Luciano Padua

Acusado pela promotora Ticiane Santana de xenofobia durante uma sessão do Tribunal do Júri, em Curitiba, o advogado criminalista Cláudio Dalledone Júnior nega as denúncias feita por ela. Em entrevista ao JOTA, ele afirma que a promotora foi quem começou a "regionalizar" o debate, e que ele apenas agiu dentro do Tribunal do Júri para defender seu cliente.
"A promotora a todo tempo levou esse julgamento para um nível de descompostura total", diz Dalledone sobre a sessão do tribunal do júri que ocorreu em fevereiro de 2017.
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O caso diz respeito a um julgamento no tribunal do júri de Curitiba no qual Dalledone fez <a href="https://www.youtube.com/watch?v=faTFyDm0u3k">comentários considerados ofensivos à promotora e a seu estado natal, a Bahia</a>.
Um vídeo postado YouTube pelo Portal Paraná na ocasião, e que não se encontra mais disponível, mostrou Dalledone dizendo que ela não precisava "vir da Bahia para querer botar ordem neste estado". Em outros trechos, disse que sua atitude no julgamento era "coisa de sua banda", "coisa de sua terra", "aqui não é sertão; aqui não é cangaço" e "isso é balela, discursinho do sertão".
Para ele, a situação foi descontextualizada por Santana. "Ela regionalizou o debate, se colocou dentro de um protagonismo ao dizer que ela havia ido em Cascavel e que lá não havia Justiça, de que ela foi testemunha do que acontecia, que o meu cliente tinha poder de mando. Ela o colocou como um 'coronel' daqueles antigos e queria que eu ficasse quieto", afirma Dalledone.
Ele também sustenta que a promotora foi grosseira, e o mandou calar a boca. Além disso, quando ele a aparteava durante a sustentação oral, ela classificou sua intervenção como 'relinche'. "Era um debate. Não se fala que uma pessoa está relinchando, não sou um ruminante. Tenho sangue na veia", diz Dalledone.
O advogado classifica o comportamento da promotora como um "uso político-institucional" do caso. "Não posso ficar parado esperando o trem passar por cima de mim, 500 promotores contra mim. Não vou permitir que isso aconteça", afirma Dalledone, em referência a uma nota de repúdio do Movimento das Mulheres do Ministério Público que contou com quase 500 assinaturas.
Confira a íntegra da entrevista concedida por Cláudio Dalledone ao JOTA.
Como foi o caso?
Sou advogado há mais de 20 anos só no tribunal do júri. Aquela sessão foi muito pesada, de dois dias. No caso, um agente da Polícia Federal morreu e um fazendeiro muito conhecido no Oeste do Paraná era acusado de matá-lo. Era um júri disputadíssimo, com os nervos à flor da pele. Havia dois promotores fazendo a acusação e mais um assistente da acusação, que era um professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A promotora a todo tempo levou esse julgamento para um nível absolutamente de descompostura total.
Foi uma deselegância, uma falta de educação tremenda. Ela chegou ao ponto de me mandar calar a boca. Me chamar de abusado. Todas as vezes que eu a aparteava, ela dizia: 'olha o relinche!'. Ela me tratou dessa maneira. Tenho 45 anos, três filhos e estou há 20 anos trabalhando no tribunal do júri. Não sou brincadeira de ninguém, muito menos dela.
O que aconteceu para que essa confusão se instalasse?
Daí, a promotora começou a regionalizar o debate. O júri foi desaforado de Cascavel para Curitiba. Ela disse que havia mando político em Cascavel, que lá havia coronelismo e não havia Justiça. Mas que em Curitiba há Justiça. Em Curitiba, disse ela, o Marcelo Odebrecht foi para a cadeia. Então o fazendeiro também teria de ir pra cadeia. Na Justiça, trabalhamos com tese, antítese e temos que dar uma conclusão, segundo nossas teses, para os componentes do conselho de sentença. Nesse momento, simplesmente eu precisava defender o meu cliente de tudo isso. Ela regionalizou o debate, se colocou dentro de um protagonismo ao dizer que ela havia ido em Cascavel e que lá não havia Justiça, de que ela foi testemunha do que acontecia, que o meu cliente tinha poder de mando. Ela colocou ele como um 'coronel' daqueles antigos e queria que eu ficasse quieto.
