Roberto Maltchik

O primeiro <a href="https://www.jota.info/artigos/a-participacao-das-mulheres-no-concurso-publico-nacional-unificado-08032024">Concurso Nacional Unificado</a> (CNU), realizado neste domingo (18/8), inovou na forma e no conteúdo e abriu o caminho para que a <a href="https://www.jota.info/executivo/concursos-o-caminho-do-governo-para-implementar-o-provao-30082023">fórmula</a> seja repetida em novas ocasiões. Aplicado em 3.647 locais, distribuídos em 228 cidades, o certame ocorreu sem maiores intercorrências e, até o momento, com baixo índice de <a href="https://www.jota.info/executivo/concurso-unificado-governo-tera-novo-decreto-e-forca-tarefa-contra-judicializacao-05122023">judicialização</a>.
O CNU permitirá o ingresso de 6.640 novos servidores, que atuarão em 21 órgãos da administração federal, a partir do primeiro semestre de 2025.
Cerca de 1 milhão de inscritos, do total de 2,1 milhões, compareceram aos locais de prova, o que faz do CNU o maior concurso público já realizado no Brasil. A abstenção de quase 53% foi puxada pelo alto índice de não comparecimento na disputa por vagas de nível médio.
Para a ministra da Gestão e da Inovação (MGI), Esther Dweck, o percentual está dentro da média, com a diferença de que o CNU foi aplicado pela primeira vez em centenas de cidades espalhadas por todo o país.
"O que era esperado: uma abstenção entre 40% e 50%, dado o histórico de concursos. As pessoas se inscrevem, pagam e acabam não indo fazer a prova. Tem vários fatores. Um fator, que não influencia no número absoluto de pessoas, é que pessoas de uma carreira se inscreveram e desistiram depois da negociação salarial. Surpreenderia um número muito acima de 50%. Tinha uma média de grandes concursos em torno de 50%. Os motivos são os mais variados possíveis, devem ter estudos sobre isso. É a própria lógica de fazer concursos. Muitos acham que não estão preparados ou desistem", afirmou a ministra Esther Dweck.
Além da aplicação fora de Brasília, o primeiro CNU trouxe novos conteúdos que dialogam com a realidade social e o contexto político, o que chamou a atenção de candidatos nas redes sociais. Especialistas em concursos reconheceram, em diferentes entrevistas e comentários ao longo do domingo, que houve mudanças nítidas, com uma prova relativamente fácil.
<h3>Conteúdo em linha com guia referencial</h3>
O conteúdo aplicado esteve em linha com as diretrizes do chamado Guia Referencial para Concursos Públicos, lançado pela Enap, em parceria com o MGI, em 2023. De acordo com o documento, as provas devem "contemplar conteúdos que fortaleçam a vocação para a Administração Pública, ou seja, aqueles ligados aos eixos transversais".
"Ethos público, diversidade, inclusão, direitos humanos, realidade brasileira, políticas públicas e desenvolvimento nacional são temas que podem avaliar a 
motivação e o compromisso com o interesse público daquelas pessoas que vão passar boa parte de sua vida laboral servindo à sociedade", afirma o manual.
A ministra Esther Dweck ainda destacou que o CNU é um importante exemplo de inovação no serviço público, e lembrou a fundamental inspiração do Enem para que a prova fosse realizada com sucesso.
"Quando o presidente Lula criou o ministério, falamos para colocar inovações em serviço público no nome. Hoje (domingo), ele falou que essa era uma inovação na forma de contratar pessoas. Fazer inovação em serviço público não é uma questão tecnológica. É claro que tem muita inovação tecnológica, mas estamos falando de inovação de processos, de como fazer as coisas. E isso vem do acúmulo de experiências. O próprio Enem foi a nossa grande inspiração para fazer o concurso", ressaltou a ministra.
Nas redes sociais, a professora de administração pública da FGV Gabriela Lotta, coordenadora do Núcleo de Estudos da Burocracia, ressaltou o tema da inovação ao comemorar a execução do concurso. "Foi um sucesso, feito histórico, importantíssimo e que terá um efeito muito relevante na administração pública brasileira. Que fique de exemplo para como inovações em gestão são cruciais", afirmou Lotta.
Entre as poucas intercorrências registradas, destaque para os candidatos que se negaram a entregar o caderno de questões antes de deixar a sala de aplicação das provas. Após a identificação dos casos, o MGI comunicou que os candidatos seriam desqualificados. De acordo com o ministério, apesar do descumprimento da regra, essa irregularidade não criou risco à segurança do certame.
<h3>Segunda edição do CNU</h3>
Embora avalie que a prova foi bem sucedida, o governo ainda não bateu o martelo sobre a realização de uma segunda edição do concurso, o que vai depender, entre outros fatores, da disponibilidade de recursos orçamentários para a abertura de um conjunto grande de novas vagas.
Neste ano, o governo tem se limitado a anunciar novos concursos de forma esparsa, sendo que autorizações de novos editais devem ganhar ritmo ao longo de setembro.
"A gente está muito feliz com a realização da prova e com muita vontade de realizar um novo. Mas depende da quantidade de vagas, se justifica realizar uma prova desse tipo, se os órgãos vão aderir - nossa expectativa é que tenha uma adesão grande. A gente está com uma boa expectativa, mas essa decisão só vai sair no final do ano ou no início do ano que vem", completou Esther Dweck.
Na manhã de terça-feira (20/8), o Ministério da Gestão deve divulgar o gabarito oficial das provas. De acordo com o calendário do Concurso Nacional Unificado, o resultado final será conhecido em novembro.

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JOTA

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