Eleições municipais

O que pensa Fuad Noman, prefeito de Belo Horizonte que busca a reeleição

Em entrevista ao JOTA, Noman diz não ser de nem esquerda nem de direita e fala sobre transportes, saúde e outras questões da capital mineira

fuad noman prefeito belo horizonte
O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman / Crédito: Rodrigo Clemente/PBH

O prefeito Fuad Noman (PSD) não se irrita facilmente. No lançamento de uma unidade de atendimento ao turista, no Centro de Belo Horizonte, o microfone falha quando ele dá bom dia e de novo quando conta que naquele local, 70 anos atrás, ficava uma estação de bondes em que ele era levado pela mãe. Bate no microfone. Pergunta se o som está melhor. Começa a descrever a expectativa que tinha para chegar à loja de sorvete de um tio. O som cai de novo. Ele sorri. Passa a falar mais alto, sem microfone.  Quase ninguém o escuta. O JOTA publica a partir desta segunda-feira (8/4) uma série de entrevistas com os pré-candidatos a prefeito de Belo Horizonte. As entrevistas com os outros pré-candidatos serão publicadas ao longo desta semana.

Tenha acesso ao JOTA PRO Poder, uma plataforma de monitoramento político com informações de bastidores que oferece mais transparência e previsibilidade para empresas. Conheça!

Parece a sina do prefeito, que assumiu em 2022 quando Alexandre Kalil, seu companheiro de chapa, renunciou para tentar, sem sucesso, o governo de Minas. Pesquisas mostram uma aprovação relativamente boa da atual gestão, com boa avaliação da educação e, principalmente, da saúde. Mas há críticas sobre os ônibus, e entre 25% e 35% dos entrevistados não sabem quem governa a cidade. E ele aparece, no máximo, em quarto lugar nas pesquisas de intenção de voto. 

Em seu primeiro cargo eletivo, depois de uma carreira longa em que exerceu cargos de confiança e chefiou secretarias em governos do PSDB e PSD, Fuad lutou para ter sua voz reconhecida. Primeiro, agiu para não ser tutelado por Kalil, para irritação do ex-prefeito, que até agora mantém distância de sua candidatura. Os outros caciques do PSD de Minas, o ministro Alexandre Silveira e o senador Rodrigo Pacheco, tinham outras preferências para a eleição deste ano. Também teve dificuldades para lidar com uma Câmara Municipal hostil, que ensaiou a sua deposição. 

Essa é uma lembrança que o irrita um pouco. 

Na entrevista que concedeu ao JOTA, na Prefeitura de Belo Horizonte, a menção ao presidente da Câmara, Gabriel Azevedo (MDB), a quem chama de “aquele moço lá”, foi o único momento em que não manteve o ar avuncular. Mas logo passou. Com seu jeito (e com a caneta de prefeito), conseguiu se firmar como candidato do PSD, tenta atrair partidos de centro e direita, acena ao governador Romeu Zema no primeiro turno e ao PT no segundo. A entrevista ao JOTA foi dada em meio à crise da aliança com a “família Aro”, grupo de vereadores ligados ao secretário da Casa Civil de Zema. Logo depois, por pressão do PSD, a aliança foi rompida. 

O gestor que diz se preocupar em governar bem a cidade e joga para a população a responsabilidade de conhecê-lo é também um político que articula apoios, concilia interesses e tenta vencer em um quadro de polarização política com múltiplos candidatos. Diz que Bolsonaro ignorava Belo Horizonte e que Lula tem mais atenção à cidade, mas se diz de centro e defende a decisão de tirar uma bandeira LGBT de um centro de atendimento de diversidade da prefeitura para não “criar problema com toda pessoa de direita”. Ao mesmo tempo, lembra ter ido a todas as paradas gay e fala de atendimento e acolhimento.

Em tempos de mensagens mais simples e lados muito bem definidos, Fuad Noman tem poucos meses para ser ouvido e convencer muita gente. 

