Isabella Macedo

Em depoimento de cerca de oito horas à CPI da Pandemia nesta terça-feira (1º), a oncologista e imunologista Nise Yamaguchi confirmou reuniões para debater o “tratamento precoce” com o presidente Jair Bolsonaro. Munida de uma minuta de decreto, a médica negou a tentativa de alteração da bula da cloroquina para incluir o medicamento no tratamento da Covid-19. O rascunho de decreto tinha objetivo, segundo Yamaguchi, de permitir a distribuição imediata do remédio na rede de saúde, citando o tratamento da Covid-19. 
O documento foi entregue à CPI registrado em cartório com uma troca de mensagens entre ela e o médico Luciano Dias, que teria enviado a ela o documento. Principal conselheira do presidente na defesa da cloroquina, Yamaguchi foi apontada pelo ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta e o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, como a responsável pela apresentação de uma minuta de decreto para que a bula da droga fosse alterada em uma reunião realizada no Palácio do Planalto no ano passado. 
<a href="https://www.jota.info/produtos/poder?utm_source=Banner%20site&amp;utm_medium=Artigos&amp;utm_campaign=CTA_Poder_materias"><picture><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter webpexpress-processed" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/05/jota-pro-poder8.png" sizes="(max-width: 688px) 100vw, 688px" srcset="" alt="" width="688" height="688" /></picture></a>“Não houve nenhuma tentativa de decreto de mudança de bula nessa ocasião. Não existe isso. Uma declaração não significa que houve, a minha verdade e os fatos é que não houve mudança de bula”, disse Nise Yamaguchi. Mais tarde, questionada novamente sobre o tema pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), a médica tentou se esquivar da responsabilidade pelo documento dizendo que teve apenas acesso ao rascunho do documento.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), chegou a cogitar uma acareação entre a médica e o presidente da Anvisa, mas após o depoimento decidiu que não vai promover nenhuma nova audiência sobre cloroquina na comissão. “Não será necessária [uma nova convocação]. Esse assunto já acabou, da cloroquina, a CPI não tem mais que tratar sobre esse assunto, esse assunto já deu. As pessoas passam o dia todo aqui, ela passou oito horas e não conseguiu apresentar uma publicação científica sobre cloroquina”, criticou o senador após o fim da reunião.
Durante o depoimento, Aziz já tinha se irritado com as respostas dadas pela oncologista, em especial com as declarações apresentadas, em vídeo, por Renan sobre a vacinação. No vídeo, a médica dizia que o chamado “tratamento precoce” era efetivo e “não era necessário vacinar aleatoriamente a população inteira”. “Quem fala baixo e de uma forma bastante calma parece que passa bastante credibilidade, Na realidade, quem está nos vendo nesse momento, eu peço que desconsidere as questões que ela diz aqui em relação à vacina”, disse o senador. 
<h3>Nise Yamaguchi e contradições</h3>
As duas principais contradições de Nise foram apontadas pelos senadores Alessandro Vieira e pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (REDE-AP). Em um primeiro momento, a médica disse nunca ter se encontrado com o presidente Bolsonaro sozinha. Ao ser questionada por Randolfe sobre uma declaração em que dizia que falava “o tempo todo” com o presidente, a médica afirmou que mantinha contato por mensagem, mas não se encontrava com o presidente. 
Sobre a defesa da eficácia da cloroquina, que fez durante todo seu depoimento, Nise Yamaguchi foi questionada pelo senador sergipano se tinha ciência de que o estudo citado por ela como favorável à cloroquina já foi descontinuado pela entidade por não ter gerado nenhum benefício. Diante da negativa da depoente, o senador informou à médica que a Fundação Henry Ford comunicou aos órgãos responsáveis em dezembro do ano passado a descontinuação dos estudos. 
“Eu tenho que confessar para a senhora que isso me assusta, porque eu não consigo compreender como uma profissional da saúde se dispõe a uma exposição deste tamanho, não sei que nível de vontade, enfim, de ter esse acesso ou de vaidade, não sei, que coloca um profissional com a qualidade que a senhora tem numa situação como esta. Eu, profundamente, lamento e desejo que a senhora consiga retomar o seu rumo”, finalizou o senador. 
<h3>Próximos depoimentos</h3>
Após a reunião, Omar Aziz voltou a avisar que o tema da cloroquina é assunto encerrado na CPI. “Hoje nós encerramos um ciclo de investigação em que sabemos que o governo nunca quis comprar vacina. Está provado, não tem mais que se discutir essa questão. E está provado também se havia um assessoramento, não de profissionais nomeados no Ministério da Saúde, mas de pessoas que eram chamadas, como disse a doutora Nise Yamaguchi, por mensagem. E aí, foi se formatando, sem nenhum dado científico o protocolo. E aí vem o ‘tratamento precoce’ e a imunização de rebanho”, concluiu.
Os integrantes da CPI que compõem o grupo apelidado de G7 - de oposicionistas do governo e independentes - vão negociar os próximos passos e convocados da comissão. Nesta quarta-feira (2), a médica Luana Araújo prestará depoimento para esclarecer sua saída do Ministério da Saúde. Apesar de anunciada para ocupar a Secretaria de Enfrentamento à Covid-19, Luana não teve a nomeação assinada por Bolsonaro e, 10 dias após o anúncio, o Ministério da Saúde voltou atrás no convite à médica.

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JOTA

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