Guilherme Pimenta

Quando o PCC começava a se expandir, no final dos anos 90 e início de 2000, as autoridades do governo paulista negavam até mesmo a existência da facção. Anos depois, quando já não era mais possível insistir na negativa, o governo bateu cabeça para combatê-los, com diversos embates políticos que duram até hoje.
As informações constam no livro “<a href="https://www.amazon.com.br/gp/product/858880803X/ref=as_li_tl?ie=UTF8&amp;camp=1789&amp;creative=9325&amp;creativeASIN=858880803X&amp;linkCode=as2&amp;tag=j04df-20&amp;linkId=c817f9620567db227047b208ee1b861c" target="_blank" rel="noopener">A Guerra - a ascensão do PCC no mundo do crime no Brasil</a>”, de autoria do jornalista Bruno Paes Manso e da pesquisadora Camila Nunes Dias, da Universidade Federal do ABC.
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Os especialistas no tema da violência narram na obra tensões na cúpula da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo, principalmente após os ataques de maio de 2006, quando o então secretário Nagashi Furukawa decidiu transferir 765 lideranças para as penitenciárias de Presidente Venceslau e de Presidente Bernardes, o que gerou revolta da facção.
Em <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/nagashi-furukawa" target="_blank" rel="noopener">diários publicados em 2015 no</a> JOTA, Furukawa afirma que “para se chegar a essa crise, porém, muitas causas remotas, muitos equívocos e muitas omissões aconteceram ao longo de décadas”.
Após os atentados, que resultaram na morte de 564 pessoas (59 agentes públicos e 505 civis, como narra o livro), o secretário teria sido o “bode expiatório”, sendo afastado da secretaria e substituído por Antonio Ferreira Pinto.
Pinto, segundo a obra, teria fortalecido o papel do Ministério Público e da Polícia Militar no combate ao crime, colocando policiais civis na geladeira. Sob sua gestão, o delegado Ferraz Pontes, um dos líderes nas investigações do PCC, afirmou ter sido perseguido pelo então secretário.
Anos depois, Pinto deixaria a SAP, quando “os policiais civis voltaram a ter maior participação nas investigações contra a facção”. “O governo parecia bipolar”, escrevem os autores.
Enquanto isso, a facção crescia como nunca, quando seu faturamento cresceu 300%, passando de R$ 50 milhões para R$ 200 milhões. Passou a ter um departamento jurídico estruturado e um sistema próprio de Justiça, funcionando, como dizem os autores, como “agência reguladora do crime”.
“Promotores e juízes reiteram o risco de testemunharmos a transformação da facção paulista no cartel internacional de drogas, impondo aos brasileiros desafios semelhantes aos dos colombianos e mexicanos”, escrevem os autores.
Outro descompasso, aponta o livro, está nas decisões do Poder Judiciário em relação à cúpula da facção. De um lado, enquanto condenou Marcola a 30 anos de prisão, soltou Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gêgê do Mangue, duas semanas antes de ser julgado por um júri popular.
<h3>Ilegalidades</h3>
Bruno Paes Manso e Camila Nunes narram na obra o que avaliam ser todo o processo que contribuiu para a formação do PCC. Episódios de violência reiterada por parte da polícia em favelas nas décadas de 70, 80 e 90, com anuência do MP e do Judiciário, teriam sido decisivas para o surgimento e fortalecimento da facção, que se estruturava como um partido contra os abusos.
“Historicamente, a forma da polícia atuar, violenta e arbitrária, fortalece a facção”, afirmou ao JOTA Bruno Paes Manso. “O que é mais surreal é a atuação do MP. Nunca atuou como independente. Boa parte dos secretários estaduais era membros do MP, e isso ficou comprovado quando durante a gestão do Ferreira Pinto, em 2012, o [Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado] Gaeco fazia escutas irregulares em parceria com a PM”, completou Camila Nunes.
Os autores destacam que a intensa repressão governamental se mostrou falida. Eles defendem, por exemplo, o uso de inteligência, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), numa tentativa de asfixiar financeiramente a facção.
“As polícias e os ministérios públicos estaduais e federais dispõem de tecnologia para investigar as contas em que as fortunas são depositadas e as atividades econômicas empregadas para lavar esse capital. Talvez falte pessoal e vontade política”, dizem Camila Nunes Dias e Bruno Paes Manso.

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JOTA

Autores defendem uso de órgãos de inteligência para fiscalizar transferências financeiras de líderes de facções

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Autores defendem uso de órgãos de inteligência, como o Coaf, para fiscalizar transferências financeiras de líderes de facções