Livro

‘Relações Governamentais sob a Ótica Feminina’ é lançado pelo Diálogos IRELGOV

Obra reúne textos de 15 lobistas, com reflexões sobre RelGov no viés feminino e dicas sobre a profissão

livro, RelGov

“Relações Governamentais sob a Ótica Feminina” inaugura o selo Diálogos IRELGOV e foi gestado de madrugada, enquanto Beatriz Gagliardo, organizadora do livro, aguardava uma palestra que seria realizada por videoconferência direto da Grécia. “Entre goles de café tive o insight, com desejo de homenagear as mulheres de relações governamentais”, contou Gagliardo durante o pré-lançamento do livro.

Ao acordar, ligou para Suelma Rosa para falar da ideia que teve e ouviu “topo!” da presidente do IRELGOV. “O livro é uma jornada de duas realizações. Uma é o lançamento do selo editorial IRELGOV, criado para promover diálogos. A outra realização é poder inaugurá-lo com as histórias dessas mulheres”, exalta Rosa.

Beatriz Gagliardo e Suelma Rosa participam nesta sexta-feira (1/10) de uma live no Instagram do JOTA a partir das 14 horas para falar sobre o livro.

O livro é separado em três partes: como tudo começou e os desafios enfrentados; é hora de contar, reconhecer e comemorar; para refletir sobre diversidade e equidade de gênero.

O capítulo inicial foi escrito por Angela Rehem, profissional com mais de 30 anos de experiência no relacionamento com o Executivo Federal e o Congresso. Rehem acompanhou de perto a Constituinte e relata no livro o protagonismo das 26 deputadas federais que participaram da formulação da Carta Magna. “Uma coisa que fiz questão de registrar no meu capítulo foi a efetividade da bancada feminina. Era um grupo pequeno de mulheres, mas que conseguiram avançar em uma agenda briosa”, destaca.

No livro, Rehem lembra que a articulação e a ação política das mulheres na Assembleia Nacional Constituinte ficaram conhecidas como “lobby de Batom”. O grupo fez uma série de reivindicações e conseguiu ser atendido em 80% das demandas, com inclusão na Constituição de dispositivos como a promoção de igualdade entre homens e mulheres previsto no artigo 5º, que trata dos Direitos e Garantias Fundamentais.

Na segunda parte do livro, que aborda o momento atual das relações governamentais, um dos capítulos fala sobre “as mulheres na política brasileira e porque representatividade importa”. “É preciso ter mulheres no Congresso para fazer as mudanças institucionais que podem parecer óbvias para nós, mas que para um ambiente masculinizado não são”, afirma Isabela Rahal, assessora na Câmara dos Deputados que escreveu o capítulo

Uma dessas conquistas foi recente, com a publicação pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados de ato que institui a sinalização no painel do plenário de parlamentar que estiver ausente por licença-maternidade ou licença-paternidade. Até então, tais ausências eram apontadas como falta. A nova medida foi implementada após requerimentos da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que foi mãe recentemente, e da Secretaria da Mulher.

As mulheres que ingressam no Congresso atualmente, seja como parlamentar ou assessora, encontram uma rede de apoio bem consolidada. “Encontrei uma rede muito forte que se apoia no Congresso. Tanto que a união da bancada feminina na Câmara é muito legal de ver, da esquerda à direita. Quando as pautas são convergentes elas se ajudam”, destaca Rahal, que trabalha na Câmara há três anos.

Esse espírito de corpo é abordado no capítulo “Coletivos de mulheres no fortalecimento da democracia: as mulheres no lobby”. Em um dos tópicos do capítulo as autoras, Cibelle Perillo e Giuliana Franco, falam de como os homens têm maior facilidade de criar uma rede informal de relacionamento, chamada old boys network. “Os homens costumam se relacionar coletivamente e dentro do coletivo fazem atividades que não têm relação com o trabalho, como jogar futebol”, diz Franco. “Isso não tem relação com o trabalho, mas não deixa de ter conexão, porque eles indicam a pessoa do futebol para vagas de emprego. Estamos adaptando ao new girl networking”.

A rede entre mulheres ocorre em coletivos como o RelGov por Elas e o Mulheres em RelGov, que promovem discussões e fomentam oportunidades para mulheres atuarem com lobby. Recentemente, durante a pandemia, foi criado o “Dicas – Mulheres em RIG”, grupo de WhatsApp que tem mais de 750 integrantes, todas mulheres. “Com a pandemia, sentimos que as mulheres estavam um pouco solitárias nas necessidades. De necessidades básicas a necessidades de relacionamento profissional”, conta Giuliana Franco, uma das criadoras do grupo. “É um grupo muito diverso, é eclético, mas existe uma unidade de compartilhar conhecimentos e principalmente vivências”, diz.

Também são compartilhadas muitas vagas de emprego, tanto é que Franco fez um movimento profissional a partir de uma oportunidade que soube pelo grupo.

Ações para fomentar a mudança

Apesar dos avanços na representatividade feminina nos ambientes de poder ainda há um longo caminho a ser percorrido. Essa vertente é abordada no capítulo final pela organizadora do livro, Beatriz Gagliardo, que destaca quatro pilares nessa jornada: quebrar o silêncio com relação à agressão de gênero; combate à violência contra a mulher; incentivo à participação política da mulher; e estímulo a conversas sobre o tema.

Para Fabi Gadelha, autora do prólogo, as mulheres ainda têm dificuldades de se colocar no universo do poder. “Eu me ofereci para escrever o prólogo. E as mulheres não costumam se convidar, porque acham que se não foram convidadas, se não foram lembradas, não são respeitadas”, diz.

O prólogo tem como título “Por que não, as lobistas?” e questiona por que há uma predominância masculina, inclusive nas referências, quando vai se falar de lobby. Gadelha escreve que as mulheres criam, desde criança, habilidades para argumentar e realizar articulações: “Ensinaram-nos a não brigar e como consequência aprendemos a argumentar. Disseram-nos para não usarmos a força física e naturalmente nos dedicamos ao intelecto”.

O livro pode ser adquirido no site do IRELGOV.