Luis Viviani

Funcionários da Odebrecht partiram para as redes sociais em apoio à imagem da empresa após a prisão de seu presidente, Marcelo Odebrecht, e executivos da companhia na 14ª fase da Operação Lava Jato na semana passada.
Além da hashtag #SomosTodosOdebrecht, atuais e ex-integrantes empreiteira alteraram suas fotos de perfil e de capa no Facebook, adotando o logo da empresa e a fachada do prédio onde fica sua sede, em São Paulo. Manifestam #orgulho e pedem #respeito aos #70anos da companhia.
As mesmas pessoas divulgaram a nota da organização sobre as prisões de sua alta cúpula e compartilharam imagens com os feitos da empreiteira. Mais: foi criada a página “Orgulho de ser Odebrecht”, que ultrapassou 3.000 curtidas. Essas manifestações vêm acompanhada do ato de apoio que teve na segunda-feira (22/06), em frente à sede da empresa em São Paulo, por cerca de 50 pessoas. A Polícia Federal realizou busca e apreensão no local.
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Polarização
A mobilização se contrapõe à ampla cobertura do caso pela imprensa e às campanhas contra a empresa nas redes sociais. São diversos comentários questionando a imagem da empreiteira nas redes.
A hashtag #FalaMarcelo foi amplamente compartilhada por usuários e diversas páginas, como a “Nasruas”, “Avança Brazil” e “Movimento Endireita Brasil”. Essa campanha vai ao encontro da manifestação ocorrida no domingo (21/06), na porta da sede da construtora em São Paulo, na qual pessoas levaram velas com a intenção de pressionar o presidente Marcelo Odebrecht a revelar supostos nomes e esquemas que pudessem comprometer políticos.
A efervescência acabou criando um clima de “processo criminal nas redes sociais”, ou então “ação penal social”: enquanto os divulgadores da #FalaMarcelo agem como promotores, os funcionários da empreiteira atuam como advogados de defesa da "ré" Odebrecht. A pressão pela fala do presidente da empresa se assemelharia ao instrumento de delação premiada tão utilizado na Operação Lava Jato.
Mobilização dos funcionários
O movimento começou logo após a prisão de Marcelo Odebrecht, quando alguns funcinários mudaram as fotos para o logo da empresa. Um dos coordenadores de planejamento financeiro da empresa, Bruno Domingues, resolveu criar, por conta própria, duas imagens relacionadas à defesa da empreiteira, com palavras de apoio.
“Quando criei estas duas imagens e debati com pessoas próximas antes de divulgar me perguntaram se não devia ter o logo. Meu posicionamento foi: não vai ter logo pois não é um posicionamento corporativo. É o posicionamento de alguém que se orgulha do local que trabalha, da empresa que cria valor nas comunidades/países onde atua respeitando sempre suas culturas”, disse, em sua página do Facebook.
Ele arrematou com uma mensagem otimista e de questionamentos em relação às prisões feitas pela polícia federal: “Quero sim um país mais justo para meus familiares e minha filha. Mas que isso seja feito responsabilizando quem de fato tem que ser julgado dentro dos direitos que nossa constituição teoricamente trata. Acusar pessoas em vão não me parece ser algo justo”.
O comentário foi elogiado por colegas e por sua mãe, que disse: “Tenho orgulho de ter um filho como você. Só os homens de compromisso e responsabilidade são capazes de expor suas idéias, zelar e acreditar na empresa que trabalha, que seja apurado os fatos mas que todos os envolvidos sejam responsabilizados”.
Méritos
Já Rafael Souza, engenheiro da companhia, postou em sua página um texto que trata sobre os altos números e os feitos da Odebrecht.
“Quase 200 mil Integrantes ao redor do mundo, Pessoas que produzem! Pessoas que são valorizadas pelo que fazem. 70 anos de muita história! 15 empresas e presença em 21 países”, afirmou.
