Eleições municipais

‘Nunca quis depor o prefeito’, diz Gabriel Azevedo, pré-candidato à Prefeitura de BH

Presidente da Câmara de BH diz que Fuad é ‘só um suspensório em busca de uma ideia’ e fala sobre suas ideias para a capital mineira

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O presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Gabriel Azevedo / Crédito:

A simples transcrição é insuficiente para reproduzir a fala de Gabriel Azevedo (MDB), presidente da Câmara de Belo Horizonte e pré-candidato à prefeitura. Ele é um dos ouvidos na série que o JOTA publica até sexta-feira (12/4) com os principais pré-candidatos da capital mineira.

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Para aumentar a clareza nesta entrevista, uma opção seria colocar ao lado das respostas marcações do tipo “tom irônico”, “mãos espalmadas em sinal de descrença”, como em um roteiro. Talvez o mais eficiente seja, de cara, dizer que o tom geral da entrevista, concedida em um café no bairro nobre da Savassi, foi amistoso. E que ele disse as palavras mais exaltadas na entonação de quem presume proximidade com o interlocutor, entre goles de café e lamento por não saber antes que o jornalista, que já o entrevistara uma só vez, estava na cidade no dia do seu aniversário: “Perdeu uma bela festa!”.

Bela e grande: 500 convidados em uma celebração a que seus assessores compareceram com suspensórios, para ironizar o prefeito, um antagonista que o presidente da Câmara Municipal faz questão de desdenhar: “O Fuad não tem gosto, não tem cheiro, não tem cara. Não tem nada. Ele é só um suspensório em busca de uma ideia”. 

A rivalidade com o prefeito faz parte de uma trama que também parece roteiro de cinema ou série. Com apenas dois aliados entre os 41 vereadores, Gabriel manobrou no fim de 2022 para chegar à Presidência da Câmara, aproveitando uma divisão entre o grupo governista e a “Família Aro”, grupo ligado ao chefe da Casa Civil do governo do estado, Marcelo Aro. Em minoria, o prefeito ficou então sob risco de impeachment, que poderia levar o presidente da Câmara a ocupar o seu cargo. 

Plot twist: o prefeito se aliou à Família Aro, que mudou de lado. E foi Gabriel quem ficou com o cargo em risco, tendo a mãe de Aro como relatora de um processo de cassação. Deus ex machina: o senador Rodrigo Pacheco, do partido do prefeito, visitou o presidente da Câmara Municipal, em uma demonstração de apoio. E seguidas decisões judiciais o mantiveram no cargo. 

O terceiro ato se inicia devagar nas negociações de alianças. Gabriel filiou-se ao MDB e tenta atrair partidos para um desafio a Fuad na eleição de outubro, na qual sua vitória seria um fim surpreendente, dadas as candidaturas de aliados de Lula e Bolsonaro e a força da máquina da prefeitura. Em uma trama paralela, depois de realizada esta entrevista, o prefeito rompeu com o grupo de Aro, por pressão do PSD, principalmente do senador Pacheco. 

Além dos movimentos políticos, o presidente da Câmara usa a seu favor um repertório amplo de referências de outras cidades e países, estudos comparativos, contatos com centros acadêmicos e de pesquisa. E também a destinação de dinheiro da Câmara para ajudar no problema que mais aflige os belo-horizontinos: o sistema de ônibus da cidade.

Leia a entrevista com Gabriel Azevedo, pré-candidato à Prefeitura de Belo Horizonte

O senhor agora quer virar prefeito não depondo o Fuad, mas se elegendo? 

Eu nunca quis depor o prefeito. 

Nunca? 

Nunca aconteceu! Zero! Quando eu fui eleito presidente da Câmara, eu fiz questão de ir até ele e dizer que o pedido de impeachment, que a minha antecessora tinha recebido, seria encerrado por mim de imediato. E o outro pedido de impeachment dele que chegou tá na gaveta e vai ter o mesmo fim. 

O senhor sabe que não é isso que falam na prefeitura, não é? 

Claro que não, eles também falam que eu ia cair da presidência, que eu não ia conseguir ter um partido, né? Eu falei pro Fuad, assim que eu cheguei lá na cara dele: eu quero a sua cadeira, mas eu vou chegar aqui através do voto. E não através do tapetão. 

E por que Belo Horizonte deveria eleger o senhor? Qual é o principal apelo da sua candidatura? 

Qualquer pessoa que ama essa cidade, como eu amo, e sente que ela não só parou no tempo, como ela está voltando atrás, deveria ousar sair desse marasmo. Eu hoje estava numa conversa com o diretor executivo do meu mestrado, na London School of Economics, e BH vai virar um case dos alunos dessa turma que está fazendo mestrado nesse ano. E os professores ficaram muito encantados com a minha dissertação de mestrado sobre como colocar as pessoas de volta nos ônibus. E, geralmente, quando a gente fala de ônibus aqui no Brasil, as pessoas pensam que o problema é somente injetar recurso, melhorar a qualidade do veículo, e elas não observam o que está acontecendo, por exemplo, quando você observa os casos de Hong Kong, Tóquio, Singapura, que são cidades que conseguem casar dois setores muito importantes, que é o setor da construção civil e o setor da mobilidade. Os dois últimos ícones da construção civil, quando quiseram ter altura em Belo Horizonte, são da década de 40 e de 50: o Acaiaca e o JK [edifícios no centro da cidade]. 

E o senhor considera que verticalizar é uma coisa positiva? Houve até uma mudança do plano diretor.

