Nino Guimarães
Foi repórter do JOTA
O humorista Léo Lins se tornou réu num processo criminal por fazer piadas com minorias, teve as contas no YouTube e no TikTok suspensas por 90 dias e R$ 300 mil bloqueados de suas contas bancárias para pagamentos de multas por descumprir uma decisão judicial anterior. A decisão foi tomada pelo juízo do Setor de Atendimento de Crimes da Violência contra Infante, Idoso, Pessoa com Deficiência e Vítima de Tráfico Interno de Pessoas (Sanctvs) a pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP).
Os promotores do MPSP denunciaram o humorista Léo Lins pela possível prática do crime de racismo - previsto no artigo 20, da Lei 7716/89 - e também pelo crime de discriminação de pessoa em razão de sua deficiência -- tipificado no artigo 88 da Lei 13.146/2015. Como os possíveis delitos foram cometido por meio da internet, se a denúncia for julgada procedente o humorista pode ser condenado de 4 a 10 anos de reclusão.
Em maio, a juíza Gina Fonseca Corrêa, que atua no Sanctvs, impôs diversas medidas cautelares contra o humorista Léo Lins por considerar que o show “Pertubador”, veiculado nas redes sociais, promovia discursos discriminatórios, com desprezo ao diferente e a “inferiorização” daquele que não se enquadra no padrão do “homem médio”.
A juíza cita como exemplos de comentários odiosos, preconceituosos e discriminatórios contra minorias e grupos vulneráveis feitos por Léo Lins:
“Eu acho, de verdade, que o tipo de humor que eu faço é o mais inclusivo de todos. Eu faço piada de tudo e de todos. Quer show mais inclusivo do que esse? Eu já cheguei a contratar intérprete de libras, só pra ofender surdo-mudo. Não adianta fingir que não ta ouvindo não…”. Em seguida, emite sons “imitando” pessoas mudas: “Ahn, ahn, ahn” e diz: “Sinal você entende. Entende esse aqui?” e em seguida: “Eu ia trazer um intérprete hoje, só não trouxe porque eu pensei: “ah foda se os surdos né?” (…) “Eu até aprendi algumas. Vou ensinar pra vocês. Sabe como o surdo e mudo fala bom dia? – Ahnnn! Boa noite? – Nhanhanhan”
“Acho que eu sou o único stand up no Brasil que no dia do show, por conta das ameaças, na porta do teatro, colocaram um detector de metal. (…) E graças ao detector a gente impediu a entrada de 1 canivete e 2 cadeirantes. Os cadeirantes eram muito meus fãs, vieram se arrastando me ver. Parecia um soldado na trincheira eles vindo assim”;
“Agora na Síria tem um anão (finge estar segurando o riso) combatendo o Estado islâmico. (…) Eu acho que esse anão ficou puto porque expulsaram ele do Estado Islâmico. Não dá nem pra ele ser um homem bomba! Vai ser o quê? Um homem estalinho? Eles usam anão em festa junina.” Em seguida, simula atirar anões no chão, emitindo os sons “Pá! Pá! Pá!” e prossegue: “Se tiver algum anão aqui, no final do show a gente estoura. Mais um processo! Pelo menos vai ser pequenas causas”
Para a juíza, sob o pretexto de se tratar de um espetáculo de humor, Léo Lins, em tese, parece deliberadamente ofender diversos grupos minoritários e vulneráveis, “além de incitar a práticas de diversos crimes, inclusive de natureza sexual”.
Desde maio, o humorista está sujeito às seguintes medidas cautelares:
A magistrada havia determinado uma multa de R$ 10 mil a cada novo descumprimento das medidas cautelares.
Em agosto, o JOTA revelou que a 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) manteve as medidas contra Léo Lins, por perda do prazo.
Procurada, a defesa do humorista Léo Lins afirma não ter sido notificada da nova decisão judicial. O processo segue em segredo de justiça.