Leia a entrevista com o prefeito Fuad Noman, que será candidato à reeleição em Belo Horizonte

Prefeito, quais partidos o senhor considera que é possível atrair para a sua coligação, agora que o MDB e a família Aro estão ficando mais distantes?

A gente está conversando com todos os partidos que estão ainda sem candidato. Então, não tem nenhum partido que eu não queira. A gente depende muito de saber o interesse de cada um, não é? Tem aí os partidos que não apresentaram candidato ainda, que eu gostaria muito de trazer. União, PP, Republicanos, tantos outros, não é? PSDB. Aquele novo que saiu agora, o PRD. São todos, porque eu gostaria muito de ter o máximo de aliados possíveis nessa campanha, porque eleição não é desafio de uma pessoa só. Você sabe disso, eu não estou inventando essa frase. É uma coligação de apoio, de esforços para caminhar junto para uma proposta. Converso com todo mundo, converso com o Novo, com todos os candidatos. Converso com qualquer um que queira vir e sentar.

O senhor quer o apoio do Zema? 

Olha, eu quero apoio de quem quiser me apoiar. Eu não quero dizer, por exemplo, que eu vou fazer parceria aqui e acolá. Mas aquelas entidades, aquelas pessoas que quiserem me apoiar, eu acolherei muito. Apoio a gente não dispensa, não. 

O senhor não falou ninguém da esquerda. Existia uma expectativa de que talvez houvesse uma aliança de esquerda, e o deputado Reginaldo Lopes tentou trazer o PT. O quadro que o senhor desenhou aqui é um quadro mais de centro, de direita, está distanciando daquela ideia inicial. Por quê? 

Eu não sou de direita, nem sou de esquerda. Eu sou de centro. Certo? O PT, eu fiz o apoio ao Lula no segundo turno, um apoio absolutamente para aquela eleição, sem nenhum compromisso de eleição, de futuro. Tanto é que quando a presidente do partido [Gleisi Hoffmann] esteve aqui para lançar a candidatura do Rogério [Correia, do PT], ela afirmou isso, com razão, de que o acordo não era era eleitoral, era um acordo para aquele momento. E eu fiz aquele acordo porque Belo Horizonte passou quatro anos à míngua com o Bolsonaro. Falavam que no mapa da Presidência lá, no mapa do Brasil, Belo Horizonte era um buraco. Não tinha nada para Belo Horizonte. Então, eu não podia imaginar um segundo mandato dele com Belo Horizonte sempre prejudicado daquele jeito. Quando Lula nos procurou, a equipe dele, me procurou, eu disse: “Olha, eu quero conversar com ele primeiro”. Conversei com ele e disse: “Presidente, eu preciso disso, disso, disso, daquilo. Ele falou: “Fuad, eu não sou presidente da República, eu não posso prometer nada. Eu só te prometo uma coisa, se eu for eleito, Belo Horizonte vai ser tratada com respeito, com atenção e carinho”. Eu falei: “É tudo que eu quero”. E foi. Está sendo, está fazendo isso. O presidente Lula tem atendido todos os nossos pleitos, os ministros nos recebem continuamente, com a maior atenção possível. As coisas estão acontecendo. Às vezes demora mais, demora menos, mas o impacto está aí, a gente tem uma porção de coisa para fazer. 

Mas o senhor acha que, na prática, mudou em relação ao que era no governo Bolsonaro?

Completamente! Completamente! Então, eu devo essa mudança ao comportamento do presidente e dos seus ministros. Agora, isso não obrigou nenhum compromisso eleitoral. Logicamente, que eles tendo candidatos consolidados, se eventualmente eu for ao segundo turno e o PT não não for, eu acho que terei o apoio de quem não for.

Usando esses cenários alternativos, e se por acaso o senhor não for, e for o PT, o senhor vai apoiar o PT? 

Olha, aí tem que avaliar. Eu acredito que eu vou ter que apoiar forças progressistas pra Belo Horizonte. Não tenho ainda noção, não sei quem vai, mas eu acho que é uma parceria sim, sem dúvida. 

Quando o senhor fala em forças progressistas quer dizer que o senhor não vai apoiar os bolsonaristas? 

