Redação JOTA

Cada vez mais a inovação e as tecnologias impactam e transformam a advocacia tradicional, enfatizando a urgência da modernização da profissão. O advogado moderno já entende que para sobreviver ao mercado é preciso automatizar as tarefas rotineiras e aumentar a produtividade da equipe para que o foco possa ser um só: advogar.
Um exemplo claro dessa transformação é a entrada da Inteligência Artificial no meio jurídico. O que antes parecia uma tecnologia distante, hoje já é aplicada a ferramentas que auxiliam a rotina jurídica e ainda tem capacidade de revolucionar a forma como a justiça funciona no país.
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Esse é um dos assuntos que será tratado no <a style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-ligatures: inherit; font-variant-caps: inherit;" href="https://summit.aurum.com.br/" target="_blank" rel="noopener">Aurum Summit 2018</a> com a palestra do especialista na área Ricardo Fernandes. Ele é sócio-fundador da <a style="font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant-ligatures: inherit; font-variant-caps: inherit;" href="https://legalabs.com.br/" target="_blank" rel="noopener">Legal Labs</a> e fundador do Instituto Brasileiro de Inteligência Artificial. Além disso, atua como professor na Faculdade de Direito da UnB.
Confira a entrevista completa que a Aurum fez com Ricardo Fernandes sobre inteligência artificial no Direito e suas implicações no cenário jurídico:
Hoje você é uma das principais autoridades nacionais em Inteligência Artificial no Direito. Como começou seu interesse e sua carreira nessa área?
Não acho que eu seja não, só estudamos com muita profundidade e pesquisamos o que está sendo feito no mundo. Ainda temos muito a evoluir, muito mesmo. Quando olhamos para fora percebemos o quanto precisamos e precisaremos sempre aprender e evoluir mais...
Sobre a motivação, gosto de tecnologia e sou investidor de startups desde 2013. Em relação à inteligência artificial, comecei a estudar o tema há 3 anos. Após pesquisas iniciais, decidi ir aos Estados Unidos ver de perto toda a transformação tecnológica produzida no centro do tema no planeta, foi quando morei na Califórnia e fiz meu Pós-PH.D. em Legal Informatics (informática jurídica) pelo CODEX-The Stanford Center for Legal Informatics, Stanford University.
Diante de um Judiciário atolado de processos, que hoje não encontra braços para, sozinho, resolver o congestionamento judicial e a falta de razoável duração do processo, bem como do crescimento da tecnologia e da aplicação e Inteligência Artificial ao redor do mundo, surgiu o interesse na pesquisa mais profunda para identificar oportunidades para ajudarmos a Justiça a enfrentar o maior problema do mundo de múltiplos processos.
Resumindo, o meu objetivo como profissional do Direito e atualmente também da tecnologia, como Professor Adjunto da Universidade de Brasília e como cidadão, é de contribuir de todas as maneiras que estiverem ao meu alcance para proporcionar ao Judiciário brasileiro acesso à tecnologias que possam o ajudar a prestar um atendimento melhor e mais célere à sociedade brasileira.
Mas não é só a Justiça que está no nosso radar, não. Na jornada desses últimos 3 anos, entendemos que a missão da Legal Labs, nossa empresa de Legal Deep Learning, não era ajudar somente o Judiciário, porém também a advocacia e os advogados. Estamos nessa momento construindo um sistema robusto para ajudá-los.  No que pudermos ajudar, estaremos presentes.
Muitos profissionais ainda têm medo de que a inteligência artificial substitua o trabalho do advogado. Isso é verdade? Como desmistificar essa ideia?
Substituir não, mas vai transformar todo o setor. Atualmente o advogado brasileiro não consegue tempo para fazer uma série de demandas importantes que são colocadas em segundo plano ante a exorbitante quantidade de demandas e de atos judiciais simples e repetitivos.
Certo é que os profissionais da advocacia, como quaisquer outros, vão exercer as respectivas atividades com a utilização de tecnologia, sendo imprescindível a capacitação e o acompanhamento das inovações.
Enfim, a inteligência artificial não irá substituir, mas apenas e tão somente transformar a profissão, direcionado a inteligência humana para validações e demandas mais complexas e relevantes. Mas tanto advogados, como magistrados e quaisquer outros operadores do Direito precisarão se capacitar em relação às tecnologias disruptivas (inteligência artificial, blockchain, e-discovery entre outras). Saber utilizar as plataformas e sistemas disponíveis será uma habilidade essencial ao jurista do futuro.
De que forma o advogado que está começando a carreira pode se beneficiar da inteligência artificial? Como você vê que ela vai influenciar na rotina do advogado?
O advogado iniciante normalmente é jovem e não tem total noção de todas as possibilidades que a profissão lhe reserva. Eu diria que existe uma gigantesca possibilidade para eles, muito grande mesmo. Aconselharia a estudarem muito quais são as tecnologias disponíveis para escritórios de advocacia, para departamentos jurídicos etc. Imagine se quando for fazer uma entrevista de emprego ele souber muito mais que seu entrevistador sobre tecnologias jurídicas. Com certeza terá a vaga na hora e poderá ajudar o escritório ou o departamento jurídico a se desenvolverem nessa área. A grande vantagem da juventude é que há menos aversão ao novo, à mudança. Está aí a oportunidade.
Mas é também inevitável que as tarefas repetitivas de advogados sejam realizada pelas máquinas. Então, como cada vez menos tarefas repetitivas existirão no futuro, cada vez mais o jovem advogado precisará estudar e se capacitar em relação a como utilizar as tecnologias a seu favor.