A palavra é adensar, não necessariamente verticalizar. Mas sim, você pode verticalizar, desde que isso não represente um aumento de número de vagas de garagem. De acordo com as regras atuais de Belo Horizonte, você não consegue verticalizar sem aumentar o número de vagas. Sendo que, por exemplo, um bairro como Barro Preto, repleto de galpões e cercado de linha de metrô, linhas de ônibus, estrutura de esgoto, estrutura de energia, tem galpões de um andar. Enquanto o município de Nova Lima fala: “Vinde a mim empreendedores da construção civil”. Nós não temos esgoto, nós não temos energia, nós não temos metrô. Não é possível. Nós não temos ônibus, mas por favor, construa um prédio de 50 andares aqui, na borda de Belo Horizonte.

E não tem esgoto mesmo, há um risco de crise de esgoto em Nova Lima.

Sim, sim! Então, o plano diretor que foi aprovado aqui, que eu votei contra, ele vai contra tudo que eu tenho aprendido, que é o espalhar do tecido urbano na região metropolitana. Tanto que o último IBGE mede a diminuição da nossa população. Não é? Belo Horizonte encolhe enquanto a região metropolitana cresce. Porque o custo da habitação em Belo Horizonte está aumentando, o custo do aluguel está crescendo e não está valendo a pena construir aqui. E quando você não adensa na região central… E a burocracia para você retrofitar um prédio no Centro impõe problemas gravíssimos em Belo Horizonte. Mas em São Paulo, se você quer retrofitar, no Rio de Janeiro, você pode fazer a ventilação mecânica. Aqui não.

A minha pergunta tinha sido por que votar no senhor. O senhor respondeu muita coisa. Disse que o Belo Horizonte parou no tempo. Foram exatamente as mesmas palavras que o deputado Bruno Engler (PL) me disse. Que Belo Horizonte tinha parado no tempo. 

Porque não precisa ser muito… deixa eu escolher bem a palavra… clarividente para perceber o que está óbvio na cidade. A diferença é que não basta querer fazer as coisas, tem que saber fazer as coisas. 

Então é esse o seu diferencial? Preparo de estudo e essa experiência? 

Eu acho que são outras três coisas para além da experiência acadêmica. Que eu acho que você tem muitos acadêmicos também que não conseguem implementar. A primeira é que eu sou um político com foco municipal. Eu não tenho uma pretensão de usar a prefeitura como trampolim. Como eu não usei o cargo de vereador como trampolim. Eu sou municipalista, acredito na independência das cidades. E na força do ambiente urbano como gerador de riqueza, de cultura e de tudo mais. Segundo ponto é que eu estou há oito anos convivendo com os problemas e as soluções da cidade. Eu acho que o diferencial em relação a alguns outros candidatos é que eles não tem exatamente a expertise de estar rodando a cidade, de estar percebendo as coisas, de estar tão próximo do que está acontecendo aqui. E o terceiro é que eu agrego uma curiosidade de soluções de problemas que outras cidades do planeta enfrentaram e que eu acredito que podem servir de inspirações para cá. Seja na mobilidade, seja na educação, seja na saúde. Eu estava conversando com algumas pessoas muito especialistas em inteligência artificial, inclusive para a saúde. Aqui em Belo Horizonte você tem diagnóstico de papel. Você sabia disso? As pessoas vão num hospital e recebem uma receita. Você não tem um banco de dados. Você não sabe aqui em Belo Horizonte, por exemplo, qual é a principal causa de morte por bairro. Você, portanto, não tem como orientar uma política de saúde preventiva. Então, eu acho que essas são algumas diferenças. Mas eu diria que eu sou um sujeito bastante resiliente em relação à vida pública. Eu já enfrentei algumas coisinhas aí que me capacitam para enfrentar outras.

Uma das coisas que o senhor enfrentou foi a tentativa de tirá-lo tanto da presidência da Câmara quanto do cargo de vereador. E o vetor daquela tentativa era a família Aro, que no ano passado fez aliança com o prefeito Fuad. Mas antes foram aliados seus para a eleição à presidência. A impressão que temos é que um tentou enganar o outro e os dois acabaram enganados. 

Enganado quem? 

A família Aro e o senhor. Porque naquela aliança um parece que tentou usar o outro. 

Eu não sei com quem você conversou na família Aro, porque tem uns chefes e os demais que são uns vegetais. Se você conversou com o Marcelo… Você conversou com ele? Você conversou com o Marcelo? Só uma pergunta. Ou você conversou com algum representante? 

Eu conversei com alguém. 

