Currículo de ministro

Quem é Alexandre Padilha, escolhido ministro da Secretaria de Relações Institucionais?

Infectologista tem experiência na pasta, mas se tornou nome conhecido nacionalmente com programa Mais Médicos

Cleia Viana/Câmara dos Deputados

A Secretaria de Relações Institucionais (SRI), responsável pela coordenação política do governo e interlocução com o Congresso, retornará nas mãos de Alexandre Padilha (PT). Ele foi um dos ministros anunciados pelo governo Lula nesta quinta-feira (22/12). A pasta tem status de ministério e já foi comandada por ele no primeiro governo Lula, antes de ganhar mais destaque na Saúde pela criação do programa Mais Médicos.

Atualmente deputado federal, ele foi ministro da SRI entre 2009 e 2010, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerrava seu segundo mandato. Ele já trabalhava no ministério há mais tempo: começou como chefe de gabinete até galgar a chefia pasta, como o mais jovem ministro do governo, aos 38 anos.

No período, participou do lançamento de programas que se tornaram vitrines do governo petista, como o PAC e o Minha Casa Minha Vida. Também teve forte atuação em firmar a relação com os municípios, com a criação do Comitê de Articulação Federativa e o aumento dos repasses em saúde registrado no período.

A partir de 2011, com a chegada de Dilma Rousseff (PT), passou para o Ministério da Saúde, onde permaneceu até 2014 e criou programas que dividiram a opinião pública e geraram ataques pessoais.

Infectologista, Padilha estabeleceu como prioridade de sua gestão reduzir o déficit de médicos no Brasil, especialmente em regiões carentes e afastadas dos grandes centros urbanos. Em 2010, o Brasil tinha 1,68 médico para cada mil habitantes em média, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM).

Ele lançou um programa que contratava médicos recém-formados que aceitassem trabalhar em unidades de saúde no interior e em bairros periféricos; em troca, além do salário, eles receberiam bônus em provas de residência. Médicos que usaram empréstimos do Fies também poderiam abater parte das dívidas trabalhando em áreas carentes.

Também criou incentivos para a abertura de novos cursos de medicina. De 2013 a 2022, o número de faculdades passou de 210 para 354. Essa política colaborou para aumentar o número de novos médicos no Brasil: eram cerca de 320 mil em 2010, frente a mais de 500 mil dez anos depois, ou 2,4 médicos a cada mil habitantes.

Porém, a medida foi criticada por órgãos como o CFM e a Associação Brasileira de Médicos (AMB), que alegaram haver descontrole na qualidade da formação dos novos profissionais, agravado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). A maior parte das novas vagas é em instituições privadas. Em 2018, no governo de Michel Temer (MDB), uma portaria limitou a permissão a novas matriculas.

Em 2013, foi lançado o programa Mais Médicos, com a possibilidade de contratação de médicos estrangeiros para ocupar vagas remanescentes de brasileiros. Dois anos depois, cerca de 18 mil profissionais atuavam no programa em 4 mil municípios que abarcavam 63 milhões de pessoas, segundo a pasta.

A iniciativa recebeu ataques por admitir a possibilidade de atuação de médicos formados no exterior por até três anos sem o diploma revalidado. O CFM e a AMB, junto a outras associações médicas, divulgaram nota chamando a medida de “vergonha nacional”.

Além disso, a vinda de médicos de Cuba gerou reações, até com protestos e agressões aos profissionais imigrantes, além de críticas sobre o repasse da maior parte dos salários para o governo de origem.

Na época, Padilha justificou o programa como emergencial pela necessidade de cobrir áreas desatendidas e disse que todos os médicos passavam por treinamentos, além de receberem supervisão durante todo o programa.

Padilha deixou o Ministério em 2014, para disputar o governo de São Paulo naquele ano. A despedida dele chegou a ser transmitida em rede nacional de televisão.

Na corrida estadual, ficou em terceiro lugar no pleito que consagrou Geraldo Alckmin (então no PSDB, hoje vice de Lula). Após a derrota, Padilha foi secretário municipal de Saúde de Fernando Haddad (PT), em São Paulo.

Como forma de demonstrar confiança no SUS, anunciou que a companheira, Thássia Alves, daria à luz a primeira filha do casal na rede pública. Melissa nasceu em fevereiro de 2015 no Hospital Municipal de Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo.

Sobre o assunto, uma reportagem da revista “Veja” afirmou que ele teria levado médicos de sua confiança para realizar o parto, o que acabou desmentido e a revista foi responsabilizada pela Justiça – ele venceu ação indenizatória e obteve direito de resposta em 2018, quando concorria a deputado federal por São Paulo.

Nas eleições deste ano, Padilha foi reeleito para seu segundo mandato na Câmara – para assumir o Ministério, ele deverá se licenciar do cargo.