Jornais estrangeiros

Escândalo das joias do governo Bolsonaro tem repercussão internacional

Jornais e sites estrangeiros publicaram reportagens sobre o tema, salientando que o ex-presidente negou irregularidades

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Jair Bolsonaro (Crédito: Wikimedia Commons)

A tentativa do governo de Jair Bolsonaro (PL) de entrar no país de forma irregular com joias presenteadas pela Arábia Saudita teve repercussão internacional desde que veio à tona. Jornais do Estados Unidos, do Reino Unido, França, Qatar, Argentina, entre outros, noticiaram o caso e relembraram que o presidente está envolvido em processos no Brasil.

No último dia 3, uma reportagem do jornal “O Estado de São Paulo” revelou que um membro da comitiva de Bolsonaro à Arábia Saudita tentou entrar no país com joias de R$ 16,5 milhões de forma irregular. O assessor de Bento Albuquerque, então ministro de Minas e Energia, carregava na mochila um colar, um anel, um par de brincos e um relógio de marca de luxo.

No Estados Unidos, o jornal The Washington Post repercutiu as falas em que Bolsonaro nega ter cometido ilegalidades em relação às joias. Em entrevista à CNN, ex-presidente confirmou que foi incorporada ao acervo privado dele parte dos presentes encaminhados pelo príncipe da Arábia Saudita em 2021. “Não teve nenhuma ilegalidade. Segui a lei, como sempre fiz”, afirmou ele.

Foram enviados um estojo com uma caneta, um anel, um relógio, um par de abotoaduras e um terço. Os itens não foram avaliados. A publicação norte-americana destacou a postagem de Fabio Wajngarten, ex-ministro das Comunicações, em suas redes sociais, em que ele diz que a caixa de joias veio lacrada para o Brasil e só foi aberta pelos agentes da Receita. Na publicação, o jornal também informa que as joias não foram declaradas.

Já a Bloomberg publicou o caso citando a matéria que revelou as joias apreendidas e a negativa de Bolsonaro sobre ilegalidades. A agência também destacou que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro disse nas redes sociais que não sabia das joias. A publicação lembrou ainda que a Polícia Federal do país iniciou uma investigação a pedido do Ministério da Justiça e citou que houve oito tentativas de funcionários do governo Bolsonaro de resgatar as joias entre outubro de 2021 e dezembro de 2022.

Já a agência de notícias Reuters repercutiu o tema com a reportagem “Investigação sobre escândalo de joias de Bolsonaro pode atrasar retorno dele ao Brasil, dizem fontes”. “Os críticos de Bolsonaro disseram que os presentes para o presidente pertencem ao Estado e devem ir para uma coleção presidencial. Não está claro qual era a intenção dos Bolsonaros neste caso”, afirma a agência.

O jornal argentino Clarin tratou sobre a entrada irregular de joias presenteadas pela Arábia Saudita no governo Bolsonaro

Ao noticiar o caso, o Al Jazeera English destaca os ataques que Bolsonaro fez contra a validade das urnas eletrônicas, além de relacionar os ataques aos prédios do Três Poderes ao ex-presidente. A matéria cita as ações em que Bolsonaro é acusado de instigar os atos de 8 de janeiro.

Na França, o Le Figaro noticiou as negativas de Bolsonaro sobre as ilegalidades que estariam relacionadas às joias. O jornal ainda repercutiu as falas do ministro da Justiça, Flávio Dino, sobre o caso ser investigado pela Polícia Federal.

O jornal argentino Clarín, ao noticiar o caso, relembrou os gastos feitos no cartão corporativo do ex-presidente em restaurantes, padarias e sorveterias. O Clarín ainda repercutiu, por meio de uma fala do ministro Paulo Pimenta (da Secretaria de Comunicação), o fato de que, quando Bolsonaro foi presenteado com as joias, uma refinaria da Petrobras tinha acabado de ser vendida a um grupo da Arábia Saudita.

Entenda o caso das joias

A Receita Federal reteve joias avaliadas em R$ 16,5 milhões que estavam na mochila de um assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, quando ele desembarcou no Aeroporto de Guarulhos, vindo da Arábia Saudita, em 26 de outubro de 2021. O caso foi revelado pelo jornal “O Estado de S.Paulo”. No conjunto de peças valiosas, havia colar, um par de brincos, anel e relógio. O veículo mostrou ainda que houve ao menos oito tentativas, envolvendo três ministérios que foram acionados, para tentar reaver as joias apreendidas.

Ao jornal “Folha de S.Paulo”, Bento Albuquerque disse que as joias seriam presentes do governo saudita a Jair Bolsonaro e à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e que iriam compor o acervo histórico da Presidência. À reportagem, o ex-ministro afirmou ser praxe a troca de presentes em eventos internacionais, mas que Bolsonaro e Michelle não compareceram, e a comitiva trouxe as caixas dadas como presente pelo governo saudita.

No Instagram, a ex-primeira-dama negou ser a destinatária do presente: “Quer dizer que ‘eu tenho tudo isso’ e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa impressa [sic] vexatória”.

Caso o presente fosse para o presidente do Brasil, as joias deveriam ir para o acervo do governo e Bolsonaro não poderia acessá-las ao deixar a presidência. Um segundo pacote entrou no país como acervo privado do ex-presidente. A Controladoria-Geral da União (CGU) abriu uma Investigação Preliminar Sumária (IPS) para coletar elementos e analisar o caso.