Ok! Perfeito. Bom, é só porque só alguém que dá as ordens ali. Os demais, tipo, Castelar [Guimarães Neto] é só um operador. Basicamente, o que aconteceu ali naquele processo pré-eleitoral é o seguinte: a família Aro acreditava piamente que o Fuad não iria intervir na eleição da Câmara. Todo mundo sabe disso. E eu falei: “Ele vai. Ele vai. Ele vai querer eleger um sucessor”. Tanto que o Fuad me chama na prefeitura de Belo Horizonte, depois do segundo turno, e fala: “Eu queria a sua ajuda para compor uma situação na Câmara”. Eu falei: “Perfeitamente, prefeito. Mas nesse seu convite, eu posso me colocar como nome de candidato a presidente?” Ele: “Claro”. Eu sabia que ele estava mentindo, mas eu queria saber até onde isso ia. E aconteceu exatamente o que eu contava para as pessoas desde o início. Ficariam três grupos. O meu, o do Fuad e o do Aro. O Aro tinha 18. O Fuad tinha 20. Eu tinha 3. Portanto, eu tinha capacidade de decisão. Se o Aro não topasse me apoiar para presidente, eu liberava os meus dois, que não gostavam do Aro. O prefeito tinha maioria. Eu era, de novo, anticandidato, como eu fui antes, e pronto, estava eleito. Eu falei isso, abertamente. Até que eu cheguei no acordo, que seria, eu ficar um ano na presidência, depois o Juliano [Lopes, vereador] um ano. Inicialmente, um bom acordo. Pronto, perfeito. O que aconteceu de problema nessa história? Basicamente, o Aro virou para mim: “Você não pode descartar o impeachment como uma ferramenta de pressão do prefeito Fuad”. Eu tinha dito para ele assim: “Vocês podem falar o tanto que vocês quiserem que vai ter impeachment, mas eu não vou fazer. Por uma questão simples: eu sou um homem vaidoso e eu não vou entrar para a história de Belo Horizonte como alguém que tentou chegar na cadeira de prefeito através de um método que não é o voto. Até porque não teria, nunca, 28 votos para tirar o prefeito da cadeira. Seria uma tentativa muito frustrada e ridícula para mim. Todo mundo sabe disso. Então isso nunca esteve em voga. Mas, de fato, a pressão em cima da prefeitura foi muito grande, e o Fuad me chamou por volta de fevereiro para fazer a seguinte proposta: “Abandone o Aro. Governe comigo. E a gente vai se dar bem”. Falei: “Prefeito, eu não posso. Eu falei várias vezes para ser o seu candidato a presidente, fui no Rodrigo Pacheco. O Rodrigo Pacheco te propôs isso e você não quis”. Quando o Aro se viu saciado com os cargos que ele queria e que surgiram….

As quatro secretarias.

Três. Meio-ambiente, Educação e Desenvolvimento Econômico. Quando ele se viu saciado com essas três secretarias… 

E o Castelar na Secretaria de governo, não?

Governo. Mas ele chega depois. Quando essas três secretarias saciam o Aro, ele pega os nove vereadores dele e retira do ambiente da oposição e bota na base. E tem um ponto muito focal nessa história: a CPI da Pampulha. O Aro tinha um problema: eu tinha prometido para o nosso grupo que, independente da mudança de base e oposição, eu não iria interferir no resultado da CPI da Pampulha. E a CPI da Pampulha era muito importante, não só para mim, como para o vereador Braulio Lara, do Partido Novo. Quando uma integrante da família Aro retira o relatório da Pampulha, aí a casa cai. E, na hora em que a casa cai, o Aro se aproveita para dizer para o prefeito que, realmente, o Gabriel é uma pessoa muito difícil, e, se você quiser governabilidade, basta você fazer uma coisinha: você me dá a Secretaria de Governo. E ele escolhe o Castelar, que é uma pessoa muito próxima dele, e que era um amigo meu. 

Era?

Era! Era porque eu não sou hipócrita. Uma pessoa que contribuiu para tentar acabar com a minha vida política não tem nem porquê se considerar meu amigo. Então, as coisas têm um limite. E aí, esse cara, na hora que entra no governo, é um trouxa. Que legal. É um cara que vai ajudar, finalmente, a falar ao Castelar: vamos fazer os 41 ir na sua posse, vamos criar uma governabilidade. Castelar começa a operar para fazer com que o grupo de vereadores que estava mais próximo a mim começasse a ser esvaziado. Qual era o objetivo? Chegar no momento em que eu não tivesse mais apoio interno na Câmara para alguém virar e falar assim: “olha, amigo, então, ou você vai fazer o que a gente quer ou acabou”. O grupo resistiu. Chegou o pedido de cassação do PDT na mesa de um dos integrantes da família Aro, que me contou. E na hora que ele me contou, ele arquivou e tomou um esporro da família Aro. E o Castelar sugeriu que ele fizesse um boletim de ocorrência falso contra o meu braço direito na Câmara. Aí a guerra estava instalada. Pronto. Aí eles acharam que iriam conseguir… O objetivo não era me cassar. O objetivo era a tese de que, com um pedido de cassação, viria junto um pedido de afastamento da presidência, com os 21 votos, porque eles sabiam que eles não tinham 28 também [pra cassar]. E aí isso virou uma briga jurídica muito pesada. Foi parar no STF. Começou na primeira instância, foi para o Tribunal de Justiça, foi para a mesa do Dias Toffoli. 

Voltando um pouco para a disputa municipal…

Só uma coisa, isso me ajudou muito.

Por quê? 

Porque a uma hora dessas eu teria saído da presidência no dia 1º de janeiro. Não teria como eu descumprir um acordo que eu iria cumprir. Eu já estava com passagem comprada.

Só que o senhor acha que foram eles que descumpriram?

Claro! O cara tenta me cassar! Eles perderam 10 vezes na Justiça. Só que isso veio com uma coisa interessante, porque o maior grupo político de Minas Gerais hoje é o grupo anti-Aro. Ele reúne pessoas da esquerda até a direita. 

E agora o senhor está no MDB para ser candidato a prefeito. Já está certo isso? Ainda existe alguma dificuldade dentro do MDB?

Pelo contrário. A escolha do MDB tem a ver, inclusive, com a unanimidade do grupo político do MDB em Minas. Houve uma reunião em Araxá, no Grande Hotel, em que estavam Niltinho [deputado Newton Cardoso Jr.], Ercílio [Coelho Diniz, deputado federal], Tadeuzinho [presidente da ALMG] e João. Além do Baleia [Rossi, presidente nacional do MDB]. 

João Magalhães, que é o líder do governador Zema na Assembleia?

