Isabella Macedo

Após ser reconvocado pela CPI da Pandemia, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prestou o segundo depoimento aos senadores nesta terça-feira (8/6). Chamado para falar à comissão um mês após dar o primeiro testemunho, Queiroga defendeu a realização da Copa América e contradisse a infectologista Luana Araújo, que <a href="https://www.jota.info/legislativo/luana-araujo-diz-que-nunca-discutiu-uso-da-cloroquina-com-ministro-da-saude-02062021">depôs na semana passada</a>, e sua própria declaração a uma comissão da Câmara há duas semanas, quando afirmou que era preciso “validação técnica e política” para que ela assumisse. Hoje, o ministro disse que partiu dele a decisão de recuar da nomeação e que não houve veto da Casa Civil ao nome da médica. Luana passou apenas 10 dias trabalhando sem ser nomeada à frente da Secretaria de Enfrentamento à Covid-19.
Ao justificar a realização da Copa América no Brasil, o ministro argumentou que o evento esportivo não ampliaria os riscos da circulação do vírus no país.
Os senadores cobraram o ministro por uma declaração dada em seu primeiro depoimento, quando afirmou que sua chegada representava uma mudança de paradigma no combate à pandemia, mas foi incapaz de fazer o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deixar de promover aglomerações ou conscientizá-lo sobre o uso de máscaras.
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<h3>Nomeação de Luana Araújo</h3>
Questionado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), Queiroga afirmou que partiu dele a decisão de não nomear Luana, mesmo após ter escolhido a médica pessoalmente.
“O nome da Luana, apesar da qualificação técnica, passou a sofrer muitas resistências em face dos temas que são tratados aqui, onde há uma divergência muito grande entre a classe médica”, disse o ministro da Saúde ao se referir à discussão do uso da cloroquina no tratamento da covid-19. A droga, segundo a comunidade científica, não tem eficácia no tratamento ou no combate à doença. Luana já havia se posicionado publicamente contra a insistência do uso do medicamento.
Além do relator, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) apontaram a contradição entre a afirmação de Queiroga e o depoimento de Luana.
“Ela disse aqui que ela esperou sair [a nomeação] na terça e na quarta-feira o senhor a chamou e disse que infelizmente não teria como nomear porque o nome não passou”, afirmou o senador Omar.
Queiroga reforçou que foi decisão sua, mas evitou falar em veto à infectologista, afastando o Palácio do Planalto do caso. “Eu falei para a doutora Luana que todos os nomes precisavam ser validados pela Casa Civil e pela Segov, inclusive o meu. E não houve vedação”, insistiu. “Eu desisti do nome da Dra. Luana, porque eu vi que o nome dela não estava suscitando o consenso que eu desejava.”
Ao fim da reunião, questionado por jornalistas, Queiroga se recusou a responder perguntas sobre a inflexão feita em relação à declaração de duas semanas atrás.
<h3>Copa América</h3>
Queiroga também defendeu a realização da Copa América no Brasil, afirmando que outros campeonatos têm acontecido no país e que não se tratará de um evento de massa, uma vez que não haverá público. Queiroga disse não ter sido consultado sobre a realização da Copa América no país, cabendo à pasta apenas avaliar protocolos para a disputa.
Segundo Queiroga, a Copa América é um evento pequeno, com um número pequeno de pessoas. "Não é uma Olimpíada. Então, os protocolos que foram apresentados ao Ministério da Saúde são protocolos seguros, que permitem dizer que, se aquele protocolo for cumprido, não teremos riscos adicionais para os jogadores que participam dessa competição. Essa é a opinião do Ministério da Saúde neste momento”, disse.
Confrontado com o número de jornalistas credenciados e de pessoas que participam de comissões técnicas ao país, o ministro desviou, afirmando que todos são obrigados a cumprir o mesmo protocolo, e que os jogadores permanecerão isolados nos hotéis.
O ministro também foi questionado sobre a existência e atuação do “gabinete paralelo”, com participação de médicos e outras pessoas favoráveis ao uso da cloroquina no tratamento da covid-19, mas afirmou que desconhece qualquer atuação paralela à sua pasta. “Nunca vi esse grupo atuando em paralelo de forma alguma”, disse ele.
<h3>Quebras de sigilo</h3>
A comissão adiou a votação de requerimentos de quebras de sigilos telefônicos e telemáticos que estava prevista para ser realizada antes do depoimento de Queiroga, além de novas convocações para depoimentos.
Os senadores do chamado G7 - grupo de oposicionistas e independentes - que formam a maioria da comissão devem se reunir ainda nesta noite para chegar a um consenso sobre os sigilos a serem quebrados.
O requerimento para a quebra de sigilo do filho do presidente e vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos), não deve voltar à pauta por enquanto. Segundo o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (REDE-AP), a comissão ainda aguarda mais elementos para que o requerimento seja votado.
Após a votação de requerimentos nesta quarta-feira (9), os senadores ouvirão o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde durante a gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello, o coronel da reserva Élcio Franco. Os senadores devem focar na demora para aquisição de vacinas e na atuação do chamado gabinete paralelo, além da falta de oxigênio no Amazonas e o apoio à cloroquina, medicamento sem eficácia no tratamento da covid-19.

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JOTA

Ministro também disse que desconhece atuação de gabinete paralelo à pasta em sua gestão

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