Não sou uma peça de decoração no tribunal do júri. Respondi à altura e disse que o Marcelo Odebrecht era coisa da Bahia. Nunca fiz isso como xenófobo ou sendo racista. Advogo no Brasil inteiro. Sou correspondente de escritórios baianos aqui no Paraná em casos da Lava Jato. Não é nada disso.
Ela se aproveita disso, porque havia 5 mulheres e 2 homens no júri, e regionaliza o debate. Ela é muito pedante. Na ata, ela chegou a falar: 'o senhor vai responder por isso'. Respondi que iria responder, ao que ela disse que completaria o estoque de <a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/corte-de-justica-europeia-garante-exclusividade-da-louboutin-sobre-solado-vermelho-16072018">Louboutin</a> [sapato francês com solado vermelho] com o meu dinheiro em Nova York. Isso é algo absurdo.
A promotora também afirma que fez uma representação contra o senhor na OAB...
Sou um cara do povo, defendo transexual, homossexual, negro, branco, azul, amarelo. Aí, ela pega essa bandeira, chama no peito e tenta me denegrir. Mas ela não fez esse escândalo na imprensa na hora que acabou o júri. Ela foi e representou contra mim na OAB. A OAB liminarmente disse que isso era do debate. Eles me conhecem, sabem o que aconteceu lá. Ela entrou com ação penal. Eu cheguei a dizer: 'deixa isso pra lá, é coisa do júri. Vamos expor a instituição do tribunal do júri e vamos ficar numa rota de colisão que não vai ser interessante para ninguém'.
Na ação penal, ela colocou só o que eu falei, descontextualizando. [O que foi dito] era dentro do debate, do que estávamos discutindo. Se alguém ler a denúncia, parece que sou um criminoso, que tenho de ir para a cadeia. Expliquei o meu lado e a situação. Depois do caso, fiz mais três júris com ela e a coisa correu dentro da normalidade, um deles de seis dias.
Não teve nenhum tipo de retaliação, ou atrito de ordem pessoal entre os senhores?
Eu não queria confusão. Tivemos um tribunal do júri de dois dias pesadíssimos, depois tivemos um de seis dias, com 13 policiais da Rotam do Paraná. Ela protagonizou a discussão nesse caso. Nesse júri, ela usou uma frase que fugiu na normalidade de que bandido bom é bandido vivo e com direitos. Me pronunciei com respeito a isso [o advogado declarou que <a href="https://twitter.com/JuMagalhaesBH/status/921379988120788992">a promotora vivia num mundo ideal</a>]. Isso viralizou. Não sei, sendo honesto, se ela foi ficando cada vez mais brava com isso, tentando levantar uma bandeira. Fiz um habeas corpus junto com o Adriano Bretas. Ele fez uma excelente sustentação oral e os desembargadores se convenceram de que não tinha justa causa naquela ação penal.
Tivemos acesso ao processo e vimos que houve um voto vencido nessa ação penal.
Isso é normal. Se você tem um processo contra mim, entra com uma ação e o Tribunal decide, chega. Ela fez um escândalo disso. A OAB se manifestou porque ela realmente está querendo, com essa bandeira, calar a minha boca. Sou um advogado conhecido aqui. Ela não conseguiu, a OAB se manifestou. Virou uma confusão e saíram catando assinaturas por aí. A situação é essa, não recebeu a menor atenção no Paraná.
A situação ganhou um contorno nacional.
Ela está fazendo disso uma bandeira. Ela quer me cunhar de machista, de xenófobo. Está fazendo uso político-institucional disso. É única e exclusivamente o que ela está fazendo. Se alguém, durante o seu exercício profissional, mandar que você cale a boca, você vai reagir à altura, né? Era um debate. Não se fala que uma pessoa está relinchando, não sou um ruminante. Tenho sangue na veia.
