
O senador Marcos Do Val (Podemos-ES) está no centro do noticiário desta quinta-feira (2/2) por conta de uma declaração dada durante uma live ontem sobre ter sido coagido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a participar de uma tentativa de golpe de estado. Após ter feito a afirmação e de ter anunciado que estava deixando ao mandato, o parlamentar amenizou a declaração sobre Bolsonaro, mas confirmou que o então presidente estava presente em uma conversa de conteúdo golpista. Na ocasião, houve a proposta de gravar ilegalmente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) na tentativa de comprometê-lo. Embora tenha anunciado nas redes sociais, Do Val falou depois que sua renúncia não é certa.
A polêmica começou nesta quinta-feira (2/2) quando o senador disse em uma live que Bolsonaro tentou coagi-lo a dar um golpe de estado junto com ele.
“Eu ficava ‘puto’ quando me chamavam de bolsonarista. Eu vou soltar uma bomba aqui para vocês: sexta-feira [3 de fevereiro] vai sair na [revista] Veja a tentativa do Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele. Só para vocês terem uma ideia. E é lógico que eu denunciei”, disse na live.
Depois, ele publicou uma nota nas redes sociais em que anunciou a renúncia do mandato – ainda faltam mais quatro anos. Ele escreveu que “após quatro anos de dedicação exclusiva como senador pelo Espírito Santo, chegando a sofrer um princípio de infarto”, estava saindo definitivamente da política.
“Nos próximos dias, darei entrada no pedido de afastamento do senado e voltarei para a minha carreira nos EUA. Nada existe de grandioso sem paixão. Essa paixão não estou tendo mais em mim. As ofensas que tenho vivenciado, estão sendo muito pesado para a minha familia. Que Deus conforte os corações de todos os meus eleitores. Desculpem, mas meu tempo, a minha saude até a minha paciência já não estão mais em mim! Por mais que doa, o adeus é a melhor solução para acalmar o meu coração…”, diz a nota.
Porém, depois disso, em entrevista à “Globonews” e em entrevista coletiva nesta quinta-feira (2/2), Do Val disse que foi chamado pelo então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) para uma reunião com Bolsonaro em dezembro. Silveira foi preso hoje, por descumprir medidas cautelares do Supremo após ser condenado por publicar ataques a ministros da Corte nas redes sociais. A prisão não tem relação com o que foi relatado por Do Val.
O senador afirmou que, na reunião, Silveira sugeriu que Do Val gravasse ilegalmente uma conversa com Moraes, que comprometesse o magistrado.
“Aí, o Daniel: ‘Puxa, não, porque a nossa ideia seria botar um gravador e você faria uma agenda com ele [Moraes]. Nessa agenda, você tentaria conduzir a conversa para que ele pudesse dizer que ultrapassou a linha da Constituição ou que ele não seguiu a Constituição. E, com essa fala a gente conseguiria – isso o Daniel dizendo – impedir a posse do Lula, invalidar a eleição, o presidente continuaria no cargo, o ministro poderia ser preso”, afirmou o senador à GloboNews.
Agora, segundo a nova versão de Do Val, Bolsonaro nada disse sobre o que estava sendo colocado por Silveira. À “GloboNews”, o senador seguiu relatando a situação:
“[Bolsonaro] Ficou calado. Ficou balançando a cabeça assim, tipo ‘ah tá’. O momento ali é como se o Daniel já tivesse dito para ele essa ideia e aí me levou para, tipo assim, ‘tá vendo, eu tenho alguém para fazer isso'”.
Depois, em entrevista coletiva, além de aliviar o que havia falado sobre o Bolsonaro, sem acusar abertamente o ex-presidente de coação, como havia feito, Do Val disse também que não era certo que renunciaria ao mandato. Segundo ele, houve pedidos de assessores e parlamentares para que continuasse no mandato.
O imbróglio envolvendo Do Val acontece depois de ele ter feito campanha para Rogério Marinho (PL-RN) para a presidência do Senado, derrotado por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que foi reeleito. Após o resultado da eleição, Do Val aparece num vídeo abraçando Pacheco, o que irritou bolsonaristas nas redes sociais.
Diante das declarações de Do Val, Moraes mandou a Polícia Federal ouvir o senador.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) falou em Plenário sobre as afirmações de Do Val.
“Ele [Do Val] já havia me relatado o que tinha acontecido, que seria trazido a público, mas numa linha de que essa reunião que aconteceu seria uma tentativa de um parlamentar de demover pessoas que estavam nessa reunião de fazer algo inaceitável, absurdo e ilegal”, afirmou.
Depois, em nota, o filho de Bolsonaro voltou a falar sobre o tema:
“Nunca houve qualquer tentativa de golpe. O presidente Jair Bolsonaro é um defensor da lei e da ordem e sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição. Seu mandato presidencial se pautou pelo estrito respeito à legislação e às instituições, mesmo quando setores da mídia tentaram induzir o público a uma imagem diferente. Tanto não houve qualquer tentativa de golpe ou crime, que o presidente Bolsonaro deixou a presidência em 31 de dezembro”.