Lava Jato

Vitoriosos do mensalão assumem defesas na Lava Jato

Políticos citados por Rodrigo Janot passam o sábado em busca de advogados que inocentaram suspeitos na AP 470

08/03/2015|06:20
Atualizado em 09/03/2015 às 09:51
Nelson Jr./SCO/STF

Para alguns advogados, principalmente, em Brasília e São Paulo, o telefone não parou de tocar desde que a lista com os nomes de políticos investigados na Lava Jato foi divulgada. Eles podem enfrentar um julgamento comparável ao do mensalão. Não à toa, advogados que conseguiram a façanha de inocentar acusados no esquema de compra de votos da base aliada estão entre os mais procurados.

O criminalista Pierpaolo Bottini, que já defende executivos da Camargo Corrêa na justiça federal do Paraná, tem no currículo a absolvição do ex-deputado do PT, Professor Luizinho. O ex-líder do governo na Câmara foi acusado de receber R$ 20 mil mas não houve comprovação de que Luizinho e assessores soubessem da origem ilícita do dinheiro. Agora, na Lava Jato, vai assumir a defesa do deputado Arthur Lira, do Partido Progressista. Bottini vê diferença entre os dois casos.

"Em primeiro lugar, o mensalão era uma única ação penal que envolvia todos os parlamentares e pessoas que não tinham prerrogativa de foro. Nesse caso, você tem inúmeros inquéritos autônomos, isolados, e praticamente todos eles apenas com pessoas com prerrogativa de foro. Existem fatos e provas diferentes, então vai ter uma repercussão diferente do mensalão. Tenho certeza que não andarão todos juntos, alguns mais rápidos, outros mais lentamente", afirmou.

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Se o objetivo é escolher advogados que tenham know how, o criminalista Antônio Carlos de Almeira Castro, o Kakay, carrega a inocência do publicitário Duda Mendonça e da sócia Zilmar Fernandes, também ex-réus do mensalão. A acusação era de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O advogado se fundamentou na data de transferência autorizada pelo Banco Central. Kakay argumentou que o crime poderia ser o de sonegação de impostos mas destacou que a Procuradoria Geral da República não apresentou denúncia neste sentido.

Até o momento, na Lava Jato, ele assinou contrato com 3 políticos: a ex-governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e os senadores Edison Lobão e Romero Jucá. Mas revela que neste sábado (07/03), foi procurado por outros 3 políticos que também querem ser defendidos por ele.

"Eu vou me impôr um limite e trabalhar com 6 pessoas. É muito desgaste, muita responsabilidade". Kakay atuou no início da Lava Jato na defesa do doleiro Alberto Youssef, que deixou porque não concordava com a assinatura de delação premiada. Decidiu que não será advogado dos empreiteiros porque as empresas questionam Youssef.

"Eu não poderia falar mal de um ex-cliente meu", explica. "Eu acredito que quase todas essas declarações das delações vão ser anuladas. O Ministério Público está substituindo o Judiciário e não pode fazer isso", critica o advogado.

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Eduardo Ferrão defendeu o ex-deputado Pedro Corrêa no mensalão. Mas o progressista acabou condenado a 7 anos e 2 meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. A pena poderia ter sido maior, de 9 anos e 5 meses, mas na reta final o ministro do STF Marco Aurélio Mello mudou o voto sobre formação de quadrilha, o que levou à absolvição do réu no crime e a pena foi reduzida. Na Lava Jato, ele defende executivos da OAS mas avaliou que não era "recomendável" aceitar a defesa de políticos afirma o criminalista.

"Alguém é acusado de ter pago, e alguém é acusado de ter recebido. Se eu falar que fulano não pagou, eu não posso ao mesmo tempo sustentar que fulano não recebeu porque são situações distintas. São pólos opostos, interesses opostos. Seria a mesma tese, mas a própria mobilidade do advogado fica prejudicada por estar defendendo interesses distintos", diz Ferrão.

Lava Jato e mensalão terão outro ponto em comum. O ex-procurador da república, Antônio Fernando Souza, que denunciou o mensalão ao STF, aceitou o convite do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e vai defendê-lo no novo escândalo.logo-jota