Isabella Macedo

Mais vocal defensor do governo na CPI da Pandemia, o senador Marcos Rogério (DEM-RO), reforçou, em entrevista ao JOTA, o discurso de que a oposição já tem uma sentença pronta, “aposta no caos” e age direciona as investigações para criar um ambiente propício para o impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido). “Até aqui, temos mais narrativas que fatos. Não consigo identificar até agora nenhuma conduta que represente crime, que possa apontar para a responsabilização, por exemplo, do presidente”. 
O líder do DEM no Senado garante que não fará pré julgamentos dos governadores convocados, mas que inevitável investigar os repasses de recursos federais a estados e municípios. “Você tem as operações da Polícia Federal. Nessas operações da Polícia Federal, muita coisa foi coletada, muitas evidências, muitas provas. Temos que olhar para elas”.
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Defensor do uso da cloroquina como tratamento para a Covid-19, Rogério diz que a CPI não ajudou, nem ajudará na aceleração da fila de vacinação, mas espera que se produza um relatório que mostre onde aconteceram os erros e crimes. “Ou então dizer que não houve crime, foram apenas erros considerando a situação inusitada”. 
Confira os principais pontos da entrevista: 
JOTA: Senador, qual balanço o senhor faz desse primeiro mês de 
funcionamento da CPI?
Marcos Rogério: Já ouvimos os ex-ministros, os representantes dos 
laboratórios na questão da vacina. E até aqui, do que foi apurado até agora, eu 
acho que a gente está mais com narrativas do que com fatos. Os documentos 
estão chegando, e a partir da chegada desses documentos é preciso analisar o 
que tem nesses documentos, para verificar se há alguma coisa. Mas do que foi 
retirado nas oitivas, nos depoimentos, não consigo identificar até agora 
nenhuma conduta que represente crime, que possa apontar para a 
responsabilização, por exemplo, do Presidente da República. Isso não há.
O que a gente observa no dia a dia são as narrativas da oposição, mas a 
oposição já tinha a narrativa antes da CPI começar. Eles já diziam, o relator, por 
exemplo, começou a CPI comparando o presidente a genocida. Falou de 
Slobodan Milošević, falou de Stalin, falou de outros mais. Posteriormente fez 
uma comparação do que está acontecendo no Brasil com a pandemia ao 
Tribunal de Nuremberg. Aliás, o que é inadmissível, a comparação em si é 
inadmissível, é uma afronta aos judeus.
Então, a avaliação que eu faço é essa. Acho que a CPI começou em um 
momento delicado, no meio da pandemia. Acho que não era momento oportuno, CPI você tem que fazer depois que os fatos estão consumados. No meio de 
uma pandemia, você querer apurar responsabilidade enquanto o processo está 
acontecendo, é uma CPI política. É uma CPI política. E isso se confirma todo dia 
a partir das narrativas. Não importa o que o depoente fale lá na CPI. Quando sai o relator, quando saem os membros da oposição, eles saem com a condenação 
pronta.
Vão sempre dizer em evidências, provas. Que prova? Quando você vai olhar pros 
autos, quando você vai olhar para o depoimento, você não pega, que prova? É a 
narrativa da oposição.
JOTA: E agora com as convocações dos governadores aprovadas, o que a base do governo espera dessas convocações? Onde os senhores querem chegar?
Marcos Rogério: Eu penso que a gente tem que partir sempre do pressuposto de que você vai buscar as evidências, você vai buscar as provas, se elas existem. Você não pode partir do pressuposto de pré-julgamento, de pré-condenação. É isso que eles fizeram com o presidente da República.
Eles já começaram a investigação colocando um carimbo de culpado no peito do presidente, sem ter provas, sem ter evidências. Simplesmente pela política. É a condenação política. Querem conduzir a CPI de uma maneira que confirme aquilo que eles já produziram. É  uma CPI de sentença pronta. Você tem o relator como promotor de acusação e os membros da oposição, são advogados também de acusação. Pouco importam as provas.
