Ficou para 15 de fevereiro

Entenda o racha que motivou a anulação da eleição para líder da bancada evangélica

Trocas de farpas, acusação de fraude e falha no sistema de votação foram alguns dos fatores que tumultuaram eleição

bancada evangélica
Silas Câmara e Eli Borges disputam o comando da Frente Parlamentar Evangélica - Crédito: Montagem com fotos de Elaine Menke e Pablo Valadares/Agência Câmara

A eleição que definiria a liderança para a bancada evangélica, marcada para a última quinta-feira (2/2), teve que ser anulada após uma série de confusões envolvendo parlamentares próximos ao governo Lula e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Esta seria a primeira vez desde a sua criação, em 2003, que a Frente Parlamentar Evangélica elegeria um líder. A escolha, até então, sempre foi por aclamação. Na disputa ao cargo, estão os deputados federais Silas Câmara (Republicanos-AM) e Eli Borges (PL-TO).

Na disputa, o candidato amazonense possui maior favoritismo no momento e se aproximou de integrantes do novo governo. Do outro lado, o candidato Eli Borges, busca apoio em seu partido, o mesmo do ex-presidente (PL).

Neste ano, os parlamentares da bancada evangélica não entraram em consenso sobre a escolha por aclamação e, como consequência, pela primeira vez na história da bancada, uma eleição para escolher o seu representante deveria acontecer.

Entretanto, uma série de eventos e mal-entendidos interrompeu o pleito, que ocorreu de portas fechadas à imprensa e assessores, na justificativa de evitar a disputa de votos. A tentativa de eleição foi marcada por bate boca entre os parlamentares, ameaça de judicialização da votação e acusação de fraude e falhas no sistema de votação. Iniciada às 10h em segunda chamada por ausência de quórum, a discussão entre o grupo se sustentou por mais de três horas.

Na disputa inicial, concorriam também o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) e o senador Carlos Viana (Podemos-MG), mas os dois desistiram de concorrer ao cargo, na quarta-feira (1/2), para evitar as eleições na bancada.

O impasse sobre a votação começou antes mesmo do início da votação, quando o atual presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), tentou negociar um revezamento durante os dois anos de comando entre Câmara e Borges. A sugestão de Cavalcante era que Câmara seria o presidente durante o primeiro ano de governo de Lula, e Borges assumiria em 2024. Borges, no entanto, não aceitou a proposta, e a solução encontrada por Cavalcante foi de recorrer ao voto.

Durante o pleito, Cavalcante informou que houve divergência entre o número de votos e a quantidade de parlamentares votantes que assinaram a lista de presença, indicando que, parlamentares que não estavam inclusos na lista conseguiram votar. Nomes como o pastor Isidório e Otoni de Paula, reclamaram durante a eleição. O pastor gritou que seu nome não estava incluso na lista e de Paula, por sua vez, sugeriu que o não cumprimento das normas poderia sistematizar uma fraude. ”Se for declarado um vencedor, eu vou judicializar porque essa eleição foi fraudada”, declarou.

“Está sendo fraudada a eleição pelo grupo do Silas Câmara. A gente não fala que é crente, a palmatória do mundo? Corrige gays, corrige todo mundo, e faz essa sacanagem aqui dentro?”, afirmou de Paula, segundo relatou o jornal “Folha de S.Paulo”. Após quatro horas marcadas por desentendimentos e acusações de fraudes, o pleito foi anulado.

“O nosso sistema, por problema de internet, tem várias quedas, e por isso tivemos problemas na nossa lista. Nós tivemos alguns que, por acharem que o nome estava na lista, colocaram seus votos”, afirmou Cavalcante. ”Por conta disso, minha decisão foi pela nulidade da eleição nesse momento”, finalizou.

Durante o evento Lide Brazil Conference, do qual participou remotamente na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes comentou a votação da bancada evangélica, sem citá-la explicitamente.

“Outra observação irresistível: vários parlamentares defenderam a volta do voto escrito, mas a ironia ocorre e acaba sendo estranho, que vários desses deputados, ontem, pediram a anulação de uma votação por voto escrito de uma bancada que sempre defendeu a volta do voto escrito, dizendo que a cédula escrita é facilmente fraudada”, disse.

Postura sobre governo Lula divide parlamentares

Outro fator que também intensifica o racha entre os parlamentares da bancada é o aceno de alguns membros a dialogar e adotar uma postura moderada com o governo Lula. Otoni de Paula, deputado bolsonarista, por exemplo, afirmou a aliados do presidente que adotaria postura governista em todas as pautas.

Ou seja, além da disputa pela representação da bancada, que costuma participar ativamente das pautas — especialmente das de costume — do Legislativo, a briga também se resume ao embate entre parlamentares que buscam uma aproximação com o Lula e aos que defendem uma oposição mais firme ao governo.

Apesar dos contratempos ocorridos na votação, a eleição para a escolha do líder da bancada evangélica foi remarcada para a segunda quinzena de fevereiro, e está prevista para acontecer na próxima quarta-feira (15/2). Este ano, o grupo conta com 132 deputados e 14 senadores.