É. Porque os bolsonaristas foram muito bons para tratar muito mal Belo Horizonte. Não. Os bolsonaristas, não. Especificamente o presidente. 

No PSD, houve uma divisão bem grande, que parece ter diminuído. Convergiu Silveira, convergiu Pacheco, mas falta o Kalil. Como está essa conversa com o ex-prefeito? Ele vai entrar na sua campanha? 

Eu não sei. Não sei. Eu já conversei com ele, vou voltar a conversar com ele novamente. Agora, o Kalil, ele tem umas posições dele próprias, né? Eu tenho por ele o respeito, a amizade muito grande. Sou só prefeito hoje pelas mãos dele. Fiz tudo o que eu pude fazer para manter, trabalhar no governo dele de forma eficiente, para que o governo dele tivesse sucesso. Isso fez com que ele me convidasse a ser vice. E eu aceitei, sabendo que ele ia sair [para disputar o governo de Minas]. Procurei fazer um governo de continuidade do que ele fez, logicamente agregando algumas coisas. Agora, ele é uma pessoa que tem todo o direito de escolher se ele vai apoiar alguém, se ele não vai apoiar ninguém. Se ele for apoiar, eu gostaria muito que ele me apoiasse. As conversas não estão encerradas, claro. Nós estamos conversando. Já tive uma boa conversa com ele. Ele sempre declara que gosta muito de mim, eu também gosto dele. Eu não perdi as esperanças de tê-lo, não.

Saindo um pouco da política, em relação à gestão de Belo Horizonte: vendo pesquisas e conversando com as pessoas, vemos que um dos principais problemas aqui são os ônibus. A gente tem essa situação do subsídio… 

Só usa o verbo do passado, não usa o do presente, não. 

Então, já responda: o senhor acha que os ônibus não são mais um problema? 

Claro que ônibus sempre será um problema, em qualquer lugar do mundo. Mas o que que nós estamos fazendo, em Belo Horizonte, foi no sentido de corrigir tudo o que acontecia. Os ônibus tiveram uma série de dificuldades no passado, que eu não vou discutir, ficaram sem reajuste etc. Nós sentamos com eles no ano passado, fizemos um estudo grande de mudança até da forma da forma de remuneração. A gente achava que o sistema estava… É um contrato de 2008, um contrato bem superado. Então, nós demos a eles uma condição de pagar por quilômetro rodado, complementando a passagem. A passagem era X, quilômetro rodado era Y, nós pagaríamos a diferença entre X e Y. Com um compromisso: comprar muitos ônibus novos, 420, fazer toda a manutenção do sistema de ônibus, mudar a grade de horário para que eles pudessem funcionar em espaços menores de tempo, diminuir a quantidade de passageiros de ônibus, uma série de coisas. Nós demos seis meses para adaptar isso. De junho até 31 de dezembro.

E o senhor acredita que mudou? 

O tempo de fazer isso aí… O ônibus, você não compra na prateleira. Os ônibus só foram chegando aqui em novembro, dezembro. Quando chegou em janeiro, prazo tinha esgotado, os ônibus já estavam aqui. 

Os 420? 

Os 420. Hoje nós já temos seiscentos e poucos. Mais de 600. Porque esses ônibus são comprados e você conhece como é que fabricam ônibus: compra um chassi, espera ficar pronto, entrega na montadora, espera ficar pronto, e vem chegando. São ônibus novos, com tecnologia menos poluente. Todos com  suspensão hidráulica, com ar-condicionado. Hoje nós já estamos com mais de 80% dos ônibus com ar-condicionado. O que eu quero dizer é que, quando chegou janeiro, eu vi que o prazo que eu tinha dado até 31 de dezembro não foi suficiente pra eles cumprirem tudo. Eles não conseguiram cumprir. E aí eu declarei a tolerância zero. E passamos a rigorosamente atuar na fiscalização dos ônibus. Inclusive nas garagens, não deixando sair. Isso, final de janeiro. E eu acho que hoje o número de ônibus com problema é muito pequeno. Ainda tem reclamação, vai ter sempre. Mas tem diminuído as reclamações. Melhorou demais o sistema. Agora, vai melhorar mais ainda. Porque, à medida que os ônibus estão chegando, você está tirando os ônibus mais antigos de circulação, está agregando mais ônibus pra aumentar, pra reduzir a distância e o tempo de chegada de um ônibus pra outro. Então, o ônibus tem hoje sido um ponto que a gente hoje já fala assim: “Ufa! Saímos do sufoco”. Mas, tem problema. 