Com relação aos governadores, você tem as operações da Polícia Federal. 
Nessas operações da Polícia Federal, muita coisa foi coletada, muitas 
evidências, muitas provas. Temos que olhar para elas. E, nos depoimentos dos 
governadores apurar eventuais responsabilidades. O que houve? E aí tem as 
suspeitas de contratos sem licitação, superfaturado, fictício, desvio de 
finalidade, compras sem entrega. Comprou um produto e ele não foi entregue, 
mas foi pago. Comprou um produto e recebeu outro, não atingiu a finalidade de 
assegurar a estruturação da saúde. Enfim, tudo isso deve ser apurado.
Agora, dá pra fazer um pré-julgamento? Não, do mesmo jeito que não é 
adequado pré-julgar o presidente da República, também não é adequado 
pré-julgar os governadores. Ainda que tenham sofrido operações da Polícia 
Federal, são indícios. O que a gente tem que fazer agora é apurar se esses 
indícios realmente apontam para conduta criminosa ou não.
JOTA: Ainda sobre governadores, alguns deles se preparam para dizer à CPI que não houve coordenação nacional. E os que não vierem, vão apelar para o STF. Como a base vai contornar isso?
Marcos Rogério: Obviamente, como nós estamos colocando alguém que a Polícia Federal realizou relações e apurou condutas, nosso foco vai ser olhar para o processo. Obviamente que a oposição talvez queira fazer isso, apontar para o governo federal. Como eles estão com a narrativa pronta, só que isso aí é escancarar exatamente aquilo que eles estão fazendo desde o começo.
Se realmente quiserem usar a vinda dos governadores para poder desviar o foco e tentar mostrar, com os governadores de oposição especialmente, que o 
governo federal foi omisso, não fez isso ou não fez aquilo, isso vai escancarar a 
parcialidade da CPI, a blindagem dela em relação à apuração de fatos e de 
condutas e o foco total no presidente da República. Isso vai confirmar tudo 
aquilo que nós estamos denunciando desde o começo.
Espero que não seja assim. Espero realmente, que o relator e os membros da 
oposição queiram fazer uma investigação séria. Qualquer coisa fora disso 
significaria uma conspiração articulada contra o presidente da República, coisa 
que eu já venho denunciando desde o início.
JOTA: No começo da CPI havia um temor do governo de que a comissão praticamente derrubasse o Governo. E agora, como o governo vê essa investigação parlamentar?
Marcos Rogério: A oposição veio com tudo achando que derrubaria o presidente em pouco tempo. E, na verdade, você não consegue depor um presidente com legitimidade popular. A cada dia em que a oposição força a barra na CPI, mais movimento popular você tem a favor do presidente. Toda vez que eles partem para um ataque mais direto contra o presidente, você tem mobilizações, você tem manifestações a favor do presidente da República.
No 1º de maio olha quantas pessoas foram para a rua, no meio de uma 
pandemia as pessoas se expondo na rua para defender o governo, para 
defender o Presidente. Recentemente aqui em Brasília, o Movimento dos 
Pecuaristas do Brasil inteiro, depois no Rio de Janeiro outro movimento. Enfim, 
eles apostaram no caos, na teoria do caos para tentar enfraquecer o governo e, 
de repente, criar um ambiente, porque não tem nem isso. Eles forçam a mão 
para produzir o caos, enfraquecer o governo e criar um ambiente para o 
processo de impeachment. Esse é o foco da oposição. O tempo todo, não é 
outro o foco deles.
Aí, usam de subterfúgio a morte das pessoas, a questão da pandemia. Eles 
tentam criminalizar até o atendimento médico para poder botar a culpa no 
Bolsonaro. O médico que receita para um paciente hoje está sendo 
criminalizado para poder ficar “quem é culpado pelo médico que está 
