“Quando perguntarem, ‘Cadê o Queiroz?’ Diga que estou no Twitter”. Fabricio Queiroz, ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) que ganhou notoriedade no caso das “rachadinhas”, não só agora é tuiteiro como também tem a intenção de concorrer à Câmara dos Deputados nas eleições de 2022 pelo Rio de Janeiro. A jornalistas que digam que uma opção seria disputar uma vaga na Alerj, Queiroz tem uma correção na ponta dos dedos.
“Se for da vontade de Deus, vou disputar uma cadeira legislativa sim. Apenas uma correção na reportagem: Sou pré candidato a deputado FEDERAL! Mas vou evitar pedir o direito de resposta, para consertar esta notícia. Mas divulgo aqui, para que todos meus amigos fiquem sabendo da pré-candidatura!”, escreveu ao corrigir uma nota jornalística.
O PM aposentado assinou recentemente a filiação ao PTB de Roberto Jefferson, condenado no mensalão, a quem chama, carinhosamente, de “Bob Jeff” e a quem é só elogios: “patriota Roberto Jefferson” e “seu legado ninguém apaga no Brasil”, já disse sobre o ex-deputado.
Agora, sem riscos iminentes de prisão por causa do escândalo das rachadinhas, que foi praticamente enterrado por decisões dos tribunais superiores, e sem a tornozeleira eletrônica, retirada ainda no início do ano passado, Queiroz desfila pelas ruas do Rio de Janeiro em pré-campanha e é figura fácil em eventos da extrema-direita, reuniões políticas, comemorações de amigos, atos de de ex-policiais, encontro de motociclistas e até em reunião com moradores para ouvir suas demandas.
Nas andanças, tira fotos ao lado dos simpatizantes, sempre com um sorriso no rosto, acompanhado do sinal de vitória ou de positivo com as mãos. Tempos mais amenos do que quando se refugiou em Atibaia, onde foi preso preventivamente em junho de 2020, em um imóvel de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro. No mês seguinte, a prisão acabou convertida em domiciliar, que acabou revogada em março de 2021.
Quando não está nas ruas em algum evento, Queiroz se dedica a turbinar sua presença nas redes sociais. Criou um quadro em vídeo, o “Tribuna do Queiroz”, com direito a vinheta, parecida com a entrada de um telejornal. Um dia sim, outro também, trata de atrelar sua imagem à do presidente Jair Bolsonaro (PL), ainda que esse vínculo seja mais do que conhecido: “Tô com Bolsonaro, tô com Queiroz”, escreveu em uma montagem em que aparece ao lado do presidente. Apesar das tentativas de se popularizar entre os bolsonaristas, o ex-assessor ainda “patina” nas redes sociais, com poucos seguidores, especialmente no Twitter, onde o clã Bolsonaro tem milhões deles.
O ex-assessor parlamentar entrou no Twitter em fevereiro deste ano e tinha apenas pouco mais de 150 seguidores até a última terça-feira (12/4) – boa parte são jornalistas interessados nos passos daquele que foi apontado pelo Ministério Público do Rio, antes de as investigações naufragarem, como o operador da “rachadinha” no gabinete do filho Zero Um, Flávio Bolsonaro. No Instagram, o ex-assessor tinha, também até a última terça-feira, menos de 1,5 mil seguidores. Nas duas redes sociais, não é seguido nem por Bolsonaro nem por nenhum dos filhos do presidente.
Assim como os membros políticos do clã, Queiroz também criou seu próprio canal no Telegram, que, agora, tem pouco mais de 100 pessoas. O ex-assessor também desenvolveu um formulário em que convoca os eleitores para o “time dos amigos do Queiroz” e no qual os simpatizantes deixam alguns dados pessoais. No texto de apresentação, diz que sua “PRINCIPAL característica é a LEALDADE” – assim, em letras garrafais – e que “soldado nenhum fica pra trás”.