Em relação a isso, a oposição critica o subsídio de R$ 500 milhões. Diz que deu subsídio, deu dinheiro público e aumentou a tarifa. Como o senhor responde a isso?

O problema é o seguinte. A tarifa não aumentou desde 2018. Como eu te disse, a conta é muito simples. É X, tarifa, Y, custo de viagem, de passagem rodada. Se eu deixar só a tarifa, primeiro, o ônibus tem que vir superlotado pra minimizar o efeito. 

Por que é número de passageiros por quilômetro rodado? 

É. Então, a diferença de X pra Y, eu que pago. O orçamento da prefeitura é limitado. Então, eu avalio o quanto que eu posso pagar. Vejo quanto que falta e esse falta é o complemento da tarifa. Eu tenho que fazer uma conta, um equilíbrio de contas assim. Agora, você pega o nosso ônibus, ele é R$ 5,25. É mais barato que Contagem [na região metropolitana], que é R$ 6. É mais barato que Curitiba, que é R$ 6. É mais barato que Brasília… Não é mais barato que São Paulo, porque o subsídio lá enorme. 

Que está indo a R$ 6 bilhões este ano. 

Se eu tiver o orçamento igual a São Paulo, eu também podia pôr a passagem a R$ 4,20. Agora, nós temos o seguinte. Nós temos tarifa zero pra vilas e favelas. Nós temos tarifa zero pra doentes de câncer. Nós temos tarifa zero pra estudante. Nós temos tarifa zero pra mulheres em situação de risco. Ou seja, nós temos um conjunto de tarifa zero que entra nesse dinheiro aqui. Eu tenho que pagar. Aqui não tem o X pra eu diminuir. Aqui é só o Y. Você está entendendo? Então, a minha conta tem que ser global.

Quando a gente conversa na Câmara Municipal, eles dizem que essa pauta é deles. Eles que deram tantos milhões do orçamento deles, eles que fizeram a proposta. E que o senhor só reagiu por causa da crise. E talvez o senhor tenha um rival na eleição de lá, não é? 

Isso aí é o seguinte. Aquele moço lá [o presidente da Câmara, Gabriel Azevedo], tudo que a gente faz aqui, ele fala que é ele que fez. Certo? Quer dizer, ele segurou aquele projeto de lei lá três vezes. Se ele tivesse aprovado o projeto de lei quando nós mandamos… “Ah, mas eu pus um substitutivo”… Pôs. Veio aqui, nós negociamos. Que melhorava as condições. Aí ficou lá enrolando, enrolando, enrolando. Mas eu não vou discutir com a Câmara, porque o presidente da Câmara é candidato agora. Primeiro, ele é meu adversário, sempre foi. Agora é candidato.. 

Uma última coisa sobre ônibus: o senhor considera que é necessária uma mudança da legislação federal? Falam do sistema único de transporte, falam de um subsídio federal para tarifas. O senhor acha que essa é a saída?

Olha, a questão dos ônibus hoje, a gente faz uma conta assim: hoje, em Belo Horizonte, cerca de 55% a 60% dos passageiros usam vale-transporte. Ele não paga passagem. Você tem mais ou menos 10% que são idosos, que não pagam passagem. 

E, para esses, houve uma ajuda federal. 

