Laura Diniz

Tive o prazer de conversar com Márcio Thomaz Bastos dezenas de vezes. Foi ele quem ensinou o ex-presidente Lula a usar meias da Galeries Lafayette, de Paris, porque elas não enrugam no tornozelo e saem bem nas fotos. Assim como o amigo Roberto Civita, tinha uma cama reclinável para ler confortavelmente à noite.
Dizia que adorava as primeiras consultas, em que o cliente abre o coração, expõe seu drama e fala horas – e não pressionava quando ele não revelava tudo. Sempre contava alguma passagem que o fazia lembrar do amigo Arnaldo Malheiros.
Tomava iogurte à tarde. Se envaidecia ao contar que fazia musculação, pilates e que, muitas vezes, ia ao escritório caminhando. No julgamento do mensalão, estava se habituando com um iPhone -- respondia torpedos no plenário, bem lentamente, usando apenas o indicador da mão direita.
Mesmo quando dizia que não sabia nada sobre algum assunto que dominava, era adorável.
A maioria das conversas tinha de ser sobre política e grandes casos de repercussão, para reportagens do dia ou da semana. Mas a gente quase sempre achava um tempo para falar de júri, uma paixão compartilhada, de uma área em que ele foi rei.
Um dia, ele contou que, na época dos júris famosos, tinha uma estratégia especial para escolher o conselho de sentença. Escrevia os memoriais e ia entregá-los, pessoalmente, na casa de cada jurado, acompanhado da mãe do réu. Ela batia na porta, com memoriais em mãos, ele ao lado, olhos no jurado. Ela se apresentava como mãe do réu e entregava a papelada. “A reação da pessoa dizia tudo. Bastava estar ali para ver.”

unnamed

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

Pilates, smartphone e a paixão pelo júri

Márcio Thomaz Bastos, de perto

Pilates, smartphone e a paixão pelo júri