Sim! Então, eu falei assim: “Gente, o nome é Gabriel”. Sim, porque chegou o momento em que os partidos começaram: “O cara não morreu. O cara é duro na queda e faz seis meses que a imprensa só fala do Gabriel”. Então, o MDB me fez um convite formal. Me oferecendo a garantia de ser candidato a prefeito. “Nós temos fundo eleitoral e queremos apostar em você. Nós temos a liberdade de te dar a chapa de vereadores. Você faz do jeito que você quiser. E você vai ser o presidente da executiva municipal em Belo Horizonte. Ok? De contrapartida, nós queremos — atenção, aí vamos às letras pequenas do contrato — ganhando ou perdendo, você fica no partido. Isso ajuda a gente a construir o MDB em Minas Gerais”. Justo. “Segundo, você vai ajudar o partido nacionalmente. Todos nós te conhecemos pela sua habilidade de comunicação, de estratégia e tal. E terceiro, especificamente para o partido em Minas Gerais, a gente quer que você ajude candidatos a prefeito, a vereador” —o que eu fiz sempre a vida toda no Renova, em outras entidades, preparando candidatos. Eu falei: “Perfeitamente, estamos fechados”. Nessa reta final, o cenário foi muito diferente. Os partidos todos começaram a me procurar. Então, o Aécio e o Paulo Abi-Akel [deputados federais do PSDB-MG] jantaram comigo e fizeram um convite formal para eu voltar ao PSDB. O [deputado estadual] João Vítor Xavier me convidou para o Cidadania. Políticos do União Brasil me formalizaram o convite para entrar no União Brasil. O Republicanos, parte dele, queria muito que eu estivesse lá. O PSB passou a me convidar também. 

O senhor acha que é possível fazer alguma aliança? Ou o senhor acha que vai com o MDB solo?

Não, eu acho que é possível fazer uma aliança.

O senhor está tentando quem? 

Nós estamos conversando justamente com os partidos que estavam conversando comigo. Então nós estamos conversando com o União Brasil. Nós estamos conversando com Republicanos. Nós estamos conversando com PSDB e Cidadania. E com PSB. 

Todos partidos com que o prefeito está conversando. Qual é o seu argumento para esses partidos apoiarem o senhor e não o prefeito, que tem a caneta? 

Porque ele vai perder!

E o senhor vai ganhar?

Não sei! Mas o prefeito vai perder.

BH está com uma fragmentação muito grande, a esquerda está com três candidatos…

E por isso também o Fuad vai perder. Ontem eu estava com a reitora da UFMG. Você deve ter acompanhado o negócio das árvores no Mineirão [derrubadas para fazer uma pista de Stock Car]. E você deve ter acompanhado a bandeira LGBT no Centro LGBT [que o prefeito mandou retirar]. O Fuad não é de esquerda. Nunca foi de esquerda. E para Duda, Bella e Rogério estarem com o Fuad é um sacrifício profundo. Se tiver essas candidaturas no primeiro turno, não existe a candidatura do Fuad. O Fuad depende vitalmente da esquerda pra ser alguma coisa. O Fuad não tem gosto, não tem cheiro, não tem cara. Não tem nada. Ele é só um suspensório em busca de uma ideia. Você quer ver um exemplo? O aeroporto Carlos Praes. O Fuad não faz a menor ideia do que ele vai fazer. Certamente o Paulo Vasconcelos deu a dica pra ele. 

Ele pediu a entrega do aeroporto ao município para fazer um parque, moradias. 

O parque já existe. O parque já estava lá. Porque essa história do parque era da cidade. Foi pra União. Foi pra cidade, foi pra União e agora voltou da União pra cidade. 

O projeto que a prefeitura diz é o parque, casas populares, o hospital e escola. Então há um projeto ou uma ideia. 

É mais ou menos como se fosse 1940, e o JK tivesse dado os ouvidos aos medíocres que queriam fazer em torno da lagoa um conjunto habitacional. Mas ele falou, não, pera lá. O conjunto habitacional eu vou fazer aqui no centro. Eu vou urbanizar, eu vou asfaltar a [avenida] Amazonas. Mas nessa lagoa aqui, pera lá. Aí ele chama um jovem chamado Oscar [Niemeyer]. Aquilo dali é um lugar que pode projetar Belo Horizonte pro planeta. Você chama um arquiteto internacional, você faz um concurso maravilhoso, você entende o que ali pode implementar pra cidade se destacar. Você não chama algum tipo de projetinho de quinta categoria pra cumprir uma função que você tem que cumprir no centro da cidade. Você não vai construir conjunto habitacional num aeroporto quando você tem 100 prédios vazios na cidade. 

O prefeito disse que tá fazendo retrofit no centro.

Tá p… nenhuma. 

Disse que vai aumentar a moradia popular no centro.

Me fala um projeto! Ele mente. Como é de costume dele. Me fala um projeto de retrofit no centro da cidade. Nenhum! Amanhã eu estou indo a São Paulo dar uma palestra sobre requalificação de cidade e de Centro. Eu não sei se alguém chamaria o Fuad para falar sobre isso.

Para saúde e educação, quais suas propostas?

Em primeiro lugar, a saúde de Belo Horizonte não utiliza nenhum tipo de inspiração dos melhores exemplos que você tem no planeta. É a questão da digitalização. Você não tem um banco de dados municipal considerando os dados da população. Para antever os problemas.

Mas está no DataSUS isso, não?

