Etienne Jacintho

Difícil escrever um texto sobre a sétima e última temporada de The Good Wife sem soltar algum spoiler, mas não dá para estragar a surpresa. Afinal, o ano final traz 22 excelentes episódios cheios de bons e maus momentos para os Florrick. Fora as participações especiais de arrasar, com Vanessa Williams, Matthew Morrison, Will Patton e Josh Charles, claro, que volta como Will Gardner. The Good Wife foi, nesses 7 anos de vida, uma das séries mais viciantes no ar. Dá vontade de ver todos os episódios numa sentada só. No Brasil, o Universal Channel vai estrear essa temporada final ainda este mês.
Depois dos escândalos da sexta temporada, em que Alicia (Julianna Margulies) saiu queimada politicamente, é hora de recomeçar – mais uma vez. Ela tem de batalhar para se reerguer. Desta vez, porém, a escalada é mais fácil e mais rápida. Ela tem os contatos, os ex-colegas e, claro, é a mulher do governador. E, assim como no início da série, é o marido, Peter (Chris Noth), quem desestabiliza a vida de Alicia. Então, é impossível não pensar: “Por que ela ainda está com ele, após todos esses anos?”
Essa é a única falha no roteiro de The Good Wife. Durante seu percurso ao longo das temporadas, Alicia deixa de ser a mulher dependente financeira e emocionalmente de seu marido para construir seu próprio mundo. Ela consegue se tornar sócia de um dos maiores escritórios de advocacia de Chicago; vive uma paixão, mesmo estando atrelada a um casamento de fachada; cria seus filhos apesar de todo o trabalho como advogada e como mulher de político; percebe que sua imagem é forte o suficiente para ela própria entrar no universo da política. Então, por que ela ainda não pediu o divórcio? Por que ela segue apoiando um marido que a traiu? Por que uma mulher honesta continua ao lado de um homem corrupto?
Uma mulher ficaria ao lado de um homem assim por amor? Talvez. O problema é que a última temporada deixa bem claro que não é esse o caso. Alicia não ama Peter. Ela o estima por ser um bom pai. Só isso. Tampouco existe paixão. Esse sentimento, Alicia experimentará nesta última temporada. Aliás, que paixão! Os melhores momentos da temporada final são aqueles em que Alicia está acompanhada – e muitíssimo bem acompanhada, diga-se. É inacreditável que ela sufoque essa paixão para apoiar um marido de fachada novamente em apuros. Dá vontade de falar: “Acorde, Alicia!”
Alicia, afinal, também não é mais uma mulher submissa. E ela deixa isso muito claro em vários momentos deste sétimo ano. Ela encara juízes, promotores, Eli Gold (o sempre incrível Alan Cumming) e o próprio Peter. Ela não configura, em suas ações, uma mulher que continuaria ao lado do marido por submissão. A questão é que o fato de Alicia continuar casada não orna com sua “nova” persona. E, por mais que se fale em divórcio durante toda a última temporada, não há a consumação legal deste ato.
O desfecho da série deixa esta e outras questões em aberto. Será que o divórcio vai sair afinal? Será que Alicia seguirá uma paixão ou a vida pública. A ambição vai superar a mulher incorruptível? Em uma das cenas finais, Alicia recebe uma chacoalhada, um tapa na cara merecidíssimo. Queria ter sido eu a autora daquele tapa! Gosto de pensar que isso tenha feito Alicia acordar do surto de “boa esposa”. Gosto de pensar que ela deixa Peter, joga seus tailleurs para o alto, bagunça aquele cabelo milimetricamente arrumado – somente Diane Lockhart (Christine Baranski) usa mais laquê nas madeixas – para viver um grande amor “on the road”. Livre, leve e solta! E enfim, fim!

aliciaejason

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JOTA

Episódio final de The Good Wife sufoca Alicia. Entretanto, roteiristas deixam abertos muitos caminhos para a advogada. Gosto de pensar em Alicia vivendo um grande amor on the road

Alicia merecia terminar assim?

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