Isabella Macedo
Repórter freelancer

Indicada para secretaria de Enfrentamento à Covid, a infectologista Luana Araújo afirmou nesta quarta-feira (2) na CPI da Pandemia que nunca discutiu o protocolo do “tratamento precoce” com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em sua passagem relâmpago pelo governo Bolsonaro. A médica falou por cerca de sete horas aos senadores e garantiu que Queiroga havia lhe dado autonomia para trabalhar na secretaria ao convidá-la para o cargo.
“Isso nem foi um um assunto. Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente”, criticou a infectologista. No dia seguinte ao depoimento da “mentora” do presidente da República e defensora do uso da cloroquina, Nise Yamaguchi, a "quase" secretária de Enfrentamento à Covid fez fortes críticas ao debate em torno de um medicamento sem eficácia comprovada contra a doença. “Nós ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se nós estivéssemos escolhendo de que borda da terra plana a gente vai pular. Não tem lógica”.

A infectologista foi provocada diversas vezes sobre as razões para sua nomeação não ter se concretizado. Luana Araújo limitou-se a dizer que foi comunicada de que não seria mais a titular da secretaria. A médica afirmou que Queiroga a comunicou “com pesar” que ela não ocuparia o cargo. “Quando eu entrei no gabinete, ele me falou que ele tinha optado pela minha nomeação e que ele obviamente não duvidava da minha capacidade técnica, muito pelo contrário, que eu tinha sido de muita utilidade naquele momento todo, mas que, infelizmente, a minha nomeação não teria sido aprovada e que ele, lamentavelmente, ia precisar, enfim, abrir mão de mim”, resumiu.
Apesar das duras críticas ao tratamento precoce, Araújo evitou fazer críticas diretas ao governo, mas reclamou do que classificou como “politização incabível” da área da saúde. Segundo ela, ao ser convidada para trabalhar no ministério, buscou nomes para ajudar a compor a pasta, mas encontrou resistência de seus pares. “Infelizmente, por tudo que vem acontecendo, por essa polarização esdrúxula, essa politização incabível, os maiores talentos que a gente tem para trabalhar dentro dessas áreas não estavam exatamente à disposição para trabalhar nesta secretaria”, disse.
A cúpula da CPI definiu o novo calendário de depoimentos e os próximos passos da comissão. O novo cronograma foi alterado ao longo do dia após a Polícia Federal deflagrar a quarta fase da Operação Sangria no Amazonas, que investiga irregularidades em uso de verbas destinadas ao combate à pandemia.
Em consequência, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), decidiu adiantar o depoimento do governador do estado, Wilson Lima (PSC). O depoimento do governador amazonense estava previsto para o dia 29, mas foi adiantado para a próxima quinta-feira (10).
O próximo depoente será o ministro Marcelo Queiroga, que voltará a dar esclarecimentos à comissão um mês após dar o primeiro depoimento na CPI. Queiroga foi um dos primeiros convocados a falar aos senadores, mas seu depoimento foi considerado insatisfatório pelo G7, que conseguiu aprovar uma nova convocação.
Os senadores decidiram também que, a partir da próxima semana, a CPI terá mais um dia para ouvir depoimentos, com agendas às sextas-feiras.