Luis Viviani

A juíza Leidejane Chieza Gomes da Silva, titular do Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do município de Natividade (RJ), traçou o perfil geral de agressor de mulher da cidade. Segundo ela, trata-se do sujeito que faz uso demasiado de bebidas alcoólicas, chega em casa e agride a companheira.
De acordo com a magistrada, a realidade da cidade é parecida com a de outros municípios do interior, não só do estado do Rio de Janeiro, onde a existência de grande parte da população na área rural se reflete no uso de bebidas alcoólicas e posteriormente no desequilíbrio da relação familiar.
Um dos fatores para isso, segundo ela, diz respeito a relação entre uma cidade pequena com a pouca capacidade econômica das pessoas. “Muita gente acaba recebendo apenas um salário mínimo, então se enxerga esse problema com mais clareza nesses lugares”, aponta.
Além disso, a falta de maior qualidade na educação pública também é motivo do elevado número de agressões. “Não se muda toda uma cultura através da lei, mas sim com educação. Mas parece que os órgãos públicos não tem mais interesse na educação de base”, comenta.
Na avaliação da magistrada, um aluno que avança mesmo tendo motivos para ser reprovado, termina não reconhecendo autoridade, em casa ou na escola. Com isso, faltam limites também quando ele estiver com uma companheira.
Explicações
Com cerca de 5 mil processos em toda a Comarca de Natividade, a juíza Leidejane conta que muitos tratam de violência contra a mulher. Cerca de 90% das respostas das mulheres em audiências que envolvem violência doméstica são: “não, doutora, ele é um ótimo marido, só estava aborrecido e foi agressivo. Não bebeu mais. Voltamos”.
Os próprios agressores, nas audiências, também culpabilizam o fato de que beberam demais e ponderam: “eu bebia, doutora, mas não vou mais beber”.
Impacto das leis
A magistrada enxerga as consequências da Lei do Feminicídio e, principalmente, da Lei Maria da Penha de forma positiva, pois agressores acabam se conscientizando de que agredir a mulher traz uma consequência jurídica, então “acabam se policiando”.
“Quando temos as audiências, o agressor percebe a possibilidade da sentença condenatória e há uma mudança de comportamento”, relata.
Porém, reitera que as leis não evitam novos fato, e tratam apenas das consequências. “Se tivéssemos atuação maior dos poderes públicos, governo estadual, federal e escolas para trazer uma educação mais firme pra criança, acredito que nossa lei seria colocada como ultima ratio”.

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JOTA

"Ele é um ótimo marido, só estava aborrecido e foi agressivo", diz a ampla maioria das vítimas

Juiza traça perfil de agressor de mulher no interior do RJ

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