Não é para tanto. Está cumprindo uma agenda. Ela tem feito palestras se colocando como vítima. Isso não existe, ela não é vítima de nada. Fui procurado por um jurado que serviu no conselho de sentença desta sessão do tribunal do júri. Gravei um depoimento dele em que ele diz que assistiu a tudo e afirma que não viu nada de machismo e nada de racismo.
É desarrazoado o que ela está fazendo. Já está começando a expor a instituição ao que não precisa. Eu disse várias vezes que iríamos nos machucar, mas preciso me defender. Não posso ficar parado esperando o trem passar por cima de mim, 500 promotores contra mim. Não vou permitir que isso aconteça.
Estou muito tranquilo para discutir essa ação em qualquer nível. Tanto é que me arrisquei e lancei um habeas corpus de trancamento da ação penal que é uma faca de dois gumes. Se essa decisão viesse contra mim, poderia me prejudicar. O que não posso é ficar com essa pecha. Não vou ficar porque não sou. Não existe isso. Não sou um babaca, um atrasado, retrógrado.
Em suma, o senhor defende então que a questão se resume a uma disputa dentro do tribunal do júri e que sua fala foi um recurso retórico?
É meu direito me defender de uma agressão verbal. Ela me agrediu verbalmente. Na questão de racismo, ela que foi racista ao dizer que em Cascavel não tem Justiça, que se o Marcelo Odebrecht estava preso, o fazendeiro rico tinha de ser preso. Ela fez uma construção retórica muito inteligente, e tive que combater com inteligência e firmeza. Ela nem está insistindo na questão da cozinha [após a promotora mandar o advogado calar a boca, ele disse que ela estava na "cozinha de casa"].
Ficou muito feio para ela o vídeo. Ela me manda calar a boca, me chama de abusado e aí falo 'olha a educação da moça, está na cozinha de casa'. Estou me referindo a um recinto, não à condição de que ela tem de ir pra cozinha. Não mandei-a para a cozinha, isso está claro no vídeo. Além disso, é uma linguagem que uso com todos, inclusive com promotores homens.
Fora que estávamos num contexto de debate, de dois dias de julgamento tenso e disputado, e eram três promotores contra mim. Ela me chamou burro, me mandou relinchar, foi mal-educada, prepotente. Ela levou o julgamento com muita falta de educação. Faltou juízo na hora para colocar as coisas no trilho. Briguei com o que tinha dentro da legalidade e da ética. Não posso deixar uma mulher me atropelar, um homem, quem quer que seja, e me mandar calar a boca. Não se manda um advogado calar a boca quando ele está com a palavra em pleno tribunal do júri.
O senhor, portanto, nega as acusações de racismo e xenofobia? 
Não sou nenhum idiota de falar uma bobagem, de ser racista, de ser machista. Não tem cabimento. Mas sou firme, sou um cara, dentro das minhas convicções e da legalidade. Não sou decoração dentro do tribunal do júri. Não estou ali para ser desmoralizado, desrespeitado, para ser comparado a um ruminante, ou chamado de abusado. Não sou esse tipo de ser humano que não vai retorquir. Retorqui à medida e me defendi verbalmente, me posicionei. Afinal, não era só um advogado, mas o defensor de um acusado de um crime grave.
O ritmo daquele júri foi por ela imprimido e de forma absolutamente deselegante. Ela é grosseira, deselegante, incisiva. É inteligente e muito preparada. Fez todo um cerco regionalizando o debate. Mas quem regionalizou foi ela. Depois vem querer me cunhar com essa bandeira de machista para defender essa questão que tenta defender o tempo todo, do feminismo. Não sou machista, não sou racista - e nunca vou ser.

dalledone

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JOTA

Após ser acusado de xenofobia e machismo, Claudio Dalledone alega que a promotora o ofendeu e regionalizou questão

Acusado de xenofobia, Dalledone diz que não é &#8216;peça de decoração no júri&#8217;

Acusado de xenofobia, Dalledone diz que não é 'peça de decoração no júri'

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