Perfil

Quem é Luciano Bivar, o pré-candidato à presidência do atual partido de Sergio Moro

Bivar ganhou relevância política com a eleição de Bolsonaro e é autor de obras como 50 formas de amar: Uma é matar

luciano bivar
Luciano Bivar, pré-candidato à Presidência da República pelo União Brasil / Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Embora não pontue nas pesquisas de intenção de voto, o deputado federal Luciano Bivar, presidente do partido mais rico da eleição de 2022, o União Brasil, garante que sua candidatura à Presidência da República é pra valer. A despeito dos números, resistências e descrenças internas, ele vai lançar sua pré-campanha em 31 de maio em um evento em Brasília.

Luciano Bivar passou a maior parte da sua vida política no que se chama de baixo clero e ganhou fama primeiro no esporte, como dirigente do Sport Clube do Recife de futebol. Só em 2018, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro pelo Partido Social Democrata, PSL, comandado desde a década de 1990 por Bivar, o partido tornou-se popularmente conhecido e o deputado começou a transitar nos escalões mais altos da política.

Hoje, ostentando um caixa de quase R$ 1 bilhão, Luciano Bivar aproveita a estatura de um dos caciques partidários mais cobiçados do momento.

Assinantes do JOTA PRO Poder conhecem as pautas que vão movimentar os Três Poderes com semanas ou até meses de antecedência. Acompanhe a evolução dos cenários com nossos analistas. Experimente o JOTA PRO Poder grátis.

A candidatura de R$ 1 bilhão

O União Brasil nasceu dos antigos DEM e PSL. Se até 2018 Bivar era o único representante do Partido Social Liberal na Câmara, a eleição de Bolsonaro para a Presidência pela legenda naquele ano impulsionou a bancada, que chegou a 52 deputados no início da Legislatura, em 2019.

Após as trocas realizadas durante a janela partidária – período em que os deputados podem mudar de sigla sem ter os mandatos questionados -, o União Brasil tem agora 47 deputados. Mas as regras para divisão do Fundo Partidário e tempos de propaganda de rádio e televisão são baseadas na bancada eleita. Juntos, PSL e DEM tinham, em 2019, 79 representantes na Câmara.

Foi assim que o União alcançou quase R$ 1 bilhão do Orçamento da campanha de 2022, e se tornou uma das legendas mais cobiçadas para acordos neste ano. Bivar tem usado isso a seu favor, inclusive para se cacifar internamente – como presidente, tem voz ativa sobre o destino desse dinheiro.

Apesar do lançamento da sua pré-campanha estar marcado para a próxima terça-feira (31/5), Luciano Bivar não conseguiu, desde que anunciou seu nome na disputa, em abril, um consenso no partido.

Na pesquisa Datafolha divulgada em 26 de maio, ele sequer pontua e há dirigentes que não descartam uma desistência de última hora sob alegação de baixa expressão. “Se ele não começar a subir nas pesquisas, ninguém espera que ele vá passar pela humilhação de acabar em último”, disse um cacique do União Brasil ao JOTA. O prazo para inscrição da chapa vai de 20 de julho a 15 de agosto. 

Luciano Bivar também enfrenta resistência interna entre deputados que buscam palanques ao lado de Lula ou Bolsonaro. “Mas é difícil alguém se colocar frontalmente contra o presidente do partido”, ponderou o deputado Bozzella Junior, vice-presidente do diretório estadual de São Paulo do União Brasil.

Para outros líderes, além das disputas regionais, o desânimo em torno da candidatura de Bivar tem mais um fator: a ausência de um plano de governo estruturado. Considerado um liberal no campo econômico, sua principal proposta é a adoção de um imposto único federal, mas ele ainda não apresentou um projeto completo nem a seus pares.

Apesar desse contexto interno, publicamente, Luciano Bivar age como candidato. Desde que se colocou na disputa, classifica como inviável a chamada terceira via – PSDB, MDB e Cidadania -, que tenta conciliação em torno de um único nome para disputar.

Nos bastidores, contudo, segue conversando com todos os partidos. No início de maio, esteve com João Doria, até então candidato, e disse que tem quadros qualificados nos estados e para o Congresso, além do robusto caixa. Um aliado do tucano que participou do encontro avaliou a investida como blefe.

O desafio de Luciano Bivar até agosto será crescer nas pesquisas para tentar unir o partido em torno de si. Isso ficará, em grande parte, a cargo do marqueteiro Augusto Fonseca, contratado após ser demitido da campanha de Lula por uma série de desentendimentos entre a equipe de comunicação do petista.

