Bárbara Lobato

A Polícia Federal tentou por três vezes ouvir o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, antes de apontar indícios de crime contra ele na operação Zelotes - que investiga pagamento de propina por decisões administrativas contra a Receita Federal e venda de medidas provisórias com benefícios fiscais.
A Zelotes nasceu para apurar indícios de que integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) aceitavam suborno para decidir de uma determinada maneira ou adiar a decisão de questões importantes para grandes contribuintes.
Última instância de questionamento administrativo contra autuações e cobrança de impostos pela Receita, o Carf passou quase todo o ano passado fechado e promete revisar decisões que a força-tarefa da Zelotes aponte como suspeitas.
Investigadores da PF, do Ministério Público Federal, da Receita e da corregedoria do Ministério da Fazenda também passaram a apurar indícios de que cortes de tributos e outros benefícios tributários em medidas provisórias foram alvo de negociação com lobistas para beneficiar grandes empresas, em especial montadoras de veículos.
Tentativas de ouvir Trabuco
A primeira tentativa da PF foi enviada à assessoria jurídica do Bradesco na quarta-feira dia 1ª de abril . Mais à frente, a PF conversou com advogados do Bradesco e tentou por mais duas vezes tomar o depoimento de Trabuco, também sem sucesso.
Nas três oportunidades, Trabuco atribuiu a impossibilidade de conversar com os investigadores por questões de “agenda e compromissos de trabalho”. Ele ainda não foi ouvido na Zelotes.
O JOTA questionou a assessoria do Bradesco sobre as tentativas da Polícia Federal em ouvir o presidente da instituição financeira. O banco respondeu que “não houve intimação”.
Segundo o JOTA apurou, dois diretores vice-presidentes prestaram esclarecimentos aos investigadores da força-tarefa da operação Zelotes: Domingos Abreu e Luiz Angelloti.
A Polícia Federal indiciou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, e mais nove pessoas em um inquérito na Operação Zelotes pelos crimes de tráfico de influência, corrupção ativa, corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro na terça-feira (31/5).
Segundo fontes ouvidas pelo JOTA, a recusa de  Trabuco em comparecer não interferiu no convencimento de delegados e procuradores, pois as suspeitas e investigação estavam postas àquela altura e o objetivo era ouvir a versão dele sobre as condutas investigadas.
Em nota ao mercado financeiro, também no dia 31 de maio, o banco informou que "dois diretores do Bradesco prestaram depoimentos à Polícia Federal em São Paulo".
O Bradesco informou ainda que "o indiciamento toma de surpresa a Administração do Bradesco, considerando que os dois Diretores foram ouvidos apenas como testemunhas e o Presidente da Companhia sequer foi ouvido e tampouco participou de qualquer reunião com representantes do escritório de assessoria tributária”.
Além dos dirigentes do Bradesco, foram indiciados na Zelotes: Lutero Fernandes do Nascimento, o braço direito do ex-secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo; o ex-conselheiro do Carf Jorge Victor Rodrigues, o ex-auditor da Receita Jeferson Salazar, o ex-chefe da Ordem e Análise Tributária da Delegacia de Instituições Financeiras de São Paulo, Eduardo Cerqueira Leite, além de três lobistas.
Processo de investidores americanos
Na sexta-feira (3/6) o Bradesco virou alvo de processo movido por investidores em um tribunal dos Estados Unidos, sob suspeita de ocultar envolvimento em suposto esquema de fraude na Receita Federal investigado pela Zelotes.
O processo foi aberto no tribunal distrital de Manhattan em nome de detentores de recibos de ações (American Depositary Receipts - ADRs) do Bradesco. A ação foi feita em nome dos investidores em ADRs do banco entre 30 de abril de 2012 e 31 de maio de 2016, ou seja, tem caráter coletivo.
Leia abaixo o comunicado ao mercado financeiro do Branco Bradesco.
Comunicado ao Mercado
O Banco Bradesco S.A. (“Bradesco ou Companhia”) comunica ao Mercado que, em um dos inquéritos desdobrados da chamada “Operação Zelotes”, foram indiciados três integrantes da Direção do Banco, inclusive o seu Diretor-Presidente.
Segundo relatório da Polícia Federal, membros da Diretoria do Banco mantiveram contato com pessoas investigadas por crimes de corrupção ativa.
No âmbito do citado inquérito, dois Diretores do Bradesco prestaram depoimentos à Polícia Federal em São Paulo, quando esclareceram que foram procurados por escritório de assessoria tributária que se ofereceu para advogar uma questão fiscal junto ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais “CARF”.
Desses contatos não se efetivou qualquer proposta, contratação ou pagamento, mesmo porque a pendência fiscal já se encontrava sob o patrocínio de renomados tributaristas.
Cabe informar que o processo junto ao CARF, objeto da investigação, foi julgado em desfavor do Bradesco por unanimidade – 6 x 0, e encontra-se, agora, submetido ao Poder Judiciário. A Companhia informa que jamais prometeu, ofereceu ou deu vantagem indevida a quaisquer pessoas, inclusive a funcionários públicos, para encaminhamento de assuntos fiscais ou de qualquer outra natureza.
O indiciamento toma de surpresa a Administração do Bradesco, considerando que os dois Diretores foram ouvidos apenas como testemunhas e o Presidente da Companhia sequer foi ouvido e tampouco participou de qualquer reunião com representantes do escritório de assessoria tributária.
O Bradesco reitera seus elevados padrões de conduta ética e reafirma a sua confiança no pleno funcionamento da Justiça.
Cidade de Deus, Osasco, SP, 31 de maio de 2016
Banco Bradesco S.A.
Moacir Nachbar Junior 
Diretor Executivo Gerente

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JOTA

Presidente do Bradesco citou problemas de agenda 

PF tentou ouvir Trabuco três vezes antes de indiciamento

Presidente do Bradesco citou problemas de agenda