Isabella Macedo

Em depoimento de cerca de 7 horas à CPI da pandemia nesta terça-feira (18) o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo afirmou que todas as ações da pasta sob seu comando foram guiadas por orientações do Ministério da Saúde, implicando ao ex-ministro Eduardo Pazuello ainda mais complicações no depoimento desta quarta-feira (19). 
Araújo disse que a decisão de optar por uma cobertura menor dentro do consórcio internacional Covax Facility, liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi do Ministério da Saúde. “Essa decisão não foi minha, não foi do Ministério das Relações Exteriores, foi uma decisão do Ministério da Saúde, dentro da sua estratégia de vacinação”, disse ele. Ao aceitar entrar no consórcio, o Brasil rejeitou a proposta de compra de cobertura vacinal para 50% da população, optando pela menor opção disponível, de apenas 10%.
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Ernesto foi questionado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), e por demais senadores que participaram da reunião sobre a construção de políticas internacionais de onde partiram as diretrizes para que o Itamaraty orientasse seu corpo diplomático na busca de vacinas, insumos e de cloroquina nas negociações com outros países. Por mais de uma vez, Araújo afirmou que as orientações vieram do Ministério da Saúde. “O Itamaraty, praticamente em todos os momentos, atuou por coordenação com o Ministério da Saúde”, disse o ex-ministro sobre possíveis orientações de Bolsonaro na política externa brasileira. 
O ex-chanceler também confirmou que a <a href="https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/05/18/ernesto-araujo-confirma-pedido-de-insumos-a-india-para-producao-de-cloroquina">troca de mensagens e telegramas com a Índia</a> para a compra de insumos para produção de cloroquina foi um pedido da pasta . À época, em abril de 2020, ainda não havia resultado concreto sobre o medicamento e a Índia havia proibido exportações de insumos para produção da droga. Os telegramas citavam “testes bem-sucedidos” e “resultados promissores” em hospitais brasileiros. 
Araújo confirmou que o Itamaraty não tinha embasamento técnico para as afirmações, feitas a pedido do ministério da Saúde - na época, já comandado por Pazuello. “Na minha atribuição, eu nunca recebi uma relação de testes realizados. Como eu disse, essa atuação para liberar a exportação de uma determinada partida de hidroxicloroquina da Índia foi a pedido do Ministério da Saúde e devidamente justificada”. Durante o processo, Bolsonaro também pediu ao Itamaraty para que viabilizasse uma conversa telefônica entre ele e o primeiro-ministro indiano.
<h3>Ernesto Araújo e a relação com a China</h3>
Outro ponto abordado pelos senadores na comissão foi a relação turbulenta do ministro com a China, graças a declarações hostis direcionadas ao país e, especialmente, ao embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming. Confrontado sobre o artigo intitulado “Chegou o comunavírus” escrito e publicado por ele em seu blog, o ex-ministro negou que tenha atacado a China, e afirmou que fez apenas uma análise do texto de Slavoj Zizek, mencionando o gigante asiático “lateralmente”. 
A resposta irritou o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM). “O senhor não acha que chamar "comunavírus" não é uma coisa que indispõe a relação comercial amigável que nós sempre tivemos com a China? Se o senhor não acha isso, eu não sei o que mais achar”, disse o amazonense. Aziz também alertou o ex-chanceler para que ele falasse a verdade em suas respostas, indicando que a resposta estava sendo interpretada como uma mentira à CPI.
Araújo manteve a versão mesmo quando questionado por outros senadores. Ele também minimizou as farpas públicas trocadas com o embaixador da China no Brasil. Araújo disse “jamais” ter ofendido Wanming, e sim ter emitido notas oficiais após o embaixador chinês ter ofendido Bolsonaro e ter feito nota em tom ameaçador a brasileiros que falassem mal da China.

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JOTA

Ex-chanceler também tentou negar embaraços diplomáticos com China e irritou senadores

Araújo: Itamaraty obedeceu Ministério da Saúde ao optar por menor cobertura vacinal

Ex-chanceler Ernesto Araújo responsabiliza Ministério da Saúde por opção de cobertura menor dentro do consórcio internacional Covax Facility