Teve. Então, se a sociedade já paga 60% das passagens, o governo federal já paga 10%, nós já estamos falando que 70% já está sendo pago hoje. Quem sabe a gente faria uma mudança da legislação, que pudesse criar um fundo nacional com esses recursos que estão aí? E as prefeituras poderiam contribuir com uma parte, e nós estaríamos dando tarifa zero para todo mundo. Agora, sem esses recursos é impossível. Por quê? Porque já são gastos, esses recursos. Então, eu acho o seguinte: se o governo federal não entrar na intervenção do transporte coletivo, o caos vai continuar. Vai aumentar. E a gente tem lá projetos para discutir com o governo federal, formas de recursos, formas de substituições que poderiam fazer, recursos para a Cide, recursos de sei lá o quê, uma série de outras ideias. Isso depende da iniciativa do governo federal. 

Qual é o principal argumento para reeleger o senhor?

Eu costumo dizer que nós temos aqui cinco pontos que eu gostaria de levar. Um: nunca se fez tanto trabalho de combate a enchentes como nós estamos fazendo. Nós passamos por 40 anos tendo enchente e matando gente na cidade. Nós estamos agora trabalhando fortemente para acabar com as enchentes em Belo Horizonte. As obras que já estão prontas, já estão para fazer, as que não estão prontas ainda. 

O senhor acha que já fez efeito nessa última estação de chuvas?

Essa chuva não chegou a nada. Não tivemos um acidente, não tivemos uma morte, não tivemos um alagamento, não tivemos um problema grave. Só para você ter uma ideia, tem uma região que hoje é que corta a Avenida Teresa Cristina, que tem no meio o rio Arruda, todo ano, duas, três vezes por ano, qualquer chuva inundava aquilo ali. Tirava o asfalto, inundava as casas, criava um um problema desgraçado. Esse ano, antes do Carnaval, teve uma terça-feira que choveu 91 milímetros lá. Tinha zero problema. 

Num dia? 

Num dia não: numa hora! Em uma hora, 91 milímetros. Não teve nenhum problema. Por quê? Porque nós temos três bacias de contenção grande aqui, que ainda não estão terminadas, mas já estão operacionais. E as bacias de conteção contiveram as águas. Estamos fazendo obras… 

Esse é o primeiro? 

Esse é o primeiro. Só para falar. Ainda do primeiro: Estamos fazendo obras do Vilarinho. Nós estamos fazendo dois reservatórios profundos, 140 metros de comprimento, 40 de largura e 33 metros de profundidade. Equivale a um prédio de onze andares. Para colher água lá. Isso tudo não está pronto ainda. Ou seja, estamos fazendo várias obras. Bom. Dois: estamos trabalhando com a contenção de encostas. Belo Horizonte, como é uma cidade com a topografia bastante acidentada, muita gente mora em áreas de risco. Nós identificamos cerca de 300 encostas com problema. Esse ano passado, nós começamos a trabalhar, fizemos 250 já. Esse ano, por pouco, fizemos 350. E também não teve nenhum caso, né? Nenhum caso nesse caso das encostas. Graças a Deus. Três: Belo Horizonte é a cidade, segundo o Ministério da Saúde, que mais investe em saúde. Nós temos hoje, reformulando todos os centros de saúde, pelo menos a grande maioria. Já fizemos 60. Estamos com mais 18 para fazer. Centro de saúde de altíssima qualidade. Todos eles operacionais. Uma equipe médica completa. 

A equipe médica é própria ou é OS? 

Tudo é nosso. PPP é só que a gente chama de bata cinza [construção, apoio]. Bata branca, que é do médico, é nossa. Nós estamos vivendo uma epidemia de dengue agora… 

E a oposição critica a prefeitura dizendo que BH  é a cidade que mais tem dengue 

Mas eles não criticam a Unimed, não criticam o [hospital] Madre Tereza. Você chega no Madre Tereza, que é o hospital, chega lá e o cara fala assim: “Olha, aqui a espera é de 12 horas. Você quer ficar aqui ou quer ir embora?”. 

Mas não faltou um trabalho de prevenção? 