Não está no DataSUS. Porque você não tem… Por exemplo. A pessoa chegou lá no consultório. Aí o médico vai e recomendou o seguinte remédio para o paciente. Ele dá uma receita de papel. Você não tem uma inteligência de estoque de medicamentos. Você tem falha de medicamentos todo tempo. As pessoas vão buscar remédio, não tem remédio no posto. Elas se sentem mal, acabam indo para a UPA, ao invés de ir para o centro de saúde. Você não tem um serviço de inteligência que fala o seguinte. Veja Curitiba, vamos pegar o [Rafael] Greca, que é um prefeito que eu adoro. Um cara que ama a cidade. Lá tem um teleatendimento de saúde, que é um exemplo para o Brasil. Se a pessoa passou mal, ela não tem que sair de casa, ir lá para a porta do posto de saúde pegar mais umas cinco doenças, demorar cinco horas para ser atendida e reclamar. Claro que ela vai reclamar. Não: ela liga. Dá um primeiro atendimento. Há um serviço que já pode, a depender do fato, levar o medicamento até a pessoa. Dar uma primeira orientação. E, caso haja necessidade, você já teleagenda a visita presencial. Nada disso existe em Belo Horizonte. Eu acompanho muito a questão da saúde pelos meus colegas, que não é o meu tema principal. E acompanho muito a questão da saúde porque eu sou um curioso. E há uma parcela grande do meu público que é ligada à medicina. Você vai na Santa Casa. A Santa Casa te aponta pelo menos cinco coisas simples. Que você podia fazer na rede de saúde pública e que não são feitas pela prefeitura. Por quê? Por que essas coisas não avançam? Não consigo entender. Então, quando o assunto é saúde, nós estamos falando de inteligência artificial, teleatendimento, digitalização de dados. E uma política preventiva. Muito ligada a uma coisa que não acontece em Belo Horizonte. Uma causa mortis grande de homens em Belo Horizonte: infarto. E aí? Nós vamos continuar deixando os caras infartar? 40, 50 anos? Qual a política pública de esporte para as pessoas na cidade? Não existe. Porque a Secretaria de Esportes não conversa com a Secretaria de Saúde. Eu fui muito tempo subsecretário de Juventude. Eu fui quatro anos secretário [estadual] de Juventude, no governo Anastasia. E uma das coisas que atuar nessa área me ensinou é a tal da intersetorialidade. Você não tem como prevenir doença sexualmente transmissível só cuidando disso na Secretaria de Saúde. Você tem que inserir o assunto na Secretaria de Educação. A DST está no fundo. 

Talvez o senhor esteja querendo que a direita caia na sua cabeça. Falar de educação sexual hoje nas escolas tem sido polarizador.

Foda-se, amigo! Uma coisa é o seguinte: eu posso perder essa eleição. Não tem problema com isso. Tenha isso na sua mente: perder ou ganhar é do jogo. Eu vou continuar sendo cidadão de Belo Horizonte. Vou continuar dizendo o que eu acredito que é o melhor para minha cidade. E certa vez me perguntaram: Gabriel, qual é a sua principal política para o público LGBT? Eu virei para os pastores lá na Câmara e perguntei: Vocês conhecem o caso de uma criança de um adolescente que é expulso de casa por causa de uma orientação sexual? Sim. Vocês acham que essa pessoa deveria se prostituir na rua ou virar uma pessoa em situação de vida? Não. Vocês acham portanto que é adequado ter um abrigo específico para quem foi expulso de casa por causa da sua orientação sexual? Sim. São coisas muito óbvias, entendeu? Agora, eu não vou defender todos? É uma coisa patética e ridícula. 

E para a educação? 

Vou colocar algumas coisas que acho fundamentais, incluindo um erro grave do Kalil. Primeiro, um acerto: a questão das creches na cidade de Belo Horizonte é muito positiva. Isso tem que ser reconhecido. Eu não tenho problema em elogiar quando a coisa está inovando. E na época do Kalil, realmente, praticamente zerou a fila de espera. A creche foi um grande avanço pelo governo Kalil, que está mantido pelo governo Fuad. São as creches conveniadas. E você tem que no máximo desburocratizar esse tema. O Kalil, para tentar zerar a fila da escola do ensino pós-creche, do ensino infantil, ele acabou com o ensino integral. O Márcio [Lacerda] tinha tido um grande avanço na criação das escolas de tempo integral. Aí chega, deixa a criança e só volta no final do dia. A principal reclamação dos pais é essa: varia o horário de trabalho. O fato de você ter que ir todo mundo na mesma hora, prejudica muito as mães. Se você tiver uma pequena estrutura que possa receber as crianças e na sequência segurar elas um pouquinho até mais tarde para as mães que não conseguem buscar, você já está colocando muita criança dentro da escola. Nós estamos falando em todo o ciclo fundamental. Segundo, não sei se você conhece uma iniciativa chamada Urban 95. É uma genialidade criada por um instituto da Alemanha em parceria com a London School, que é a cidade para pessoas de até 95 centímetros. Que compreende que a escola não é só um lugar de depositar crianças para aprender, mas ela é um hub social. E no entorno da escola você tem que centrar a comunidade, fazendo atividades no final de semana, com uma escola aberta, com uma escola que envolve as famílias, com uma escola que vai ter um espaço para que o ensino não seja só integral, mas que seja um ensino comunitário. Que ela tenha um papel muito grande a desempenhar no seu entorno, no desenvolvimento de capital social. E outro ponto que você tem na maioria das escolas aqui de Belo Horizonte é o incremento de assuntos que vão ser muito pertinentes para a vida e não aconteceram. Todas as escolas têm caixa escolar. Eu sou autor do projeto de lei que institui nas escolas de Belo Horizonte o ensino de noções de empreendedorismo, noções de educação financeira e noções de direito e cidadania.

Isso virou lei?

Está funcionando em várias escolas. O primeiro em parceria com o Sebrae, o de direito em parceria com a OAB. É fascinante. Ou seja, você tem ali no período da tarde um dos maiores problemas do Brasil, que é o endividamento familiar. Muita gente se endivida. Por quê? Porque na escola você não aprende que você não pode pegar empréstimo em banco. O que é juros compostos. Então, assim, você precisa, ainda que sejam crianças, você precisa… Ainda não, né? Os lugares estão se desenvolvendo, já tratam as crianças como o início de todo um processo internacional. É muito integral, muito permanente. E isso tem que resultar numa coisa que o Belo Horizonte começou a perder, que são os indicadores. Os indicadores de educação de Belo Horizonte refluíram. Profundamente, no final do governo Kalil, despencaram no governo Fuad. 

