Isabella Macedo

O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou aos senadores da CPI da Pandemia que as conversas com o Ministério da Saúde para a compra da CoronaVac “não prosseguiram” após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desautorizar publicamente o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello. O ex-ministro e general da ativa negou a paralisação das negociações durante o depoimento que prestou à CPI na última semana.
Em outubro de 2020, o ministério da Saúde anunciou a assinatura do protocolo de intenção de compra de 46 milhões de doses da vacina, desenvolvida pelo instituto paulista em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. No dia seguinte ao anúncio, Bolsonaro disse que o imunizante não seria comprado. “Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”. 
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Segundo Covas, as conversas “não prosseguiram” após as declarações do presidente. “Infelizmente essas conversações não prosseguiram porque houve uma manifestação do presidente da República naquele momento, dizendo que a vacina não seria, de fato, incorporada [ao Programa Nacional de Imunização], não haveria o progresso desse processo”, afirmou o presidente do Butantan. 
Na semana passada, Pazuello <a href="https://www.jota.info/legislativo/cpi-pazuello-bolsonaro-19052021">negou a ordem para cancelar a compra do imunizante </a>e minimizou o episódio, que ficou conhecido pela frase “Um manda e o outro obedece”. O ex-ministro ainda disse que, apesar das declarações do presidente e das publicações em redes sociais, Bolsonaro nunca deu ordem para que o acordo com o Instituto Butantan não fosse firmado. 
Covas confirmou que não houve cancelamento formal, mas tampouco houve avanço nas tratativas após o cancelamento. “Todas essas negociações que ocorriam com troca de equipes técnicas, com troca de documentos, a partir desse momento, elas foram suspensas. Quer dizer, houve, no dia 19, um dia antes da reunião com o ministro, um documento do ministério que era um compromisso de incorporação, mas, após, esse compromisso ficou em suspenso e, de fato, só foi concretizado em 7 de janeiro”, explicou o presidente do Butantan. 
A paralisação das conversas impediu, segundo Dimas Covas, que o Brasil garantisse, até o fim de 2020, 60 milhões de doses da CoronaVac. Foram enviados três ofícios ao Ministério da Saúde oferecendo a vacina entre o fim de julho e o início de outubro. A pasta aceitou a proposta apenas na terceira oferta. O primeiro documento abordando a compra do imunizante foi enviado em 30 de julho com a proposta de produção e entrega das 60 milhões de doses. A oferta foi reforçada em agosto, mas a resposta “não foi positiva”. Ambas propunham o mesmo número de doses com entrega até o fim do ano. 
Em outubro, o Butantan mandou uma nova oferta, com número superior de doses: 100 milhões, a serem entregues até maio deste ano. Após a paralisação das tratativas, o contrato só foi efetivamente assinado em 7 de janeiro. Mesmo sem ter contrato com o ministério, que era seu único cliente, no dia 30 de dezembro, o Butantan já tinha cerca de 10 milhões de doses da vacina. 
O relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), apontou em balanço realizado após as primeiras horas de depoimento - foram mais de sete horas de reunião - nove pontos importantes para a investigação parlamentar, dos quais seis estão diretamente relacionados ao imunizante:
- a demora nas respostas do governo às ofertas do instituto, 
- a ausência de investimentos apesar de pedido expresso do Butantan, 
- a afirmação de que as tratativas esfriaram após declaração do presidente da República, 
- o possível início da vacinação no Brasil ainda em dezembro com pelo menos 10 milhões de doses da CoronaVac, 
- a contraposição da paralisação das negociações com o Butantan e a assinatura do contrato com a AstraZeneca, e
- a dificuldade em conseguir voluntários para os testes do imunizante por causa da “campanha difamatória” do governo federal. 
Além dos apontamentos sobre o imunizante, a equipe do senador também ressaltou a contradição do depoimento de Covas com os depoimentos de Eduardo Pazuello, Ernesto Araújo e Fabio Wajngarten em relação às relações com a China. Ao contrário do que disseram Pazuello, Araújo e Wajngarten, o presidente do Butantan afirmou que as declarações de integrantes do governo federal, especialmente do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), dificultaram sim as tratativas com o país asiático, principal fornecedor do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA).

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, exibe a CoronaVac (Foto: Governo de São Paulo)

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JOTA

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