Nós temos 152 postos de saúde, 9 UPAs, está certo? Se a dengue tivesse acontecido só em Belo Horizonte, eu entendia. São Paulo, São Paulo. São Paulo acabou de decretar estado de emergência. Rio de Janeiro já decretou estado de emergência. Brasília está num caos. Se é só em Belo Horizonte, é uma cidade. Mosquito não tem fronteira, não. Nós aqui temos um programa de inocular no mosquito uma bactéria para ele fecundar a fêmea e ela não transmitir a doença. Estamos soltando milhões de mosquitos aí com esse tipo de coisa para fazer. [Quatro] Escolas: Nós temos hoje, talvez, uma das melhores escolas reconhecidas pelos pais dos alunos. E não sou eu que estou dizendo isso, não. Nós temos uma unidade no ensino infantil que hoje os pais tiram os filhos da escola para trabalhar ou para lá. Nós acabamos de inaugurar agora o centro de educação integral. Nós compramos um prédio aqui para mais de 1.100 crianças atender em todos os níveis, em todo tipo de coisa. No tempo integral. 

Onde?

Aqui perto da igreja de Lourdes. Começou agora em janeiro, fevereiro, a aula. 

Mas ali é um bairro nobre. Tem comunidades perto? 

Não. O objetivo qual é? As mulheres que trabalham no centro da cidade e moram na periferia. Elas não têm como deixar a criança lá. Então elas vêm para trabalhar, trazem a criança, deixam às 7h da manhã. Você vê: no Mercado Central tem muitas mulheres assim, no comércio tem muitas mulheres assim, em casa, tipo a minha, tem muitas mulheres assim. E 5h da tarde pega as crianças. Criança alimentada, criança cuidada.

É creche também?

Creche é tudo. É creche e escola. Até anos finais do ensino fundamental. 15, 14, anos. 

Foram quatro pontos. 

Mobilidade. Nós estamos fazendo uma grande obra de mobilidade da cidade. Se você veio do aeroporto, você passou por um engarrafamento em frente ao shopping, o projeto tem a elaboração final, para fazer ali dois túneis subterrâneos. Projeto está praticamente pronto, dois túneis passando por baixo e saindo lá na frente, para tirar aquele engarrafamento. Você deve ter visto o viaduto bem avançado da obra, que é o Sebastião de Brito. Mais para baixo, nós estamos fazendo outro viaduto, ali conjugado com o córrego, o canalizador do córrego, para tirar lá. Estamos fazendo um projeto bem avançado do corredor avenida Amazonas. Estamos fazendo pistas exclusivas para ônibus na cidade inteira, em vários lugares. Estamos fazendo um grande programa de recapeamento da cidade. Ciclovias na cidade inteira.

É uma cidade difícil de andar de bicicleta…

Eu vou te contar. Falaram isso aqui: “Ah, porque estou subindo, aquilo não vai dar”. Logicamente, nós estamos falando de bicicletas elétricas. Uma senhora de 76 anos pegou a bicicleta e ela subiu. Lógico que para subir tem que ser elétrica. Aqui no reto pode ser pedalando. Nós estamos fazendo um programa, Centro de Todo Mundo, que é para modernizar o centro. Você viu hoje aí uma das obras [o lançamento do centro de atendimento ao turista]. E aí, parceria. Centro de todo o mundo é para revitalizar o centro de Belo Horizonte. Trazer gente para trabalhar aqui, para evitar o trânsito de pessoas. Pessoas que moram uma, duas horas no centro de Belo Horizonte e têm que trabalhar aqui, elas vão poder morar aqui, porque nós estamos fazendo moradia para elas daqui, revitalizando o centro.

Vocês estão retrofitando prédios? Vocês compram o prédio? Como funciona? 

Nós estamos com uma lei da Câmara para poder permitir, e a Câmara não aprovou ainda. Está lá desde o ano passado, mas o presidente, quando é coisa que beneficia a população, ele segura para poder fazer… tudo bem [faz um gesto de “deixa pra lá”]. Para permitir que as empresas, os proprietários desses prédios, possam ter um incentivo para revitalizar. E os prédios que são públicos, ou os prédios que são do governo federal, eu estou pedindo para eles, do governo federal, me doar os prédios, para que eu possa fazer isso e transformar isso em moradia. Por exemplo a Escola de Engenharia, na rua dos Andradas. Está abandonada há 20 anos. É um prédio altíssimo. Era a escola de engenharia da Universidade Federal. Eu pedi ao governo federal, mas o governo não pediu para me dar. 