E acreditamos que o conhecimento multidisciplinar do advogado, com habilidades em administração, marketing, tecnologia etc., será um grande diferencial e tais profissionais serão disputados pelo mercado.
Nessa linha, os advogados iniciantes vão gastar menos energia para aprender demandas repetitivas e simples e vão contar com mais tempo para as demandas mais complexas. O grande benefício será começar a carreira na “nova advocacia”, com mais eficiência, agilidade, segurança jurídica e entendimento sobre dados jurídicos.
E no mercado jurídico como um todo, qual o impacto do uso dessa e de outras tecnologias no Direito como conhecemos hoje?
Assim como em todos os ramos e atividades, a tecnologia, incluindo a inteligência artificial, irá inovar e sempre transformar a vida das pessoas, maximizando os resultados e proporcionando maior segurança jurídica.
Fiz um estudo mais complexo, publicado no livro Tecnologia Jurídica e Direito Digital resultado das pesquisas internacionais apresentadas no <a href="https://congressodireitotecnologia.com.br/" target="_blank" rel="noopener">Congresso Internacional de Direito, Governo e  Tecnologia</a>, intitulado “The future: análise da curva de adoção das tecnologias disruptivas jurídicas (legaltech) e governamentais (govtech), onde estamos e para onde queremos ir”. Cito aqui apenas um trecho, mas convido a todas e a todos para a leitura do trabalho completo para entenderem a profundidade com que a inteligência artificial e outras tecnologias disruptivas estão sendo adotadas e mudando o mercado jurídico.
“Diante desse cenário, acreditamos ter iniciado a curva de adoção tecnológica pelo Judiciário nacional (innovation adoption lyfecicle), especialmente em relação à IA. O ano de 2018 está sendo a fase inicial de adoção conhecida como “inovators” em que um primeiro grupo de pessoas usa uma nova tecnologia, em que cerca de 2,5% dos adotantes optam por adotá-la. A próxima gestão do Judiciário que agora se inicia, ciclo 2018-2020, possivelmente viverá a fase “early adopters”, com cerca de 13,5% de adoção. Na gestão seguinte do Judiciário, ciclo 2020-2022, acreditamos que a curva seguirá para o estágio “early majority”, com adoções que atingem cerca de 34% dos usuários".
<img class="size-full wp-image-165141 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2018/10/dc5ddf6d06f92498049686e7d6823185.jpg" alt="" width="484" height="263" />
Os tribunais serão mais eficientes e prestarão uma prestação jurisdicional mais robusta e célere, o estado contará com ferramentas melhores para cobrar créditos, ofertar segurança pública e etc. Os advogados também serão mais eficientes e atuarão com olhar analítico, com dados precisos sobre a atuação dos magistrados. A maioria dos operações do direito utilizarão tecnologia de inteligência artificial em menos de 5 anos, mesmo que não saibam que o sistema x ou y bebe dessa fonte.
É possível pensar em aplicar isso não só aos escritórios, mas em outras áreas da Justiça? Como o governo, por exemplo, poderia se beneficiar disso?
Claro, inclusive a aplicação de inteligência artificial exige um volume de dados exorbitante, sendo o governo, bem como os tribunais, o ambiente mais propício para utilização dessa tecnologia. Temos alguns projetos sendo realizados hoje em tribunais e outros órgãos governamentais. Govtech já está acontecendo. A grande dificuldade ainda é como desatar o nó da burocracia para a inovação chegar ao governo. Mas uma hora vai...
O governo se beneficia com o apoio da tecnologia às suas áreas meio e fim e, por consequência, a redução de custos com suas atividades. Mas quem mais se beneficia é a população em geral, que recebe a prestação do serviço público mais eficiente e muitas vezes mais eficaz e ganha com a transparência decorrente da adoção tecnológica.
Qual a sua dica para o advogado que quer começar a investir nesse tipo de inovação em seu escritório?
Há sistemas de acompanhamento e gestão de escritórios (ERPs) que estão ajudando muito pequenos, médios e grandes escritórios. A maioria dos escritórios precisa de automação e não de IA. Precisam organizar seus processos de trabalho, sua organização interna. Várias plataformas estão disponíveis para isso. Um bom lugar pra começar a procurar é no <a href="https://www.ab2l.org.br/radar-lawtechs/" target="_blank" rel="noopener">Radar List da AB2L</a>. O começo é por aí e, na medida que for organizando os procedimentos e atividades e recebendo o retorno financeiro do investimento realizado, poderá caminhar para sistemas mais profundos.
Como disse o Supervisor do meu Post-Ph.D, Professor Roland Vogl, em sua palestra no II Congresso Internacional de Direito, Governo e Tecnologia de 2018, “Think big, start small”.
Qual a importância de um evento como o Aurum Summit para o advogado moderno?
O advogado moderno precisa estar atento às novidades e estar sempre discutindo os próximos passos da advocacia. O <a href="https://summit.aurum.com.br/" target="_blank" rel="noopener">evento</a> tem como objetivo proporcionar essa inovação a partir da capacitação e do acesso ao conhecimento mais atual. Por fim, eventos como esse são essenciais para crescimento e transformação, sendo certo que o advogado que não acompanhar a evolução do conhecimento corre risco de ficar alheio ao mercado.

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JOTA

 Ricardo Fernandes, sócio-fundador da Legal Labs e professor da UnB, é um dos palestrantes do Aurum Summit 2018

&#8216;Tarefas repetitivas de advogados serão realizadas pelas máquinas&#8217;

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Publieditorial

'Tarefas repetitivas de advogados serão realizadas pelas máquinas'

Ricardo Fernande, sócio-fundador da Legal Labs e professor da UnB, fala em entrevista sobre o futuro dos advogados em relação às novas tecnologias