frente, a julgar pelo título do seu último CD, Horizon Ahead (HighNote), gravado em dezembro do ano passado.
Em oito das 10 faixas deste álbum ele lidera um quarteto integrado por outros notáveis jazzmen: o baixista Buster Williams, 74 anos; o pianista Mike LeDonne, 60; o baterista Carl Allen, 55. As duas faixas restantes contêm uma introdução falada do líder para o fecho do disco, que é um longo solo de Carl Allen a partir de Out of the darkness, and into de light, peça do próprio baterista.
Benny Golson não se notabilizou, apenas, como um tenorista potente e ao mesmo tempo cantante, inicialmente influenciado por Don Byas (1912-1972), mas fluente na linguagem do hard bop. Ele foi membro dos Jazz Messengers de Art Blakey (1958-59) e líder – ao lado do trompetista Art Farmer - do Jazztet, conjunto de proa da década de 1960. E ficou também célebre como um dos mais inspirados compositores de temas jazzísticos, dentre os quais citem-se I remember Clifford, Whisper not, Killer Joe e Along came Betty.
Entretanto, neste último CD para o selo HighNote, ele não incluiu nenhum dos seus temas mais conhecidos. Assina apenas quatro composições da setlist: a faixa-título. Horizon ahead (6m) e Domingo (8m40), ambas em tempo médio; a efusiva Jump Start (3m10); eNight shade (5m25), o momento mais bluesy da sessão.
O quarteto do octogenário Golson interpreta ainda duas das mais populares peças de Duke Ellington, Mood indigo (4m15) e Don't get around much anymore (6m15), e os standards Three little words (5m55) e Lulu's back in town (4m40).
É claro que o sopro do icônico saxofonista tenor não tem o mesmo vigor e a mesma estabilidade das décadas passadas. E também é obvio que o seu fraseado é menos instigante do que o ainda registrado no ótimo álbum New Time, New'tet (Concord), gravado em 2008, na companhia de Eddie Henderson (trompete), Steve Davis (trombone) e da mesma seção rítmica de Horizon Ahead.
Mas o álbum merece ser ouvido e degustado como sugere o próprio mestre Golson ; “Este CD pode não ter aquela 'mordida' agressiva de antes; mas é algo que eu sinto ter de buscar neste momento”.
<a href="https://soundcloud.com/highnote-savant-records/01-dont-get-around-much-anymore-benny-golson">A faixa Don't get around anymore pode ser ouvida aqui</a> 
Publicado originalmente no <a href="http://www.jb.com.br/jazz/noticias/2016/08/06/benny-golson-87-anos-lanca-disco-novo/">JB Online</a>

berklee – btot – 2014-42

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JOTA

O lendário músico parece disposto a seguir em frente, a julgar pelo título do seu último CD, Horizon Ahead (HighNote), gravado em dezembro do ano passado

Benny Golson, 87 anos, lança disco novo

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