Felipe Recondo

<p>A serenidade era uma das principais características de Márcio Thomaz Bastos. A calma que talvez a idade e a experiência tenham ajudado a potencializar. Algo que era chocantemente perceptível nos momentos de grande pressão.</p>
<div>Em junho, Thomaz Bastos preparava-se para a sustentação oral que faria na Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Era um recurso especial do Ministério Público do Pará contra decisão do Tribunal de Justiça que absolveu seu cliente da acusação de estupro de vulnerável.</div>
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<div>Chegou ao plenário da Turma, como sempre, com passos lentos e desceu as escadas íngremes segurando o corrimão. Quando chamado o processo a julgamento, dirigiu-se à tribuna.</div>
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<div>Foi lido o relatório e, em seguida, para a surpresa do advogado, o sub-procurador-geral da República fez uma manifestação veemente, quase aos gritos, chamando o paciente de tarado por ter estuprado uma garota durante anos. Era essa a acusação.</div>
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<div>Da tribuna, Thomaz Bastos assistia impassível e quando iniciou sua sustentação, transformou-se. Suas mãos tremiam, falava alto, em tom igualmente duro, algo que parecia fugir à sua natureza cordata e lhana. No cerne, dizia que o TJ absolveu seu cliente e o Ministério Público perdeu o prazo para recorrer.</div>
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<div>O recurso não chegou a ser julgado naquele dia em razão de um pedido de vista. Ao sair do plenário da Turma, ainda agitado, Márcio Thomaz Bastos foi abordado por um amigo.</div>
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<div>Imediatamente voltou a ser o doutor Márcio. Abriu um sorriso, estendeu a mão e perguntou com sinceridade evidente e com a cortesia que lhe era marcante: “Você está bem?”.</div>


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JOTA

Raramente, Marcio Thomaz Bastos mudava o tom

Calma e serenidade marcaram carreira

Raramente, Marcio Thomaz Bastos mudava o tom