Isabella Macedo

O ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) prestou o mais curto depoimento até o momento na CPI da Pandemia nesta quarta-feira (16/6). Munido de habeas corpus concedido na noite de terça-feira pelo ministro Nunes Marques do <a href="http://portal.stf.jus.br/" target="_blank" rel="noopener noreferrer">Supremo Tribunal Federal</a> (STF), o governador cassado falou por menos de quatro horas à comissão antes de se retirar, mas apontou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como culpado pelas mortes e pela continuidade da pandemia no país.
“O presidente deixou os governadores à mercê da desgraça que viria. O único responsável pelos 480 mil mortos que estão aí tem nome, endereço e tem que ser responsabilizado, aqui e no Tribunal Penal Internacional, pelos fatos que praticou”, disse Witzel.
O ex-governador alegou que quando a reunião “se tornou uma sessão de xingamentos”, ele e seus advogados optaram pelo encerramento do depoimento. “Agora na  medida em que começa a haver conversas da forma como o senador se dirigiu a mim, de forma ofensiva, de forma leviana, até mesmo chula, infelizmente eu não posso continuar dessa forma. Estou aqui para ser respeitado e para respeitar. Até o momento em que nós estávamos conduzindo a reunião de forma civilizada, eu continuei”, afirmou aos jornalistas após o encerramento do depoimento.
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Witzel não mencionou nomes, mas chegou a discutir com o filho do presidente e senador, Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), e retrucou provocações do senador Jorginho Mello (PL-SC), último a perguntar antes que ele se retirasse.
Antes da discussão com Flávio, os advogados de Witzel haviam apresentado um pedido ao presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), para que a reunião continuasse apenas com os integrantes da comissão. Flávio não é membro da comissão e estava acompanhado de pelo menos outros dois deputados bolsonaristas do Rio de Janeiro - Otoni de Paula (PSC-RJ) e Hélio Lopes (PSL-RJ). O filho do presidente e o ex-governador bateram boca e Witzel chamou Flávio de “mimado”. Já o senador catarinense afirmou que Witzel “foi uma negação para o Judiciário” e “envergonhou a magistratura” - o ex-governador é também ex-juiz federal.
O governador cassado afirmou que Bolsonaro promoveu uma perseguição contra ele e os demais governadores que adotaram medidas sanitárias como o lockdown para tentar conter a Covid-19.
“Havia uma narrativa estruturada de que os governadores iriam exterminar empregos e iriam aproveitar a pandemia para roubar. Essa narrativa foi avançando, e nós vimos o que aconteceu: sem apoio do governo federal, desestruturou-se o combate à pandemia; tivemos grandes dificuldades para poder obter os insumos, respiradores, os leitos hospitalares. E isso foi fortalecendo essa narrativa de os governadores estarem destruindo empregos, querendo jogar responsabilidade, politizando a pandemia, sabendo que a economia iria ser fragilizada, querendo colocar a responsabilidade nos governadores. Essa é a temática do governo federal para responsabilizar os governadores pela pandemia”.
Segundo Witzel, o problema de Bolsonaro com ele começou com a prisão dos executores da vereadora Marielle Franco (PSOL), o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Elcio Vieira de Queiroz. Lessa foi preso em sua casa, vizinha da de Bolsonaro no condomínio em que o presidente mantém residência no Rio de Janeiro, no bairro da Barra da Tijuca. O ex-governador afirmou que, a partir da prisão dos executores da vereadora, somada às críticas à atuação do governo federal, os integrantes do Executivo federal passaram a evitar falar com ele.
“A partir daquele momento, do caso Marielle, é que nós - eu particularmente - percebemos que o governo federal e o próprio presidente começaram a me retaliar. Depois desse evento, eu não fui mais recebido no Palácio do Planalto. E nós tínhamos dificuldade para poder falar com os ministros para sermos atendidos. Eu encontrei com o ministro [Paulo] Guedes [Economia] no avião e fui falar com ele e ele virou a cara, saiu correndo: ‘Não posso falar com você’. Esse não é um comportamento republicano”, disse ele aos senadores.

juyt

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JOTA

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