Por não ter exposto nada publicamente contra Flávio Bolsonaro – e muito menos contra o presidente – durante o período de maior pressão na investigação das “rachadinhas”, Queiroz é tido como leal pelo clã e, por tabela, pelos bolsonaristas. E é nisso que se baseia sua estratégia eleitoral, vista em diversas postagens. Em uma delas, ele provoca o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro (União Brasil). O questionamento é: “quem terá mais votos?”. Ao lado da imagem de Queiroz aparece a palavra lealdade e, ao lado da foto de Moro, “trairagem”.
Sem citar nomes, o ex-assessor parlamentar se refere aos que se elegeram na onda bolsonarista e que, agora, não são mais aliados ao presidente, como “traíras”. Em uma postagem em que aparece ao lado do mandatário, Queiroz escreveu: “Vamos surfar na onda Bolsonaro de novo? Mas agora a prancha é só para o raiz. Vacilão e traíra vai morrer na praia!”.
Quem conhece o ex-assessor sabe que essa é exatamente a forma de falar e o tipo de expressão que lhe é peculiar. Um jeito escrachado já distante do “mineirês” de Belo Horizonte, onde o ex-assessor nasceu. Queiroz veio para o Rio de Janeiro para ser paraquedista do Exército na década de 1980 e foi aí que conheceu Bolsonaro, também “PQD”, como chamam, que era de uma turma mais avançada.
Apesar de mirar contra o que chama de “traíras”, o alvo preferencial das críticas de Queiroz é outro: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário de Bolsonaro na corrida presidencial. O ex-assessor publica desde memes do petista até ofensas contra ele – “ladrão” é a preferida delas.
Com frequência, critica outros petistas e reclama até de “assalto aos cofres públicos”: “Que moral você tem como PETISTA no (sic) pra falar algo sobre política? Já não basta os 16 anos de PURO ASSALTO aos cofres públicos que seu partido promoveu? Me poupe, se poupe, nos poupe, seu estúpido!”, escreveu sobre Fernando Lucena, ex-vereador de Natal que, recentemente, se desfiliou do PT.
‘Capitão’ Adriano
Recentemente, uma das postagens de Queiroz repercutiu na imprensa. Foi quando falou sobre o capitão – e frisou duas vezes a patente do amigo – Adriano da Nóbrega, morto pela polícia em fevereiro de 2020 e acusado de comandar a maior milícia do Rio de Janeiro. Adriano foi companheiro de Queiroz na Polícia Militar e sua mulher e sua mãe foram empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, ambas suspeitas de serem funcionárias fantasmas.
“Eu recebi uma ligação do capitão Adriano, capitão Adriano, no dia 24 de dezembro de 2019, onde ele me relatou que houve uma reunião dentro do Palácio Guanabara, que ficou acertado que não era para ele ser preso, e sim executado, o que aconteceu em fevereiro”, afirmou Queiroz. “O que a irmã dele chorando, angustiada, relata para a sua tia, ela confunde palácio com Planalto”, completou.
Áudio divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo havia mostrado que a irmã de Adriano havia acusado o Planalto de trocar cargos pela morte do miliciano. Nem a repercussão do tema e a menção de sua postagem em diversos sites fez Queiroz ganhar mais seguidores.
Queiroz já falou de Adriano nas redes sociais e até mesmo de desdobramentos das investigações da “rachadinha” – quando a notícia lhe favorecia.
“Pouco a pouco a verdade vai aparecendo, as narrativas vão sendo desconstruídas. Deus sabe de tudo! Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!”, postou ele junto com o link de uma notícia de que o MP havia devolvido o celular apreendido de sua mulher, Márcia Aguiar.
Entre manifestações assim e fotos em que faz sinal de arma com as mãos, Queiroz escreveu em uma de suas postagens mais recentes que “Foi dada a largada!! Conto com cada um de vocês! Vamos juntos!!!”. A corrida eleitoral, que poderá render o foro privilegiado a Queiroz, já começou.