No início do ano, uma expedição organizada pelo coach Pablo Marçal ao Pico dos Marins, em Piquete (SP), quase terminou em tragédia e mobilizou o Corpo de Bombeiros para o resgate de 32 pessoas – em meio à chuva e ventania, a operação levou cerca de nove horas. Após o fracasso, o coach não poderá mais levar seus seguidores em busca de transformação pessoal a esse tipo de trilha. A juíza Rafaela Assumpção Cardoso Glioche, da Vara de Piquete, proibiu que ele realize qualquer atividade externa em programas motivacionais.
A magistrada entendeu que Marçal tem risco de tentar repetir a façanha, já que continuou a caminhada mesmo com a desistência de mais de metade do grupo e da recomendação de um guia. “Nem mesmo a chuva forte, os ventos, as pedras escorregadias, as barracas voando foram suficientes para obstar a persistência da escalada”, escreveu.
Assim, ela impôs, na sexta-feira (14/1), medida cautelar que proíbe o coach de realizar qualquer atividade externa, como em montanhas, picos, rios, lagos, mares, sem prévia e expressa autorização da Polícia Militar (incluindo Corpo de Bombeiros e Polícia Ambiental), Prefeitura Municipal e Defesa Civil do local.
A ordem vem a pedido do Ministério Público de São Paulo (MPSP), que investiga se Marçal deve ser responsabilizado por tentativa de homicídio. A promotoria solicitou que ele fosse proibido de fazer expedições semelhantes àquela até o término das investigações. “A promessa é de empreitadas semelhantes, quiçá, com nova tentativa de subida no Pico dos Marins diante do fracasso da primeira”, escreveu o promotor Raphael Barbosa Braga. Neste momento o coach participa de um reality em suas redes sociais em meio a natureza.
A situação meteorológica era tão desfavorável para a empreitada que havia sido desaconselhada pelo guia contratado por Marçal, que se recusou a percorrer a trilha naquele dia. O promotor sustenta que o coach sabia que não estava em época adequada para a expedição, e se vangloriou aos participantes dizendo que “daria ‘o pior ano da vida’, talvez, pela morte dos integrantes que se avizinhava”.
Braga defende se tratar de um caso que, claramente, expôs os participantes à morte. “Não fosse a intervenção do Corpo de Bombeiros era perfeitamente plausível a morte dos integrantes do grupo, ou de alguns deles, por hipotermia ou outra condição inerente às condições meteorológicas absolutamente desfavoráveis”, afirma o pedido.
Para o promotor, também estaria claro, nas postagens em redes sociais, o conhecimento de Marçal sobre o risco risco mortal ao qual submeteria os participantes. Ele afirmava que “só os irresponsáveis chegam no topo”. Além de que a falta de cautela estaria evidente ao dizer aos seguidores que “se você não quer correr risco fica na sua casa assistindo a ‘stories’…”
A decisão foi tomada no processo 1500007-60.2022.8.26.0449.