Luiz Orlando Carneiro

Neste ano em que comemora o 30º aniversário de nascimento, Aaron Diehl firma-se, definitivamente, como um dos mais refinados pianistas surgidos na cena jazzística, a partir de sua “descoberta”, por Wynton Marsalis, em 2003. Ele passou a integrar o septeto do grande trompetista e diretor da Lincoln Center Jazz Orchestra e, em 2012, já como líder, gravou o álbum The bespoke man's narrative (Mack Avenue Records), comentado e recomendado aqui nesta coluna (25/5/2013).
O novo CD do pianista-compositor, recém-lançado pelo mesmo selo independente, intitula-se Space Time Continuum. E tem, como base, um trio formado pelo também jovem e brilhante baixista David Wong, e pelo baterista Quincy Davis. Mas o trio vira quarteto ou quinteto com a participação dos seguintes convidados: os emergentes Stephen Riley (sax tenor) e Bruce Harris (trompete); os ilustres octogenários Benny Golson (sax tenor) e Joe Temperley (sax barítono).
No disco anterior, Diehl liderava um quarteto que reunia, além de David Wong, o baterista Rodney Green e o vibrafonista Warren Wolf. Ou seja, uma formação que não só copiava a do célebre Modern Jazz Quartet (1952-1974) do pianista-compositor John Lewis, como também lhe prestava homenagem.
Já em Space Time Continuum, a concepção é mais livre, o clima é mais arejado, e a música é radiante, não só em termos de melodia, ritmo e harmonia, mas também da arte do jazz como “the sound of surprise”, para repetir a consagrada definição de Whitney Balliett.
A seleção de oito faixas começa com uma recriação sinergética e incandescente, pelo trio, de Uranus (6m15), tema escrito pelo pianista Walter Davis Jr (1932-90) quando ele integrava os Jazz Messengers de Art Blakey, na década de 1960. Na sequência, em contraste, o trio de Diehl acompanha o saxofonista barítono Joe Temperley, do alto de seus 86 anos, numa improvisação bem relax de The steadfast titan (4m55), original do jovem líder.
As outras peças de Diehl, em trio, são Santa Maria (7m40) - com abertura solene e meditativa, destaque para o baixo com arco de Wong e o colorido percussivo de Quincy Davis – e Broadway boogie woogie (2m15) – o momento mais intenso e caloroso do disco, em tempo rapidíssimo.
O grande Benny Golson dá o seu primeiro recado, num solo de dois minutos, na faixa mais longa e de tema mais belo do álbum, Organic consequence (13m10), em quinteto, com a participação também do trompetista Bruce Harris. Os dois convidados de Diehl voltam na faixa-título (10m) - a última da seleção - que revela ainda o brilho da nova estrela Charenee Wade, cantando a letra escrita por Cécile McLorin Salvant, e, depois, improvisando em scat (a voz como instrumento), lado a lado com o saxofonista e o trompetista.
A arte do sax tenor Stephen Riley pode ser degustada no quarteto formado para a interpretação de Flux capacitor (3m), peça do líder, em tempo bem rápido, e de Kat's dance (8m15), levada em 6/4 – esta assinada por Adam Birbaum, que é também conceituado pianista da nova geração, amigo e eventual partner de Aaron Diehl em apresentações em duo.
O título do novo CD de Diehl, Space Time Continuum, foi assim decifrado pelo pianista-compositor, em recente entrevista: “Muitas vezes olhamos para o jazz em termos de eras. Mas não podemos deixar de separá-las, e pensar na linguagem (do jazz) como um completo continuum, mais evolucionário do que revolucionário?”
<a href="http://www.jb.com.br/jazz/noticias/2015/08/22/a-arte-refinada-de-aaron-diehl/">Publicada originalmente no JB Online</a>

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Nova estrela do piano brilha em 'Space Time Continuum'


A arte refinada de Aaron Diehl

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Nova estrela do piano brilha em 'Space Time Continuum'