Disse, ainda, que o financiamento de obras no exterior é normal em qualquer lugar do mundo, “através das ECAs (Export Credit Agencies), sendo o próprio Brasil beneficiado com esse tipo de mecanismo”, apontando que além de gerar empregos e renda no país, “há um impulso adicional de exportação dos serviços com impactos direto no superávit econômico”.
Essas mensagens feitas pelos funcionários são direcionadas a defender a empresa, daí a analogia com o processo criminal nas redes sociais, pois, ao mesmo tempo, inúmeros comentários acusatórios são feitos contra a empreiteira.
Clima de enterro
Em post da fanpage da Odebrecht, no qual a empresa agradece às mensagens dos funcionários, alguns comentários são: “Pergunta para o RH ou Presidência (vice, né?! Esqueci que o Marcelo está na cadeia): se eu fosse um funcionário da Odebrecht e fosse pego ‘desviando verbas’ da empresa, eu seria demitido ou promovido?” ou então aqueles mais diretos como “família de ladrões”, entre outros pejorativos.
A funcionária Manuela Piñeiro também se expressou escrevendo um texto na sua página, onde deixa claro o sentimento do clima “fúnebre” que supostamente está vivenciando.
“É triste estar na sua mesa de trabalho e ter que escutar alguém no corredor ao telefone, provavelmente com familiares, dizer o seguinte: ‘A Operação está correta. O duro é saber que sou eu que vou perder o emprego...’ É duro”.
Manuela deixou claro que não é contra a operação Lava Jato: “De modo algum. Acho que investigações devem ser feitas (sempre respeitando nossa Constituição), afinal o objetivo é um Brasil melhor, e quem não quer?”
Sobre o dia em que ficou sabendo das prisões, relatou que “Todos, no fundo, sabiam que esse dia chegaria, mas ninguém quis acreditar”. Por fim, também deixou mensagens de força e apoio para a empresa e os colegas, e reiterou que “É fácil apontar, é fácil julgar, mas só quem sabe o que a minha empresa, a Odebrecht, faz pelo seu integrante é quem vive todos os dias dentro dela”.
Em entrevista ao JOTA, a criadora da página “Orgulho de ser Odebrecht”, Manuela Modesto Dantas, engenheira civil da empresa em Pernambuco, disse que o movimento começou na sexta-feira (19/06), quando funcionários mudaram as fotos do WhatsApp, Facebook, Twitter, e demais redes sociais para o logo da empreiteira. “Você vê o símbolo porque a gente se identifica tanto com a empresa que somos a mesma coisa”, disse, ao citar que cerca de 5 mil pessoas já mudaram as fotos nas diversas redes.
Sobre as ofensas que recebe na internet, Manuela disse que as pessoas colocam mensagens como se todos os funcionários fossem corruptos, ladrões, e se sente bem triste por isso. Ao citar um caso pessoal, disse que entrou na Odebrecht em 2005, e em 2010 sofreu um acidente de trabalho que a tornou paraplégica. Hoje é cadeirante.
“Estávamos indo para um canteiro de obras quando aconteceu, a pessoa da minha frente morreu, eu fui para o hospital. Lá, o próprio Marcelo Odebrecht e a família dele me visitaram, sem precisar. Pois aqui todos são humanos, não ferramentas”, contou, falando que ainda ama a empresa mesmo após o acidente.
Precipitação
Sobre as investigações, Manuela disse que considera o juiz federal Sérgio Moro muito precipitado, pois “prende antes de investigar, pune sem ter um julgamento e a definição de culpabilidade”. Para ela, todos os argumentos que foram utilizados pelo juiz são falhos e trata-se de uma questão política. Em relação à mídia, disse que muitos veículos acabam influenciando a população para culpar alguém por problemas que existem há centenas de anos no país, e que está recaindo sobre as pessoas erradas.
Manuela disse que continua acreditando num país melhor e que a empresa vai continuar crescendo, pois “todos são honestos e trabalhadores aqui, acordamos muito cedo e damos muito suor todos os dias”.
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JOTA

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