Bárbara Mengardo

Depois de blindar o filho e ex-ministros do ex-presidente Lula, a CPI do Carf decidiu voltar suas atenções para o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou nesta quinta-feira (5/11) que apresentará um requerimento pedindo depoimento do peemedebista.
A expectativa é que o pedido seja analisado pela comissão na próxima semana.
Cunha entrou no radar da CPI depois que o jornal O Estado de S.Paulo informou no fim de semana (31/10) que o deputado relatou a Medida Provisória 627/2013 e incluiu no texto uma emenda prevendo benefícios fiscais para montadoras de veículos.
O benefício, que segundo Cunha disse ao jornal teria nascido de pedido do senador governista Gim Argello (PTB-DF), foi sancionado e transformado em lei pela presidente Dilma Rousseff. Segundo o Estadão, a Justiça solicitou a Cunha, como presidente da Câmara dos Deputados, o envio de dados relativos a esta MP e outras duas medidas - 471, de 2009, e 510, de 2010 - nas quais o benefício fiscal também foi prorrogado.
Em 2013, a adoção de benefícios fiscais para estimular a indústria automobilística era um objetivo declarado do governo Dilma Rousseff, defendido publicamente pelos ex-ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.
A Operação Zelotes, conduzida pela Polícia Federal em conjunto com a Receita Federal, o Ministério Público Federal e a Corregedoria interna do Ministério da Fazenda, investiga a existência de um esquema de lobby de algumas montadoras para que o benefício fosse prorrogado. Daí a convocação de Cunha pela CPI do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) - foco inicial da Zelotes.
Devido ao cargo, Cunha não pode ser convocado para comparecer à CPI, mas Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que fará um requerimento para convidar o parlamentar.
Poupando as empresas
Senadores da CPI chamaram atenção para pedidos de convocação ainda não analisados, tais como a da Ford Motors, HSBC, Santander, Grupo RBS, entre outros.
Para Rodrigues, os representantes de empresas foram poupados de deporem na CPI, mesmo com evidências de que processos de grandes companhias tenham sido contaminados pelo esquema de corrupção no Carf.
O senador da Rede também prometeu apresentar requerimentos para convocar representantes do Bradesco e do Grupo Gerdau, que teriam sido beneficiados por esquema de compra de votos no Carf.
Na próxima sessão, a CPI ainda deve se debruçar sobre requerimentos da senadora Vanessa Graziotin (PCdoB- AM) para convocação do ex-presidente do Carf Otacílio Cartaxo e de Cristina Mautoni Marcondes Machado, presa em outubro na Operação Zelotes.
Pizza
Com quórum mais elevado do que de costume, a sessão desta quinta-feira foi marcada por dois depoimentos e pela rejeição de nove requerimentos, entre eles o que determinava a convocação do advogado Juliano Nardes, sobrinho e ex-sócio do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes.
Os senadores pouparam os ex-ministros Erenice Guerra e Gilberto Carvalho e Luís Cláudio Lula da Silva, filho de Lula, de prestar depoimento.
Também foi negada quebra de sigilo da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, e de Juliano Nardes, sobrinho do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, que recomendou a rejeição das contas da presidente Dilma do ano passado. A quebra de sigilo de Luís Cláudio Lula da Silva também foi rejeitada pela CPI.
Para Rodrigues, “se estabeleceu um pacto de não se investigar”.
"O governo quer que essa CPI acabe em pizza, mas como presidente não vou deixar”, afirmou o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), que preside a comissão.
Piranha
Os senadores da CPI ouviram os depoimentos do  empresário Eduardo Valadão, sócio de José Ricardo no escritório J.R Silva Advogados, e Halysson Carvalho Silva, que estaria envolvido no esquema de lobby para prorrogação dos benefícios fiscais.
Valadão optou por permanecer em silêncio.
Crise de riso
O depoimento de Carvalho Silva chegou a causar uma crise de riso na relatora Vanessa Graziotin. O fato ocorreu após a parlamentar questionar se ele conhecia Raimundo Nonato Lima de Oliveira, também investigado pela Zelotes. Em um primeiro momento o depoente afirmou que não, mas depois se corrigiu: “conheço ele apenas pelo apelido, Júlio Piranha”.
Em outro momento, para negar que Carvalho Silva teria encaminhado um e-mail, seu advogado afirmou que o texto da mensagem não poderia ser de seu cliente, já que era escrito em português muito correto.
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JOTA

Lista de requerimentos inclui, ainda, ex-presidente do conselho, representantes do Bradesco e da Gerdau

Senador quer depoimento de Eduardo Cunha na CPI do Carf

Lista de requerimentos inclui, ainda, ex-presidente do conselho, representantes do Bradesco e da Gerdau