Mas aí tem a transição da pandemia também.

Não! Vários municípios do Brasil não despencaram. O problema da pandemia em Belo Horizonte foi outro. Isso o Kalil errou. Ele demorou muito a reabrir as escolas. As escolas de Belo Horizonte foram as últimas a serem reabertas e o impacto disso em alguma faixa de ensino escolar é perceptível. 

O senhor fala, no geral, muito bem do ex-prefeito Kalil, apesar de algumas críticas… 

Nós nos demos muito bem 

Kalil, até agora, está distante do Fuad. O senhor acha que existe alguma chance de ele estar ao seu lado?

Eu não ousaria prever o que o Kalil é capaz de fazer. Eu, de verdade, não tenho a pretensão de buscar o Kalil para apoio. Não acho que esse é o caso. No sentido em que eu não quero ser o candidato de alguém. Eu compreendo que existem padrinhos eleitorais fortes na campanha. 

E o seu padrinho é o Newton Cardoso. Ou o Niltinho? 

[Palavras exaltadas] Eu não tenho padrinho! Lógico que não é meu padrinho. Eu não tenho padrinho, porque não é o Newton Cardoso ou o Niltinho que estão saindo e falando assim, por favor, votem nesta pessoa. Eu não tenho padrinho, eu tenho partido! São coisas diferentes, entendeu? O fato de você estar ingressando numa legenda não quer dizer que… Porque, vamos lá: o Engler sem o Bolsonaro é alguém? Não. Não é. A Luísa sem o governador Zema é alguém? Não. O Carlos Viana sem qualquer pessoa é alguém? É! O Carlos Viana tem pernas próprias e caminha por pernas próprias. Ele é um senador, foi candidato ao governo e tal. O Fuad precisa profundamente do Lula. Se o Fuad não tiver o Lula, ele vai ter muita dificuldade. Como qualquer candidato da esquerda. 

E como o senhor vê a influência dos padrinhos? Acha que Zema vai ter influência importante nessa eleição? E Lula e Bolsonaro vão fazer diferença no nível municipal aqui? 

As pessoas tendem a acreditar que as eleições municipais resultam da última eleição presidencial. Eu tenho a teoria contrária. Eu acho que as eleições municipais dão um indicativo do que virá nas eleições presidenciais. Por exemplo, em 2016, Kalil, Crivella e Dória foram a semente da antipolítica, que desaguou em 2018. Quando você teve 2020, a pandemia e o comportamento dos políticos na pandemia foi crucial para determinar, inclusive, o comportamento do eleitor em 2022. Tenho absoluta certeza de que o Bolsonaro perdeu, principalmente, porque ele brigou com a vacina. Foi uma margem muito pequena, mas o fato de ele ter sido o único líder mundial que resolveu brigar com a ciência e com a vacina foi fatal. 

Mas Bolsonaro hoje é um discurso, uma ideia. Lula e Zema são discurso e são caneta também. O senhor acha que eles vão influenciar alguma coisa nessa eleição?

Eu acho que, obviamente, o Lula tem diante de si um desafio, que é questionar se ele, de fato, vai unir a esquerda em torno do Fuad ou se ele vai esperar para depois atuar no segundo turno. O Kassab [presidente nacional do PSD] quer muito que ele apoie já. Que o PT seja vice do Fuad e que ele tire a Duda e a Bella. Ou seja: o Fuad quer ganhar por W.O, não motiva ninguém, não tem plano. Então, o que é o meu desenho da eleição? Na esquerda, tem a Duda, que tem o menor teto — ela hoje conquista uma esquerda identitária muito significativa, carnaval, público LGBT, por aí vai. Só que ela tem um teto muito baixo, porque ela conquista esse pessoal e mais ninguém. Aí você tem a Bella, que é um subproduto da Duda, no sentido de que também disputa a mesma esquerda identitária, que para os Estados Unidos, são os woke. Aí você tem o Rogério, que é PT, só que é homem, branco, hétero. E está concorrendo com duas, e você tem uma autofagia. O eleitorado de esquerda em Belo Horizonte é de 30%. Não mais do que isso. E esses três vão concorrer. E o Fuad: não tem carisma, não tem projeto. Ele tem a máquina. Como Délio Malheiros tinha contra o Kalil [em 2016]. A grande questão é que o Fuad deu um cacete nos bolsonaristas na Raja Gabaglia [avenida em que ficou o acampamento bolsonarista], fez o L, dentre outras coisas mais, que deixam uma muralha para ele buscar o voto não só da direita, do centro também. Porque o eleitor de centro, sobretudo da [região] centro-sul, tem uma percepção muito ruim da cidade. Mendigos, pessoas em situação de rua, abandono, sujeira, marasmo e tudo mais. Sem falar no trânsito, que a pessoa quer matar o Fuad. E todo mundo sabe, isso já está na boca do povo. Todo mundo sabe que aqui está o melhor amigo do [empresário de ônibus Rubem] Lessa. E que fez o contrato de ônibus da região metropolitana na forma de cartel que inspirou o cartel de 2008. O Fuad, obviamente, quer cortar essa galera [de esquerda] para isso tudo vir para ele. E ele polarizar com o Bruno Engler. Esse tem um bloco muito sólido de quase 20%. Isso está acontecendo no planeta, né? Brexit, Trump… Você não precisa numa eleição de dois turnos conquistar a maioria. Você só precisa ficar em primeiro ou segundo lugar. Então, o Engler é a aposta de todo mundo para um candidato que tem grande chance de ir para o segundo turno. Eu não sei o que é que o Viana vai fazer, mas eu percebo o Viana meio como um Russomano. Tem um conhecimento grande, mas… Chavões, pouco conhecimento da cidade, aquela coisa meio de radialista, que fica meio que criticando, mas se você pergunta: e o plano diretor? É quase o Onix contra o Eduardo Leite: “Qual que é a sua proposta, então, candidato?”. “Melhor que a sua”, entendeu? E aí você tem a Luiza Barreto [Novo]. O Novo está fazendo mil esforços, os vereadores e muita gente, para ela não ser candidata. Porque não vai ser uma derrota dela, será uma derrota do Zema. Não tem tempo de TV, não participam no debate, não tem carisma, então pode não acontecer. E estou eu aqui no MDB. O que é que eu estou querendo? Obviamente, juntar um cadinho mais de partido. Não precisa ser muito, não, estou de boa. Se eu ficar só no MDB, inclusive, eu estou muito tranquilo. Mas se tiver mais, claro que é melhor. E você vai ter aqui, meu amigo, aquele desenho da Hanna-Barbera, “Corrida Maluca”. Eu estava hoje com os militantes da Pampulha, da UFMG, contra a Stock Car. Isso vai ser uma questão muito complicada para o prefeito e vai até agosto. Então, os institutos de pesquisa me falam assim: Está aqui o Engler. A natureza vai cuidar do Carlos Viana, até porque ele vai ser fagocitado pelo Engler. A Luiza Barreto também não existe. A Duda, teto. Bella também não. Rogério, se for candidato… E o Fuad. Só que o Fuad quer namorar a esquerda. Eu não! O Fuad quer desesperadamente estar na esquerda para fazer o que São Paulo vai fazer: Boulos, Ricardo Nunes, Tabata.

