Iago Bolívar
Diretor de conteúdo do JOTA. Email: iago.bolivar@jota.info
A vantagem da direita nas redes ao longo do governo Lula sempre teve uma exceção: a trama golpista. A crise do tarifaço de Trump deu à esquerda outro trunfo. Na semana passada, os dois juntos consolidaram uma sequência inédita de nove dias de superioridade governista nas redes.
O impulso duplo veio depois de semanas em que a base lulista já se animara com o mote ricos x pobres, que virou o jogo com o Congresso e inverteu a mensagem sobre impostos, em que “Taxad” era o símbolo de um governo perdulário.
Do outro lado, a direita bolsonarista aproveitou a operação determinada por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), contra Jair Bolsonaro (PL) para sair das cordas. Atordoados pela repercussão negativa da associação com a tarifas, os bolsonaristas haviam recebido na terça-feira (15/7) outro baque com a investigação americana sobre o Pix.
Agora, o ex-presidente juntou a própria base em torno dele, com a mensagem simples e unificada da perseguição política.
Mesmo aqueles que divergiam sobre a linha a seguir quanto às tarifas estão agora acorrendo juntos em defesa de Bolsonaro, com mudança só de ênfase.
A rixa pública entre Tarcísio de Freitas e Eduardo Bolsonaro, apaziguada nos bastidores desde quarta, ficou em segundo plano. Do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ao senador Cleitinho (Republicanos-MG), divergências sobre Pix e tarifas deixaram de ser o foco, em favor da defesa do ex-presidente. É, de novo, uma divisão entre Lula e Bolsonaro. Desta vez com uma vantagem para o atual presidente.
Essa reconfiguração pode ser conjuntural, impelida pelo impacto inicial do discurso patriótico. Não mudou a vantagem que dão à direita a rede de mobilização dos grupos de WhatsApp e os foros de socialização, como as igrejas e clubes de tiro.
Mas os movimentos dos últimos dias mostram um bolsonarismo na defensiva quanto à mensagem. Na guerra de narrativas, são eles agora que estão sem munição, ainda que tenham mais tropas.
Para figuras que tentam se valer do bolsonarismo digital para construir um caminho próprio, como Tarcísio, o saldo é negativo: só a defesa pessoal do ex-presidente compensou os desgastes ao centro e à direita que a dubiedade sobre tarifas lhe causou.
Na hora do aperto, o recuo tático para a deslegitimação do processo contra os ataques à ordem democrática fortalece Bolsonaro e compromete o governador. Se dá a ele pontos com bolsonaristas, que sempre pedirão mais e mais provas de lealdade, o posiciona na ponta fraca de um tema em que a vantagem sempre foi de Lula.