O Eduardo Paes pediu a Estação Leopoldina, e eles deram.

É…mas nós vamos ganhar também. É porque o governo fez um programa maior e está fazendo isso. Ali, eu vou fazer, quando doarem —e aí tenho que ser reeleito—, moradia digna para pessoas de baixa renda poderem trabalhar no centro. Está certo? 

Vai ser vendido? Vai ser via cadastro social? 

Você tem sempre que fazer alguma coisa para a pessoa pagar um pouquinho, para não ser de graça. Mas é assim, quanto você pode pagar por mês? 200 reais por mês? 200 reais por mês. Ou seja, eu acho que nós estamos fazendo muita coisa. E qual é o meu grande medo? A cultura brasileira de mudou o governo, param as obras que estão sendo feitas. E nós temos muitas obras sendo feitas que vão ter que continuar ano que vem, um ano e outro ano. 

Em São Paulo também temos um vice que assumiu, embora há mais tempo. Diziam que era desconhecido, e aliados respondiam como o senhor: “Estamos trabalhando. Vai aparecer”. E aos poucos ele tem se aproximado do 1º lugar. O senhor não. Pesquisas mostram que muita gente ainda não conhece o senhor. Nesse contexto, a Record resolveu entrevistar os quatro mais bem colocados na pesquisa deles. O senhor é o quarto. E eles dizem que senhor prefeiru não falar. Por quê?

Ninguém me chamou para entrevista. Eles me chamaram para discutir a pesquisa. 

Eles falam que chamaram os quatro primeiros da pesquisa.Quero saber o seguinte: o que o senhor está fazendo para ser mais conhecido, para tudo isso que o senhor falou aqui, ser mais conhecido até até a eleição?

Deixa eu te falar: candidato que não está governando, é uma beleza, tem tempo para tudo. Candidato que está governando não tem tempo, não. Porque essa quantidade de obra, ele precisa estar em cima dela o tempo todo. Eu nunca fui político. Nunca, na minha vida inteira. Em 55 anos, toda a vida fui secretário, fui presidente, mas nunca fui da linha de frente política. Eu entrei aqui meio que por acaso. Agora, quando você olha as coisas que a prefeitura [faz], a avaliação da prefeitura é muito alta. A avaliação do prefeito é boa, daquelas que o conhecem.

E quem não conhece?

Nós temos tempo, nós estamos longe da eleição. Eu fico muito preocupado com essas pesquisas. Porque essas pesquisas colocam o nome de pessoas que não são candidatos. É certo? O Estado de Minas está publicando uma pesquisa que tem o Mauro Tramonte [deputado do Republicanos] disparado em primeiro lugar. Não é candidato. Já declarou. 

O senhor quer até o Republicanos na sua coligação.

E ele já declarou diversas vezes que não é candidato. Ao colocar ele, que é um candidato de centro, muito conhecido, distorce toda a pesquisa. Aí, pesquisa boa dessa época é a que o candidato faz. Se eu vou mandar fazer uma pesquisa e eu vou aparecer lá em cima. Por quê? Olhe, eu não estou discutindo as pesquisas não, respeito as pesquisas todas… 

Mas o que o senhor vai fazer para ficar mais conhecido? 

