Bárbara Mengardo

Um homem que ministra um curso de suposta "cura gay" entrou na mira do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MP-DFT) após divulgar nas redes sociais que o conteúdo de seu curso seria "chancelado" pelos órgãos. Claudemiro Soares, que se diz ex-gay, é alvo de uma investigação, que poderá resultar inclusive em uma ação penal.
O assunto chamou a atenção de procuradores após Soares divulgar anúncio do curso "Homossexualismo: prevenção, tratamento e cura". No flyer, Soares veste uma camiseta com os dizeres "ninguém nasce gay". O fato chamou a atenção, especialmente, por Soares afirmar que o conteúdo do curso seria chancelado pelo MPF e pelo MP-DFT.
De acordo com Luciana Loureiro Oliveira, procuradora regional dos direitos do cidadão do MPF, ainda não é possível dizer se a promessa de uma "cura gay" será questionada pelo MPF, que por enquanto está focado na utilização indevida do nome do órgão. "Se for o caso pediremos reparação, além de retirar a menção ao MPF daquela propaganda", diz a procuradora, que está à frente das investigações.
Essa não é a primeira vez que Soares chama a atenção do MPF. Em 2009, o órgão chegou a cogitar pedir a proibição da distribuição de um livro escrito por ele que também girava em torno da suposta cura para a homossexualidade, porém a ideia foi arquivada. Luciana escreveu o parecer pelo arquivamento, e diz que não havia base legal para pedir que o livro não fosse comercializado. "Por mais absurdo que pareça, [o livro] está no âmbito do direito de liberdade e de se expressar", afirma.
A polêmica tem como figura central o livro "Homossexualidade masculina: escolha ou destino?". Luciana leu o livro, e diz que nele Soares se apresenta como ex-gay, afirmando que a homossexualidade é algo que se aprende. Desta forma, para ele, seria possível reverter essa tendência.
A procuradora afirma que devido ao fato de Soares não ser psicólogo não é possível enquadrá-lo na premissa do Conselho Federal de Psicologia que diz que a homossexualidade não é um doença. "Não haveria base constitucional para interferir nessa pregação religiosa [do livro]", diz.
Luciana estima que o arquivamento das investigações sobre o livro levaram Soares a acreditar que o MPF e o MP-DFT concordavam com o conteúdo do curso. Procurado pelo JOTA por telefone e e-mail, ele não retornou os contatos.

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JOTA

Militante anuncia que conteúdo de seu curso é chancelado pelas autoridades

Suposto ex-gay pode ser acionado por uso indevido do nome do MPF em propaganda de "cura"

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