Mariana Muniz

Os livros didáticos da rede pública abordarão, a partir de 2019, questões relativas à igualdade de gênero. A informação é da secretária de políticas especiais para mulheres, Fátima Pelaes, que participou nesta terça-feira (09/5) do 2º Workshop Internacional de Acesso à Justiça, em Brasília.
De acordo com Pelaes, a inclusão do tema faz parte de uma iniciativa do programa Rede Brasil Mulher, em parceria com o ministério da Educação. “A ideia é que, desde o pré-escolar, meninas e meninos possam entrar em contato com uma mudança de atitude” relativa aos direitos das mulheres, contou.
A secretária disse que a iniciativa é consequência de uma "enorme preocupação com a nova geração que continua repetindo e sofrendo a violência e de como o machismo está tão forte ainda na sociedade".
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Pelaes participou da mesa de abertura do programa “Respostas Eficazes à Violência contra as Mulheres”, que contou ainda com a presença de Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Nicole Hauspurg, diretora para direitos humanos da ONG Vital Voices, o juiz titular da Vara de Violência Doméstica do Distrito Federal Ben-hur Viza e Lírio Cipriani, presidente do Instituto Avon.
O evento tem por objetivo desenvolver e aprimorar estratégias e planos de ação coordenados para superar desafios enfrentados na denúncia, investigação e resolução dos casos de violência contra a mulher no Brasil, e acontece até a próxima quinta-feira (11/5).
Ao todo, o workshop reúne 60 participantes entre agentes públicos, policiais, integrantes do Ministério Público, das Defensorias Públicas, magistrados federais e estaduais e representantes de organizações e movimentos sociais ligados ao combate à violência doméstica. A ideia é oferecer um treinamento multidisciplinar focado no enfrentamento coordenado às violências doméstica e sexual.
Histórias reais 
Durante a manhã, profissionais ligadas ao enfrentamento da violência contra a mulher compartilharam experiências. Foi o caso da subtenente da Polícia Militar do Distrito Federal Cristiana Camarano.
“Apenas no domingo tivemos quatro ocorrências que foram conduzidas pela PM, uma delas tentativa de feminicídio. E não estou falando de bairros de classe baixa, todos esses casos vieram de áreas nobres de Brasília. O que nos leva a pensar na subnotificação das queixas, em como as mulheres têm dificuldade para denunciar as agressões”, desabafou.
Para Ana Rita Prata, defensora pública do Estado de São Paulo, ter a denúncia como caminho único pode ser um obstáculo ao acesso à Justiça. “Questiono se não se tem fechado as portas para as mulheres colocando esse como o único caminho para que ela seja acolhida, se alternativas à justiça criminal estão sendo pensadas”, apontou.
Números
Durante o encontro também foram apresentados detalhes da pesquisa “Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, realizada pelo Instituto Datafolha a pedido do Instituto Avon e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O levantamento aponta que 503 mulheres com mais de 16 anos foram vítimas de agressão física a cada hora em 2016. Outro dado que expõe a dimensão do problema dá conta que apenas 11% das mulheres que sofreram violência no país procurou uma delegacia da mulher.
“O que muitos desses números indicam é a falha de uma política que trata a questão da violência contra a mulher apenas do ponto de vista policial, esquecendo dos aspectos educativos, pedagógicos, que ajudariam certamente a prevenir essa quantidade enorme de casos”, explicou Samira Bueno, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Para a pesquisadora, é preocupante a maneira como o Estado lida com o enfrentamento à violência de gênero. “Estamos diante de um constante enxugamento de gelo, já que a maior parte dos investimentos está voltada para o que acontece após a violência. ”

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JOTA

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