Fonseca buscará, primeiro, apresentar o partido ainda pouco conhecido, mas criar em torno de Bivar um “sentimento” de que ele está se cercando de um time técnico como os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Mendonça Filho (Educação), e Sergio Moro (Justiça), e o ex-secretário da Receita Federal Marcos Cintra.

“Os partidos são muito mal vistos pela sociedade. Se o eleitor olhar para o União, com um quadro qualificado e não com ficha corrida, não só para o curto prazo, mas trabalhando com o médio e longo prazo… É bom trabalhar o nome do partido, criar uma marca, e a candidatura do Bivar é uma oportunidade”, afirmou Bozzella.

Segundo outras lideranças com quem o JOTA conversou, existe também a intenção de colar em Luciano Bivar a figura do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que migrou do Podemos para o União em março, com a condição de desistir de disputar a Presidência. Considerado “um ativo eleitoral”, ainda não há, no entanto, definição sobre qual cargo ele irá disputar.

A atuação política de Luciano Bivar

Em 2006, quando disputou a Presidência da República pela primeira vez, Bivar amargou o último lugar, com apenas 62.064 votos – 0,065% do total. Na época, além do imposto único federal, ele defendeu a instalação de “mini-quartéis” em todas as favelas do país.

Além da atual legislatura, Luciano Bivar foi eleito deputado federal também em 1998, quando integrou a chamada ‘bancada da bola’ e a CPI que investigou contratos da Confederação Brasileira de Futebol com a Nike.

Mas o principal campo de atuação político de Luciano Bivar sempre foi na direção partidária. Em 1997, ele se filiou ao PSL, do qual se tornou presidente naquele mesmo ano. Tem permanecido no comando da sigla desde então.

Do PSL ao União Brasil

Depois de anos em que o PSL se manteve no ostracismo, Bivar cedeu o comando da legenda a Bolsonaro e seus aliados em 2018, quando o presidente se elegeu. Foi o que muitos denominaram de “aluguel do partido”.

Mas, ao querer retomar o comando interno da legenda em 2019 – inclusive o controle sobre o caixa partidário -, desencadeou uma crise que culminou na saída de Bolsonaro do PSL em novembro daquele ano.

O pano de fundo da disputa política foi o escândalo do que ficou conhecido como “laranjal do PSL”, um suposto esquema de candidaturas laranjas de mulheres com objetivo de atingir a quota de 30% exigida em lei.

Em outubro de 2019, a Polícia Federal realizou buscas e apreensões em endereços ligados a Luciano Bivar em Recife. Bivar e outras três candidatas pelo PSL foram indiciados pela PF em novembro daquele ano com base nos artigos 350 e 354 do Código Eleitoral, segundo os quais é proibido omitir declaração ou inserir declaração falsa para fins eleitorais, e também, apropriar valores destinados ao financiamento eleitoral para benefício próprio ou de outro.

O Tribunais Regional Eleitoral de Pernambuco e o Superior Eleitoral ratificaram a ação após recursos da defesa do deputado.

No início de outubro de 2019, já de saída do PSL, Bolsonaro disse para um apoiador, em frente ao Palácio da Alvorada, para “esquecer” o partido, e completou: “O cara [Luciano Bivar] está queimado pra caramba lá [Pernambuco].” Dias depois, o presidente anunciou que criaria seu próprio partido, o Aliança pelo Brasil, mas não conseguiu viabilizá-lo a tempo da disputa deste ano, e acabou se filiando ao Partido Liberal.

De lá pra cá, Bolsonaro, seus filhos e aliados debandaram do PSL. Com o movimento, por outro lado, a ala da legenda que já vinha divergindo do presidente se aproximou do DEM, o que deu origem ao União Brasil.

Luciano Bivar: entre futebol, política e livros

Nascido em Recife em 29 de novembro de 1944, Luciano Bivar, 77, é formado em Direito e tem pós-graduação em educação financeira no Institute of Financial da Northewestern University, em Illinois, EUA.

Entre 1980 e 1990, ele dirigiu a Delphos Previdência Privada e também ocupou a direção da Sol Seguros S.A. de 1985 a 1986. Entre 1986 a 1990 assumiu a vice-presidência da Delphos Serviços Técnicos S.A.

Seguindo os passos do pai, em 1989 assumiu pela primeira vez a presidência do Sport Clube do Recife, cargo que já ocupou por seis vezes. Em 2013, protagonizou uma polêmica ao admitir ter pago um lobista para interceder junto à CBF para que Leomar, que jogava no Sport, fosse convocado para a Seleção Brasileira em 2001.

Luciano Bivar também é escritor, e publicou obras de ficção e não ficção desde 1980. Em 2006, escreveu Burocratocia: a invasão invisível, na qual fala sobre democracia. Já em 2019, apostou em um romance com 50 formas de amar: Uma é matar.