Iago Bolívar

Em declínio na repercussão digital e estacionado na média das pesquisas, <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/pablo-marcal">Pablo Marçal</a> (PRTB) prometera a “maior baixaria de todos os tempos” antes do debate da TV Cultura. O objetivo era claro: <a href="https://www.jota.info/ex-coach-influenciador-e-azarao-quem-e-pablo-marcal-candidato-a-prefeitura-de-sao-paulo">voltar a ser o centro das atenções em uma disputa</a> na qual, sem tempo de TV, estava sendo escanteado. A provocação a Datena e a agressão subsequente surtiram parte do efeito desejado: ele voltou a ser manchete, as buscas no Google por seu nome tiveram novo salto e os comentários sobre ele tomaram as redes. Mas, nas 12 primeiras horas após o incidente, Marçal teve de modular a mensagem em seus perfis, reagindo a uma repercussão mista em que não tinha vantagem clara.
No primeiro momento, as redes de Marçal oscilaram entre cantar vitória de forma irônica e comparar a agressão às tentativas de homicídio contra Trump e Bolsonaro. Os posts funcionaram na prática como uma espécie de Teste A/B da reação do público, que comprou a abordagem bem-humorada e se dividiu sobre a conveniência de colocar no mesmo patamar o ataque com a cadeira à facada e ao tiro contra os ex-presidentes.
<h3><a href="https://portal.jota.info/produtos/poder">Tenha acesso ao JOTA PRO Poder, uma plataforma de monitoramento político e regulatório  com informações de bastidores que oferece mais transparência e previsibilidade para empresas. Conheça!</a></h3>
Logo depois, um vídeo dramático gravado em uma ambulância passou a ideia de emergência e risco de vida, com reação imediata negativa de parte relevante dos perfis de direita. ”Encenação”, “mentira” e “teatro” foram termos usados dos dois lados do espectro político. Imagens divulgadas sobre os momentos seguintes ao ataque reforçaram nas redes a ideia de exagero, ao mostrar Marçal de pé, provocando Datena e depois voltando ao púlpito.
Nos grupos de direita, houve reclamações sobre a comparação com Bolsonaro e uma reação calcada em memes que diluiu o caráter dramático do episódio. Exatamente o tom irônico das redes em geral, especialmente no Threads (com presença relevante da direita) e no Bluesky (ainda com maioria de esquerda).
Marçal, que na madrugada postara vídeo em que um médico fala de dano pequeno a uma costela, adaptou-se pela manhã: gravou vídeo ironizando o incidente. “Foi só um esbarrão, uma fraturazinha… segue o jogo”. Depois, focou na cobertura da imprensa e na reação dos outros candidatos, pela falta de “solidariedade” a ele.
A oscilação entre seriedade e zoeira, entre mostrar a força de “entrar na mente” dos adversários e se posicionar como vítima, deixa Marçal em um meio de caminho, cercado de memes de um lado e de outro e sem um sentido claro. 
O pastor Silas Malafaia, que tem feito uma série de vídeos contra Marçal, usou a reação dúbia para voltar a criticar o candidato, a quem chama de “palhaço manipulador”.
“Repudiamos o ato de Datena, mas a farsa que ele monta pra tirar proveito é uma vergonha e um deboche com a gravidade do que fizeram com Bolsonaro… Deus tenha misericórdia do povo de São Paulo e os livre desse farsante e psicopata.”
Do outro lado, as buscas sobre Datena seguem maiores que as buscas por Marçal, e as publicações sobre o tema nas redes abertas já perderam o tom eleitoral e se fundiram na rede de memes e derivações irônicas.
Para Marçal, essa repercussão testa os limites da aposta em que toda publicidade é boa publicidade. Até agora, ele conseguiu voltar ao centro das atenções, mas dividindo o foco com Datena, não com Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, em uma polarização esvaziada de caráter ideológico ou até mesmo político.
<h3><a href="https://conteudo.jota.info/marketing-lp-newsletter-ultimas-noticias">Assine gratuitamente a newsletter Últimas Notícias do JOTA e receba as principais notícias jurídicas e políticas diariamente no seu email</a></h3>
A velocidade dos ciclos das redes, que esvaziou rapidamente até mesmo o impacto do tiro em Trump, em julho, também desafia a centralidade do incidente do debate ao longo das próximas semanas.

Marçal

https://images.jota.info/wp-content/uploads/2021/09/copy-of-jota-logo-high-cmyk.jpeg

JOTA

Repercussão testa os limites da aposta em que toda publicidade é boa publicidade

Divisão nas redes enfraquece estratégia de Marçal de comparar cadeirada à facada em Bolsonaro

Repercussão testa os limites da aposta em que toda publicidade é boa publicidade