oferecendo medicamento lá na ponta é o Bolsonaro”. Ora, quem fez o juramento 
de atender o paciente com a ciência que tem, com os instrumentos que tem, foi 
o médico. Mas eles querem colocar que o culpado é o Bolsonaro. Então, eu 
acho que aqueles que apostaram na teoria do caos para derrubar o governo talvez vão descobrir, daqui a pouco, que são eles que estão sucumbindo naquilo 
que criaram.
JOTA: Agora que o senhor citou o atendimento médico, assistindo à CPI, às vezes se tem a impressão de que a base tem um argumento único de defesa, de que tentaram criminalizar o atendimento médico e a cloroquina. A base está presa nesse argumento?
Marcos Rogério: Não. Na verdade esse argumento é uma reação ao que eles fizeram. A CPI, no começo, se transformou na CPI da cloroquina. Depois, na CPI da carta [da Pfizer, oferecendo vacinas], depois a CPI do gabinete paralelo e assim vai. Eles o tempo todo tentam criar um rótulo novo para poder focar nele. Em um dado momento da CPI, parecia que o problema da pandemia não era a Covid-19, era a cloroquina. ”O que mata não é a Covid-19, o que mata é a cloroquina”. Como? Então, o que eu e a base fomos fazer naquele momento? Buscar informações.
Eles querem fazer isso porque querem atingir o Bolsonaro, porque foi o 
Bolsonaro que falou da cloroquina, da hidroxicloroquina. Nós fomos buscar a 
informação para ver como estava essa situação dos estados. E aí, para nossa - 
não vou dizer surpresa - , mas para a nossa constatação, o que nós percebemos é que o que os membros da oposição faziam aqui na CPI não tinha respaldo nos seus próprios estados.
Por exemplo, o estado de Alagoas, eu tenho documentos aqui, continua com o 
protocolo ativo nesse momento. E no protocolo deles, para as fases 1 e 2 da 
Covid-19, está lá o remdesivir, a cloroquina, a hidroxicloroquina… E o relator 
condena aqui o que o filho dele, governador, faz lá. E aí? É correto isso? Eu falei isso aqui e mostrei o documento. Ele desmentiu? Porque não tem como demitir documentos, está lá.
O estado de São Paulo, até agosto do ano passado, distribuiu em escala, 
cloroquina e hidroxicloroquina. A primeira decisão da OMS foi em maio, mas até 
agosto [o governo paulista] estava distribuindo. Inclusive, em janeiro agora, 
distribuíram de novo para uma cidade, a cidade de Marília. Ou seja, eles querem 
condenar um procedimento que os médicos estão usando, adotando, e vão 
continuar adotando.
O Amapá tem uma das menores taxas de letalidade, e sabe qual é o segredo 
deles? Tratamento precoce. E eu tenho aqui o protocolo. Não é questão de estar 
preso à cloroquina. É desmontar a farsa da oposição, que quer mostrar para CPI 
que o único que defende a cloroquina é o Bolsonaro, que ele é o culpado, que ele está matando gente com a cloroquina.
JOTA: Mas, senador, em se tratando de um assunto médico, o presidente não sendo médico e sendo a autoridade principal do país.... Isso não é colocar a saúde pública em risco?
Marcos Rogério: Não vejo. Eu não recomendo ninguém para tomar medicamento A ou B, mas se eu sei que esse copo de café pode te ajudar de alguma maneira, eu posso dizer. O brasileiro, por natureza, é alguém que tem conselho para quase tudo. O presidente é um brasileiro. Agora, o presidente está receitando medicamento? Claro que não.
Esse medicamento tem quase cem anos de existência. Tem um medicamento 
mais conhecido do que esse? Lá atrás, quando veio a doença lúpus, 
mesmíssima situação da pandemia. Algum curioso, estudioso descobriu que 
ela responde bem no caso da lúpus. E de repente, até a Globo estava mostrando 
a cloroquina e a hidroxicloroquina. Naquele tempo não era crime e agora é? O 
que eu quero dizer com isso é que ninguém tem o direito de criminalizar o 
atendimento médico, a prescrição médica. É o médico que tem que dizer para o paciente qual o protocolo que ele tem que seguir, qual medicamento ele deve 