Em São Paulo, a deputada Tabata Amaral [PSB] está com dificuldade de escapar da polarização. Por que o senhor é diferente dela?

Porque eu não sou alguém que fez o L. E eu falei isso para ela. Isso é definitivo.

O senhor votou no Lula ou no Bolsonaro no segundo turno?

Não vou falar! Não vou olhar para o passado, vamos em frente. Voltando: tem uma diferença de Belo Horizonte para São Paulo. O bolsonarismo lá está no poder. O Ricardo Nunes é uma pessoa normal. O Bruno Engler é meio caricato. O Boulos é uma potência. Já foi candidato. O Rogério, a Bella e a Duda têm seus limites. 

O senhor acha que aqui o espaço do centro é maior?

Com certeza! Todos os institutos te mostram isso. Porque lá a polarização já esmagou a Tabata. 

E o prefeito que tem a máquina aqui não está em um dos polos…

Isso! Ou pelo menos quer, esteticamente, não estar. Ele quer se vender de centro com o recheio de esquerda. 

O senhor vê algum papel do Zema aqui em Belo Horizonte? 

Eu acho que o Zema está querendo ficar de fora dessa briga.

E focar no interior?

Claro. É onde está a força dele. Na capital você sabe que não é exatamente a força dele.

Voltando às propostas: e o desenvolvimento da cidade?

Nós precisamos de um fortíssimo processo de atração de investimento de tecnologia. Qual empresa de tecnologia está querendo vir para Belo Horizonte?

Belo Horizonte é um polo de tecnologia.

Você está enganado! São Pedro Valley acabou. A ideia de startups, de unicórnios, acabou. Sabe por quê? A pessoa gasta 50 minutos para ir para o aeroporto de Confins. Só isso já ferra Belo Horizonte de um jeito que vocês não imaginam. 

O senhor quer resolver isso como? Um trem? Um VLT?

Primeiro o seguinte — esse é um dos cases que eu estou levando lá para Londres: a prefeitura de Belo Horizonte não lidera a região metropolitana. Isso é uma vergonha! Londres, quando fez a reforma de 2000, que juntou os 34 boroughs em duas cities e criou a City of London, a grande Londres, a Greater London, foi aí que veio o transporte para Londres. Foi aí que começaram a limpar o [rio] Tâmisa. Você tem que ter integração. Semana que vem vai ter um encontro com todos os países. Belo Horizonte não lidera a região metropolitana. Não lidera a integração da região metropolitana. Portanto, uma coisa óbvia como, por exemplo, um sistema de mobilidade integrado não existe aqui. Enquanto em São Paulo você já tem um cartão único há tempos. Isso é uma das soluções. Da mesma forma, eu tenho uma proposta ambiental que eu considero muito importante, que é o Parque Metropolitano da Serra do Curral. Você precisa criar o que se chama de buffer zone. As cidades do mundo têm isso: o [parque] Bois de Boulogne em Paris, os parques ali em Londres. Você cria uma zona de abastecimento térmico, uma zona de planejamento de crescimento. Porque senão, daqui a pouco, Nova Lima e Sabará vão virar com Belo Horizonte uma coisa impossível. Então tem um projeto. A prefeitura de Belo Horizonte não leva isso a sério. Não leva a sério a integração. Então você tem que ter um acesso rápido a Confins. Você fala: como é que você vai conseguir fazer isso? O Paes tem relação com a bancada federal fluminense. Tem jantares no Palácio da Cidade com os deputados federais. Tem conversa com os senadores. O Fuad não interage politicamente com Brasília. Ele não integra na região metropolitana e não tem uma busca ativa em Brasília. Eu já cheguei com três ministérios [do MDB]. Estou fazendo essa piada, né? Porque meu lema, minha proposta é TTT: Teto, Trabalho e Transporte. Esse é meu mote: TTT.

