

Embora não dê sinais de recuo no embate sobre juros com o Banco Central, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstra incômodo com as cobranças sobre a agenda de entregas do governo um mês após os ataques golpistas que paralisaram Brasília.
O presidente pretende se manter atuante como principal comunicador da sua administração, evocando a condição de defensor da população de menor renda, estrato em que se concentra seu capital político mais exuberante.
Lula, contudo, determinou à Casa Civil que pilote uma operação de curto prazo para combater a percepção de letargia nas ações do Executivo, em nova tentativa de virar a página do 8 de janeiro.
Para o QG político do Planalto, as agendas negativas têm prevalecido sobre as positivas no entendimento geral da mídia e dos formadores de opinião, o que alimenta o discurso dos oposicionistas.
Alertado sobre as dificuldades de consolidação operacional da máquina administrativa diante de uma transição opaca e da energia consumida com a defesa do mandato, o petista sugeriu aos ministros uma programação de atividades que o aproximem da sua base social, permitindo inclusive a captação de imagens simbólicas como as da cerimônia de posse, na qual subiu a rampa acompanhado de representantes do povo.
“Exceto no episódio dos ianomâmis, quando o presidente foi rápido e mostrou efetividade nas medidas, não houve uso adequado da comunicação em favor do governo. Até a viagem à Argentina, que tinha enorme potencial positivo, foi abalada por falas mal interpretadas pela média da população”, afirma ao JOTA um estrategista próximo de Lula.
Esse mesmo interlocutor diz acreditar que a agenda com Joe Biden, em Washington, será melhor explorada pelo governo. “A foto com o presidente dos EUA é sempre relevante. O mesmo deve ocorrer na possível visita à China.”
Casa e médico
Duas iniciativas foram aceleradas para assegurar a Lula o protagonismo na pauta social: os mutirões de procedimentos represados na saúde pública e o relançamento triunfal do Minha Casa, Minha Vida, programa habitacional que foi vitrine das gestões petistas, com alcance inédito perante os brasileiros de classes D e E.
Ainda no campo da saúde, o presidente espera ganhar créditos com o eleitorado mais carente com a reedição do Mais Médicos, que sofreu rejeição em alguns centros urbanos, mas é fortemente aprovado no interior do país, em especial nos rincões onde o atendimento hospitalar de especialidades e emergência é deficitário.
O empacotamento dos programas deverá ficar mais evidente nos eventos comemorativos dos 100 dias do governo, em abril, mas a ideia dos operadores políticos lulistas é que parte das ações saia do papel imediatamente.
Logo depois, o governo planeja aproveitar o Dia do Trabalho, em 1º de maio, para apresentar novas bondades aos trabalhadores, entre elas o novo valor do salário mínimo, o aumento da isenção de Imposto de Renda e até reajustes para os servidores públicos – categoria fortemente vinculada ao PT.
‘Meu garoto’
Como mola propulsora da aguardada pauta positiva do governo, os aliados de Lula celebraram o anúncio feito pela Petrobras de redução do preço do diesel em 8,9% para distribuidoras. É a primeira redução no combustível desde a posse do petista Jean Paul Prates como presidente da estatal, o que deve beneficiar profissionais dos transportes e empresas de logística, mapeados pelo Executivo como “redutos” do rival Jair Bolsonaro.
Apesar de a alteração ter ocorrido em grande medida devido a fatores externos, o núcleo político do governo acredita que a medida é fundamental na melhora da percepção da população sobre os preços administrados direta ou indiretamente pelo poder público.
O “gol” de Prates tem ainda mais valor político para o Planalto por preceder uma decisão delicada para o presidente, que será a da prorrogação ou não dos subsídios aos combustíveis, cujo deadline se aproxima.