Eu estou fazendo meu trabalho. Está certo? Eu não posso largar a prefeitura para fazer campanha. Se isso não for suficiente para as pessoas reconhecerem o trabalho do prefeito, eu vou perder a eleição. Agora, eu não vou parar de trabalhar na cidade. Eu não vou parar de trabalhar para fazer campanha. Quando chegar a época de campanha, que aí eu tenho a obrigação de fazer campanha, eu quero ter tempo de televisão para poder mostrar as coisas. A gente está fazendo uma série de mídia social mostrando as coisas que nós estamos fazendo. Depois você me segue lá, viu? Olha lá, tem muita coisa que nós estamos fazendo. Eu saio prestando conta para as comunidades, para as regionais todas. Isso eu já vinha fazendo desde o ano passado. O pessoal leva as pessoas para conhecer as obras da regional. Depois eu sento com eles, converso, explico, mostro tudo o que a gente está fazendo. Olha, é impressionante a quantidade de obras que nós estamos fazendo por essa periferia de Belo Horizonte. Quando eu chego, as lideranças todas me conhecem. O problema é que chega aquele pessoal mais básico…

Eles precisam conhecer o senhor. 

Sim. Eles precisam conhecer, se não eu perco a eleição. 

A gente vê um crescimento da direita muito grande em Belo Horizonte. Qual é a causa? Como lidar com isso? 

Olha, como eu disse, eu não brigo com ideologia. Porque eu acho que o prefeito de uma cidade igual a Belo Horizonte, uma cidade grande, não pode ser de direita ou de esquerda, pura e simplesmente. Tem pessoas que precisam. Nós temos uma série de dificuldades sociais, de assistência social. Nós estamos fazendo programa para acolher idoso. Nós estamos fazendo programa para acolher LGBT, para acolher mulheres em situação de risco…

O senhor está sendo muito criticado por tirar uma bandeira LGBT de um centro da prefeitura. 

Mas daí é o seguinte: situação nenhuma, nunca o pessoal LGBT foi tão bem tratado. Nunca foi tão bem tratado pela prefeitura quanto comigo. Tanto é que até me deram diploma lá, eu não fui porque eu estava viajando. Deve ter rasgado depois que eu tirei a bandeira. Em lugar nenhum da prefeitura, tem símbolo de nada. Não tem símbolo para mulher, não tem símbolo para criança. Por que que nós devemos ter um símbolo para criar um problema com toda pessoa de direita? Lá é um centro de referência. O centro de referência do idoso, não tem o idoso velhinho de bengala na porta. O centro de referência da mulher não tem [uma mulher]. Então, essas coisas a gente tem que trabalhar na igualdade. Todo mundo tem que ter um tratamento equivalente. Logicamente que eu respeito muito a comunidade LGBT. Muito. Fui em todas as paradas gay que tinha aqui. Levei minha mulher junto comigo. Minha mulher se solidarizou com as mães das pessoas que estavam lá. Abraçaram ela lá, sim, muito forte. 

Eu vejo que é difícil para o senhor lidar com isso. Ser de centro num momento muito polarizado dos dois lados. 

Mas isso aí, é por isso que eu falo. Que o prefeito não pode ter ideologia fixa. O prefeito tem que trabalhar para a unidade. O buraco não é buraco de direita ou de esquerda. A enchente não é de direita ou de esquerda. A fome das crianças na escola não é de direita ou de esquerda. A obra do anel rodoviário não é de esquerda ou de direita. Então, essa questão para mim é secundária. Mas as pessoas ainda têm isso. Olha, porque o Bolsonaro, porque o Lula… Eu, sinceramente, estou aqui trabalhando pela cidade. Se isso não for suficiente, vou pra casa, cuidar dos meus netos. Se for suficiente, vou penar mais quatro anos aqui. 

Em relação a regionais, tem candidato prometendo voltar as regionais, porque a prefeitura agora estaria muito centralizada. 

Porque antigamente as regionais tinham status de secretaria. O que o prefeito Kalil fez foi tirar o status de secretaria. E o que nós fizemos depois quando eu assumi foi reforçar todas as coordenadorias regionais. Porque o status de secretaria é muito pesado e acaba criando muitos cargos para lá. O que precisa é eles estarem próximos, estarem trabalhando. E hoje eu passo na estrutura, eu faço circuito das regionais, todas as regionais, em todas que eu tenho ido —e eu tenho acompanhado— o coordenador é aplaudido de pé. Todo mundo fala que ele é muito bom. Agora, a oposição fala tudo o que quer falar.