E o senhor demorou uma hora de entrevista para dizer isso?

É porque se eu falasse primeiro, você não ia entender! [Risos]. Agora você já pegou. Então, Teto: há uma urgência de moradia em Belo Horizonte, não só para quem está na favela e tem uma moradia ruim, não só para quem está em pessoa ou situação de rua e não tem onde viver, mas porque a dificuldade de construir cria uma pressão nos preços imobiliários e expulsa as pessoas de casa. Na hora que você fomenta o mercado imobiliário, a construção civil e adensa, você começa a resolver o trânsito. 

Isso vai mudar o plano diretor?

Sim! Radicalmente, sem medo de ser feliz. Quero adensar a cidade de Belo Horizonte. Quero adensar. É uma cidade anã. E por isso, por estar profundamente espalhada no território, ela gera trânsito. Você já olhou, você já sobrevoou Belo Horizonte? Manchinha ali no Contorno e o resto… E aquela gigantesca Nova Lima surgindo ali na beirada. Aí agora vai lá.

Mas o senhor acha que Nova Lima é exemplo para urbanismo? Porque nós temos uma cidade sob risco de colapso ambiental.  E é isso que o senhor está propondo pra Belo Horizonte? 

Não. Você tem que diferenciar o que eu estou propondo. Primeiro, quando você olha o Barro Preto, você tem um grid urbano pronto. O esgoto, rua, metrô, ônibus, tal. Você tem a estrutura pronta, só está uma cidade baixinha ali. E é difícil construir. Se você for fazer um prédio no quarteirão Nova Lima, você tem que ter o recuo. Você tem que pagar o saldo. 

Faltam dois Ts. 

Segundo: questão de Trabalho: Desburocratização da cidade. Essa é a cidade onde tudo é difícil. Vem conversar aqui com a dona deste café pra você ver o que ela sofreu. Pra botar as mesas aqui na calçada, oito meses. Pra colocar o toldo, um ano. Pra abrir o empreendimento, seis meses. Até ela perceber que a lojinha que ela tinha ali não estava dando mais conta do recado. Levou quase dois anos pra abrir esta loja. Isso não pode! Você tem as regras, beleza. Tem que ter alguém de fast track. E a mesma coisa: uma política agressiva de atrair indústria. Indústria pra poluir? Não, indústria é tecnologia. Nós temos uma UFMG. Cara, a UFMG é incrível. E aí eu me inspiro muito em Stanford. Que pra mim é um belo modelo de universidade. Qual é o segredo de Stanford? É uma universidade que se soma muito com a iniciativa privada. E aí na hora que você tem ali no entorno da UFMG uma área profundamente vazia, sem tecnologia, é muito ruim. Então você tem que estimular a atração de tecnologia, de empreendimento. O prefeito vetou a lei de startups que a gente fez na Câmara. Ou seja, todo um conjunto de normas que nós fizemos para desburocratizar a abertura de startups, caiu. Foi tudo pra Nova Lima. As pessoas abrem o CNPJ em Nova Lima. Belo Horizonte tem uma região metropolitana que compete entre si. E ao perceber as deficiências da capital, Nova Lima, Contagem, Betim, puxam. Não são bobas. E o transporte também. Acho que desde aí, né, vou te encher. Eu já fiz muita coisa. E acho que você vai ter, pro próximo prefeito, vou fechar a entrevista com você com dois grandes desafios. O próximo prefeito será responsável por escrever o plano diretor seguinte e por cuidar de um contrato de ônibus, que o atual termina em 2027. Considerando o artigo 30 da Constituição, não me parece existir coisas melhores. Mas eu posso aqui ainda destinar pra você o quanto que o serviço de lixo dessa cidade parou no dos anos 70. Nós temos lixão, nós temos 30 pontos de reciclagem numa cidade que tem 2 milhões e 300 mil habitantes. Nós temos uma cidade com o sol batendo o ano inteiro, painel fotovoltaico tem ali e acolá. Você poderia ter toda uma indústria. Lixo não é bem tratado, reúso de água não existe. Então, assim, nós podemos dizer que isso… cultura então? Meu Deus, pobre, pouco ousada. Dá pra gente ir mostrando aqui um conjunto de ideias muito legais. Pampulha, cara, como é que é a lagoa da Pampulha? Fecho aqui na lagoa da Pampulha. Mas você já foi a Pampulha? O que é que você faz na Pampulha?

Dá uma volta, vê que o museu está fechado, tira uma foto na igrejinha e não pode entrar na água, que está suja.

Obrigado! Você imagina se a Pampulha fosse assim: avenida Otacílio Negrão de Lima fechada para carros, com um grande calçadão. O uso dos imóveis na Lagoa da Pampulha não fosse residencial. Bar, restaurante, comércio… Um grande calçadão à beira d’água. Não é nenhum segredo que os seres humanos gostam de caminhar na beira d’água. E aí você não vai só na igrejinha que fecha às 5 horas da tarde pra fazer uma foto. Você vive a Pampulha, entendeu?

Eu preciso fazer uma última pergunta. Desculpe-me se parecer indelicada. O senhor deu a entender que o fato de a deputada Duda Salabert ser transexual e a deputada Bella Gonçalves ser lésbica prejudicam as duas eleitoralmente, com um teto baixo. E o fato de o senhor ser declaradamente bissexual não o prejudica também?

O que está em pauta nessa eleição não é a minha sexualidade. A sexualidade não é palanque e nem ferramenta para resolver trânsito, para resolver falta de moradia e para resolver dificuldade de empreender. O que eu quero oferecer pra cidade, muito mais do que a minha sexualidade, são as minhas ideias… Aliás, eu estou doido pro Engler me chamar de veado.