tomar. Eu não posso tirar isso do médico.
Quando vi o Omar [Aziz, presidente da CPI] apresentando um projeto para 
criminalizar a prescrição médica sem indicativo na bula, eu disse a ele que ele 
tinha sido mal assessorado. Porque eu não acredito que uma pessoa que se 
preocupa com as pessoas tenha feito isso por maldade, mas seria a maior 
maldade que se cometeria com os brasileiros um projeto dessa natureza.
Eu fiz curso fora do país sobre doenças raras. Não tem medicamento para 
pessoas com doenças raras. Se a doença é rara, em qual bula vai ter o 
indicativo? Mas a pessoa sofre. Sofre dores, desconfortos, situações das mais 
variadas. O médico não pode passar medicamento porque não está na bula? O 
que conta nesse momento? A avaliação clínica do médico, a experiência do 
médico. A pesquisa do médico. E ele vai administrar aquele paciente de acordo 
com a sua experiência. Vamos criminalizar isso também? Porque é o que está 
acontecendo com a covid-19. É exatamente isso, como uma doença rara, que 
você não tem ainda indicativo de medicamento próprio. Você administra com 
aquilo que você tem.
E eu espero que a gente possa vencer essa guerra ideológica, esse embate 
ideológico em relação a protocolos. Dentro do Senado hoje, está cheio de 
cientistas, os cientistas que são contra o tratamento e os cientistas que são a 
favor. A gente tem que parar com isso. A gente tem que defender aqui a 
autonomia do médico para cuidar do paciente.
JOTA: Um dos argumentos da oposição é o de que a CPI tem o objetivo de garantir vacina no braço dos brasileiros. O sr. acha isso possível ou é mais um 
discurso?
Marcos Rogério: Primeiro que CPI não é instrumento para garantir vacinas ou políticas públicas. CPI é instrumento de investigação, de controle político da administração, isso é  CPI. Agora, o que a CPI produziu até agora de avanços em relação à vacina? Ela negociou alguma coisa? O que a CPI faz é o contrário disso, a CPI produz caos, confusão. Coloca em guerra lados, pessoas, médicos, pacientes.
JOTA: Qual expectativa para as próximas semanas de CPI?
Marcos Rogério: O que eu espero é que a CPI cumpra o seu propósito, de investigar ações e omissões, condutas que podem ser consideradas criminosas ou meros erros, mas que cumpra sua finalidade. Ela não nasceu pra ver se houve crime em relação à política de enfrentamento? É isso que ela tem de fazer.
Quem compra vacina é o Ministério da Saúde e como senadores da República, 
nós todos temos o papel, e estamos fazendo isso, de cobrar o ministério e 
apoiá-lo na busca por mais vacinas, na busca por mais estruturação da rede de 
saúde Brasil afora. Mas como senadores, não como CPI.
Como CPI, lá na frente, ela vai ter de produzir um relatório dizendo onde 
aconteceram os erros e crimes. Ou então dizer que não houve crime, foram 
apenas erros considerando a situação inusitada. É um vírus que ainda está em 
fase de conhecimento, ninguém conhecia o vírus a fundo, a capacidade dele de 
mutação. Quando você pensa que conheceu o vírus no seu potencial, o seu nível de propagação e velocidade, vem uma outra [cepa] e mostra que vamos ter de começar de novo a buscar resposta.
Espero que a gente conclua o trabalho da CPI de uma maneira que não seja um 
julgamento apenas com base nessas retóricas, mas que a CPI possa valorizar 
evidências. E até agora, eu não tenho visto isso.

Marcos Rogério

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JOTA

Em entrevista ao JOTA, senador diz que a CPI tem "sentença pronta" e que, por enquanto, produz caos e confusão

Marcos Rogério: “Não consigo enxergar evidência de prova contra o presidente&#8221;

Marcos Rogério: “Não consigo enxergar evidência de prova contra o presidente"

Senador governista diz que CPI não achou prova de crime pelo presidente da República e que só gera caos e confusão